Alfonso desce batendo a porta do carro e toca o interfone. Não tinha levado as chaves. Nem imaginava que iria para o sítio da família.
Não demora muito, um homem simples, bem educado, aperta forte a mão de Alfonso com um enorme sorriso. Alfonso volta ao carro e parte para dentro do local. A mulher calada, olha para trás, vendo o homem fechar o portão. E Alfonso segue caminho até a entrada casa principal, metade do terreno.
Um campo enorme, lagos, animais ao longe: cavalos, bois e vacas, patos e gansos... Ele para na porta da casa e rapidamente sai, abrindo a porta do carro para ela. Ela se encolhe, temendo que ele fosse machucá-la, mas ao contrário, pega delicadamente em sua mão:
- Vem. – ele pede. Ela teme, mas ele a tira do carro e a leva para dentro da casa pela mão.
- Preciso ir ao banheiro... – ela fala pela primeira vez sem choro nem grito, mas ainda temerosa.
- Por aqui. - e a leva até um quarto. Ao ver a cama de casal, ela estremece. O que ele faria com ela? O que queria dela? Alfonso abre a porta da suíte: - Pode usar aí. E não saia do quarto.
Ela entra no banheiro e Alfonso sai do quarto.
O caseiro chama a mulher que estendia roupa:
- O patrão chegou! Quando você arrumou a casa lá?
- Dei uma limpeza onti. – ela responde secando as mãos no avental - Vamos lá.
- Ele veio sozinho?
- Não. Está com uma mulher, eu vi no carro. Só que ele desceu rápido pra casa.
Alfonso já estava em pé no meio da sala, quando o caseiro abre a porta da casa grande com a mulher:
- Seja bem-vindo, patrão.
- Oi patrão, como o senhor está? - a mulher do caseiro também a cumprimenta.
- Bem, Maria. E você? As crianças?
- Todos bem, graças a Deus. Os dois maiores estão na escola. Javier foi prender os cachorros. – Maria responde.
- E veio passar uma temporada, patrão? – o caseiro pergunta.
- Acho que sim, Pedro. Passarei uns tempos aqui. Minha filha precisa respirar ares mais puros.
- Ah então aqui é o lugar certo!
- Faz um tempão que não aparecem aqui. Também depois de tudo que aconteceu, eu lamento, patrão. – Maria diz e se arrepende de ter tocado no assunto - Mas é bom esquecer aqui na tranquilidade...
Alfonso estava tenso, sabia que aquela mulher não lhe obedeceria, como uma guerreira sairia do quarto aos gritos que fora sequestrada e ele não podia deixar que seus caseiros se assustassem assim, por isso interrompe Maria:
- Eu preciso dizer algo importante. Antes, preciso das chaves dos quartos. Vim correndo, deixei as chaves em casa.
- Sem problemas, patrão. – Pedro, carismático, abre um sorriso, como sempre fazia em tudo que dizia.
- Outra coisa. Eu trouxe uma pessoa. Peço que vocês não se assustem, mas essa pessoa...
E a mulher no quarto já saíra do banheiro e sem pensar duas vezes, abre a porta do quarto e sai gritando:
- Por favor, me ajudem! Ele me sequestrou!
O casal de caseiros fica imóvel, assustados. Alfonso, calmo, revira os olhos:
- Por favor, me espere no quarto.
A mulher grita: Nunca!! Por favor, me ajudem! - e pensa um pouco - Peraí, quem são vocês? Estão com ele?!
O casal só tinha cara de espanto. Alfonso lhes pede:
- Por favor, nos dê licença. E traga a chave.
E o casal, mudo, espantado, se retira da casa. Assim que saem, Alfonso questiona com Nina:
- Por que você fez isso? Não disse pra ficar no quarto? - ele tenta se aproximar dela, que foge dele.
Amedrontada pede: Não, não chega perto de mim! - e corre dele pela sala, dando a volta no sofá, na mesinha de centro...
Alfonso a impede de passar pela cozinha, se entrasse, ela pegaria uma faca e não hesitaria em acertá-lo. Ele se afasta para lá e ela então vai em direção à porta da casa, mas ele a envolve e a joga por cima do ombro, carregando para o andar de cima. Ela lhe soca as costas, lhe chuta a barriga com o joelho, se esperneando em seus braços, dificultando de subir as escadas com ela, mas ele ainda era mais forte:
- Dá pra parar?- ele pede. Ela não obedecia e isso o irritava. Ele abre a porta de um dos quartos e ela grita mais, como se fosse para o abate. A coloca sobre a cama e ela corre para a cabeceira, acuada. Suando, seus cabelos alvoroçados e seus olhos azuis brilhando espantados:
- Por favor, não. - ela suplica. Sua feição apreensiva faz o coração de Alfonso bater mais acelerado.
Ele encosta a porta e de pé lhe diz mansamente: - Eu não vou lhe fazer mal.
Mas ela não acreditava. Sem gritar, seus olhos derramam lágrimas que ela tenta secar mas caem sem seu controle: - Então por que me trouxe pra cá? Eu não tenho dinheiro, não tenho nada!
Alfonso senta na beirada da cama, lhe estica a mão para um afago, mas ela se encolhe.
- Quem é você? – ele pergunta novamente.
Ela nada responde, seca as lágrimas sem encará-lo
.- Você vive com quem? – ele insiste. A mulher apenas seca o rosto sem encará-lo - Nina... - um nome que ele não não acreditava - Você mora nas ruas?
As lágrimas voltam a rolar no rosto dela . Alfonso se levanta: Ok, quando quiser me falar, estarei aqui. Mas se alguém sentir sua falta e chamar a polícia eu digo que você fugiu e se refugiou aqui, hein.
Ela, de cabeça baixa, abraça os joelhos, numa posição infantil de criança manhosa.
- Você pediu isso. - ele esperava uma resposta, nada. - Se bem que uma mendiga igual você não deve ter família.
Não era difícil deduzir isso, ao observá-la agora mais detalhadamente: uma camisa de malha encardida, ao menos dois números maior que o dela, uma calça jeans muito comprida e também larga, além de desbotada. Um chinelo tão gasto, as unhas descuidadas. Tão diferente da sempre exuberante e vaidosa Anahí, mas ao mesmo tempo o mesmo rosto, a mesma feição, tamanho... e a mesma cicatriz na mão esquerda!!
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Nostalgia
Mystery / Thriller"Marido é principal suspeito no desaparecimento de gestante: Com novas investigações, para a polícia, o principal suspeito no sumiço de Anahí Herrera é seu marido. 'Ele foi o último que a viu no dia, mas falou com ela por telefone e depois disso a m...