Somente palavras sangram

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- Lili - Escuto a voz baixa porém firme do Senhor Evans assim que eu passo pela porta da sua sala e não faço questão de me virar - Senhorita Reinhart.

Brie está vindo na minha direção, está com o cenho franzido e eu respiro fundo colocando as mãos no meu rosto para limpar as lágrimas, ela faz com que eu tenha que parar e eu acabo me virando, encontrando o Senhor Evans mais próximo e a porta da sua sala ainda está aberta, isso faz com que comecemos a chamar a atenção das pessoas mais próximas.

- Eu não sabia que você estava na minha sala e nem no meu banheiro - Senhor Evans diz rapidamente ao tentar se justificar, ele diz ainda mais baixo e eu balanço a cabeça negando - Você interpretou errado. Volte para a sala e vamos conversar.

- Você sempre tentando ganhar nas palavras certas, não é Christopher? - Sussurro com desdém sorrindo fraco e encarando seus olhos azuis seriamente - Mas, tem a capacidade de perder pelo mesmo motivo. Eu não quero ouvir nada que venha de você, nesse momento.

- O que está acontecendo? - Brie diz ao parar do meu lado e olhando para nós dois.

- Eu vou embora - Murmuro enquanto Christopher me encara ainda mais sério, balança a cabeça devagar negando como se conseguisse me impedir de algo - Não? Vai permitir? - Acabo debochando ainda mais da situação mas eu me encontro ainda mais frustrada - Então me impede, Senhor Evans. Toque em mim, se aproxime mais... - Ergui a mão apontando para mim e depois para ele, já que estávamos em uma distância razoável e olhei ao redor rapidamente - Não vai, né? Talvez seja porque eu não sirvo para estar ao seu lado em público.

- Eu não sou esse homem! - Christopher diz seriamente e dando um passo à frente mas recuou. Só confirmou.

- É claro que não, você é ainda pior! - Murmuro entre dentes e me afasto por completo, me afasto dele e da Brie.

Caminho pelo corredor, algumas das outras secretarias estão nos olhando e outros funcionários que estavam circulando no andar, vou ainda mais depressa em direção ao elevador e aperto furiosamente o botão com ainda mais raiva. Sinto meu corpo ferver, eu queria gritar tanta coisa na cara do Senhor Evans e colocar para fora tudo o que eu pensava. E olha só, eu sempre estivesse certa no fundo. Eu não sirvo para o Senhor Evans, eu não sirvo para pisar no mesmo mundo que o dele, eu não sirvo para as aparências, nunca seria público porque ele se diverte comigo às escondidas, aonde é confortável e aonde ninguém é capaz de nos ver. É uma diversão momentânea, eu estou suprindo alguma parte fodida daquele cara!

Entro no elevador e vou diretamente para o canto me encolhendo entre as pessoas, as lágrimas não param de cair e eu sinto meu coração doer. Eu desejava, eu esperava tanto a oportunidade de estar ao lado dele e quando na verdade, ele está fugindo de mim. Aqueles sentimentos eram reais, principalmente no apartamento do Sebastian naquele jantar ou em qualquer outro momento que estávamos juntos em público, a falta do seu olhar, a forma que ele se esquiva inconscientemente e me faz se sentir sozinha, a carta fora do baralho, eu sirvo na cama, em quatro paredes, às escondidas eu pensei que podia conhecer verdadeiramente aquele homem mas ao contrário eu também tenho reposta do seu caráter.

Eu queria odiá-lo! Eu queria tanto sentir ódio invés de decepção, de tristeza, insegurança e frustração. Era impossível. Porque doía ainda mais por saber que eu gosto do Senhor Evans muito mais do que eu imaginava, porque é paixão e não só desejo, em tantas noites que já passamos juntos e o medo de me declarar da forma errada, quando eu sempre quis dizer que a parte mais incrível depois de tudo era poder estar nos seus braços e sentir o seu calor. Ele não é apaixonado por mim. Ele não gosta de mim. Até deve gostar, pouco. O pouco para me ter como satisfação. Enquanto eu, sou capaz de querer o amar.

- Lili?! - Sebastian diz assim que eu saio do elevador e esbarro em seu corpo, ele segura os braços enquanto as pessoas seguem saindo e reclamando baixo do conflito, ergo meu olhar e Sebastian me encara confuso - Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Você precisa de ajuda?!

- Não. Estou indo embora, licença Sebastian - Murmurei em resposta e me livrando das suas mãos.

Caminho pelo grande saguão, vou ainda mais rápido para a saída e sem perder mais nenhum tempo, saio caminhando em nenhuma direção e perdida. Não sei se devo ir para casa, se eu volto para a Mansão Evans e de como eu ainda preciso encarar o Christopher, mais uma vez perder esse emprego pelo erro de deitar na mesma cama com esse homem e criar expectativas impossíveis. O medo de decepcionar outra vez aquelas crianças, eu sinto ainda mais vontade de gritar ao me frustrar e perceber o quanto eu fui burra em acreditar que isso poderia dar certo. Eu quis que desse certo. Senhor Evans nunca optou por essa escolha.

Eu não me encaixo, eu estou tentando ocupar lugares que não foram feitos para mim.

- Ei, Lili! - Escuto uma voz familiar e me viro na calçada, vejo o Noah correndo na minha direção e tirando os fones de ouvido, ele estava com roupas de treino e olho para os lados, eu já estava próxima de um dos parques que corríamos antes e aonde o Noah se exercitava - Tudo bem? Eu estou te gritando e você não me escuta! - Ele para na minha frente e eu coloco a mão na minha boca após tentar limpar minhas lágrimas - O que houve? Por que não está trabalhando? O que aconteceu?!

- Eu estava na empresa do Senhor Evans... - Murmuro em resposta e balanço a cabeça negando, eu não consigo explicar e Noah acaba me abraçando, eu aceito e retribuo o seu abraço - É diferente agora, Noah - Sussurro em lágrimas - Eu me senti invisível naquela sexta-feira e ele mesmo me colocou naquele lugar, esse lugar insignificante, eu ouvi da sua boca agora.

- Ele não merece você - Noah murmurou me abraçando ainda mais forte e eu chorei ainda mais.

Eu aprendi uma vez que amar pode machucar e não deveria ser assim, não deve ser assim. Eu entendo que nem tudo são flores e corações, lidamos com seres humanos imperfeitos como nós e por isso o atrito, eu só preciso entender essas diferenças e aceitar quem somos. Somos diferentes e distantes. Eu sei que existe algo na gravidade dessa realidade, eu sei que é real porque é a forma que eu me sinto e me sentia ao lado do Senhor Evans, um mundo particular e inacessível foi construído entre nós. Isso machuca. Tudo bem, eu aceito a dor. Porque isso só mostra o quão viva estou e sou capaz de amar. As palavras cravaram no meu coração e no fim, eu sempre estive certa em relação aos meus sentimentos e vulnerabilidade.

The NannyOnde histórias criam vida. Descubra agora