The Nanny

Na vida real, as pessoas se apaixonam e depois terminam

Nessa manhã de sábado, minha mãe optou por um café na padaria e eu me senti um pouco mais disposta, a calmaria da minha mãe me protegia e me traz leveza. Escolhemos ir até o shopping, eu comprei algumas roupas mais sociais para caso o trabalho aconteça de verdade e isso me trouxe um pequeno misto de alegria, poder ter esses momentos com a minha mãe me faz sentir saudade de quando eu era mais nova e eu facilmente congelaria esse sentimento, um simples momento se tornou ainda mais importante no dia de hoje.

Voltamos para o nosso apartamento com algumas risadas, assim que entramos no elevador ao invés da minha mãe apertar o botão para o décimo andar, o nosso andar, ela aperta o botão do estacionamento e eu franzi o cenho por ver o elevador descendo.

- Quinta-feira eu preparei uma surpresa, ontem você estava muito abalada e eu respeitei a suas emoções, eu só quero manter um pouco esse sorriso no rosto - Mamãe diz nitidamente e eu arregalo os olhos.

- É isso que eu estou pensando? - Pergunto confusa e mamãe balança a cabeça assentindo ao rir da minha cara, as portas do elevador se abrem e saímos juntas - Mãe... Céus!

Ela caminhou na minha frente ainda rindo, estava olhando para cada vaga no estacionamento e fazendo ela rir mais ao me ver desesperada, ela colocou as sacolas no chão ao ficar na frente de um carro branco, abriu a sua bolsa e retirou uma chave, eu coloquei as minhas sacolas no chão e imediatamente coloquei as mãos na boca. Contornei o carro fazendo ela rir ainda mais quando na verdade eu já estava prestes a chorar, era o último modelo Toyota Corolla, eu soltei um grito assim que ela se aproximou de mim e eu a abracei forte.

- Investi o resto da grana que separamos para essa conquista, agora finalmente você vai honrar aquela habilitação que foi o seu presente de 18 anos - Ela diz me fazendo rir junto e eu a encaro completamente emocianada - Conseguimos.

- Eu ainda não estou acreditando, mãe! - Murmuro perplexa e ela sorri ainda mais ao me passar a chave - Isso é surreal. É incrível. Eu estou feliz, eu juro que eu estou feliz.

- Acho que eu deveria ter mostrado isso antes de sairmos, poderíamos ter passeado e o dia seria ainda mais lindo! - Mamãe diz e eu balanço a cabeça assentindo rindo - É que você ainda estava com um olhar tão tristinho, eu queria poder segurar o seu coração mais um pouco para te deixar mais aliviada. Agora, esse momento está sendo mais lindo do que eu imaginei.

- Eu nem consigo descrever a sensação! - Respondo me aproximando novamente do carro e abraçando ele fazendo a minha mãe rir ainda mais - É claro que a gente vai sair para passear, vamos guardar nossas compras e dar uma volta pela cidade.

Era nitidamente surreal, eu abri a porta do carro sem acreditar, passei as mãos pelo banco escuro de couro e olhava para a minha mãe incrédula. Era perfeito. Em uma euforia, corremos para levar todas as nossas compras para o apartamento e poder sair novamente, dessa vez dirigindo e isso me fazia rir de tamanha empolgação. Segunda-feira eu começo no escritório da Kerry Washington, em poucos dias eu início o primeiro módulo iniciativo em Direito e eu não poderia estar mais feliz, olhar para todas essas coisas e respirar fundo, saber que no fim eu sou alguém completa.

Enquanto espero a minha mãe sair do seu quarto, escuto o meu celular vibrar e tocar, abro a minha bolsa e o procuro, assim que eu o encontro vejo o número da Mansão Evans na tela e respiro fundo antes de atender.

- Alô?! - Murmuro ao atender.

- Oi, Lili - Escuto a voz do Derek - Isso é um teste - Ele diz e eu suspiro aliviada, acabo rindo baixinho junto com ele e sorrio com mais calma - Hoje é sábado e eu não encontrei você.

- Derek, eu fui embora ontem - Disse rindo e ele acaba bufando - Eu também estou com saudade.

- Eu sei - Ele murmura - É que o sentimento parece ser como quem nunca mais irá voltar - Ele completa ainda mais baixinho - O que me faz questionar do porquê, você não gosta do papai?

- A vida real é mais complicada que sentimentos, não vivemos por aquilo que gostamos - Sussurro franzindo o cenho e me sentando no sofá - Vivemos por aquilo que escolhemos, por aquilo que fazemos - Suspiro - Não basta sentir, temos que tomar atitudes.

- Meu pai não tomou nenhuma atitude, não é? - Derek pergunta sem graça e eu acabo dando um sorriso triste - Desculpe. É que está tudo esquisito, da mesma maneira quando você foi embora pela primeira vez.

- Ainda vamos nos encontrar e de uma maneira diferente, sabia? - Pergunto baixinho - Nada de babá. Seremos amigos. Isso me faz feliz só de olhar e imaginar dessa maneira, você nem imagina.

- Eu gosto da Lili babá - Derek diz e eu reviro os olhos mas acabo rindo junto com ele - Você não é só uma amiga, você sabe - Ele diz seguro o riso e eu paro de rir rapidamente - Gosto da sua amizade e da sua presença.

- Estarei com você - Sorrio fraco - E tenho uma novidade, agora eu tenho um carro! - Murmuro com total empolgação - Isso quer dizer que, eu vou sequestrar todos vocês.

- Está falando sério?! - Derek pergunta ainda mais animado do que eu e me fazendo rir.

- Qualquer dia eu faço uma surpresa! - Respondo e percebo a aproximação da minha mãe - Agora eu tenho um pequeno compromisso.

- Eu vou para a casa de um amigo - Derek responde - Só liguei para certificar o Bradley que você não iria esquecer, ele disse que você tem memória de peixe.

- Eu amo vocês - Disse rindo enquanto as lágrimas caíam.

- Nós te amamos, Lili - Ele murmura - Até logo.

- Até logo, pestinha! - Sussurro e ele desliga.

Eu não sei se faz tanto sentindo, machuca saber que eu estou longe. Passo a mão pelo meu rosto enquanto minha mãe me olha ainda mais séria e suspiro balançando a cabeça para certificar que eu estou bem, ergo as chaves do carro e dou um sorriso sem jeito. Eu não faço ideia do que essas crianças fizeram comigo, eu não sei se é certo pensar assim, mas sinto que elas são tão minhas. De um maneira diferente e simples. A vida real é insana. Não escolhemos quem amar. Também não escolhemos nos separar. Só é a vida fazendo o trabalho dela.