CAPÍTULO 58

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•Carson Axel•

Bato a porta do carro com força e sinto os olhares dos capangas do meu pai, enquanto atravesso o gramado até a porta da frente da mansão.

Adentro a sala de estar e vago o local com os olhos, encontrado Ben no balcão da cozinha. Ele nota minha presença e se levanta rapidamente, caminhando até mim.

_ O que caralhos faz aqui...? - ele questiona olhando preocupado para a escada a cima.

O Diabo deveria estar lá!

_ Onde ele está? - pergunto - Está no escritório, não é? - presumo, e tiro minha arma no cós da calça, me direcionando até a escadaria. No entanto, Ben agarra a gola da minha camisa e me puxa para trás. Luto contra seu aperto, enquanto ele me arrasta pela cozinha, até o jardim dos fundos.

_ O que pensa que está fazendo? - ele exclama me soltando e encarando a arma indignado.

_ Eu vim matá-lo, então saia do meu caminho... - tento passar novamente, mas ele me empurra para trás, se posicionando em frente a porta.

_ O que deu em você? Vai colocar tudo a perder...

_ Eu não ligo! - berro e Ben olha para trás, provavelmente preocupada que meu pai nos ouça - Eu não me importo com merda nenhuma! Eu apenas o quero morto, caralho! - cerro meus punhos e abaixo o olhar ao perceber que meus olhos marejavam. Pisco algumas vezes, afastando as lágrimas. Eram lágrimas de raiva. Encaro Ben sério e dou um passo em sua direção. - Você sabia? - ele parece confuso - Diga a verdade, você sabia que ele matou minha mãe? - engulo em seco quando Ben abre sua boca e depois a fecha, desviando seu olhar do meu. Eu tinha minha resposta. - Porra! - chuto o gramado, me agachando com o rosto entre minha mãos. Dessa vez não me importo em afastar as lágrimas.

Caralho... Eu estava tão irritado. Tão magoado. Com tudo. Com todos...

Com meu pai. Como ele pôde matá-la? Como ele pôde esconder isso de mim por tantos anos? Tudo, absolutamente tudo que havia acontecido, foi culpa dele!

Com Madison. Ela sabia disso e escondeu de mim por todo esse tempo? Nessas duas semanas desde os acontecimentos na França, ela não pensou em alguma forma de me contar? Ela sabia o verdadeiro modo como minha mãe morreu e seu culpado e, mesmo assim, escondeu de mim!

Com Ben. Por quanto tempo ele sabia disso? Como ele nunca pensou em me contar? Talvez eu não devia estar tão surpreso com ele esconder mais uma coisa de mim, na verdade...

E finalmente, comigo. Como eu pude ser tão idiota? Meu próprio pai e meu próprio irmão mentiram pra mim, por todos esses anos, sobre tantas coisas. O Diabo sempre me manipulou para conseguir o que queria de mim: os trabalhos; os carregamentos; os assassinatos. Todas as ameaças que ele me fez. Tudo que tirou de mim. Tudo o que tentou tirar... Tudo que fez a Madison.

Pra mim já deu!

_ E-eu nunca tive certeza... - Ben sussurra, tocando meu ombro. Desvio de seu toque e me levanto, guardando a arma.

_ A quanto tempo? - o corto, mordendo minha bochecha. Ben engole em seco e da de ombros.

_ Desde quando entrei na S.W.A.T. - ele confessa - Eles analisavam o caso há muitos anos e o carro em que ela foi encontrada, estava com o freio danificado...

_ Ele a matou. - afirmo, uma última vez, para mim. - Eu quero destruí-lo! - anuncio - Eu quero arruiná-lo! - havia veneno em minha boca e uma sede incansável por vingança. Porém eu permanecia calmo, sem nenhuma expressão. - Cansei de esperar... Eu quero agir!

_ Nós vamos! - ele me assegura - Já tenho tudo planejado. Você só precisa dizer sim à sua parte do plano...

_ Sim.

•••


A última vez que a casa de Charlotte esteve tão cheia, foi na última festa. Porém, nunca os convidados foram tantos tiras. Ben se reunia na mesa da sala com seus colegas da S.W.A.T., enquanto dois agentes conversavam comigo e com Charlotte sobre nossos contratos de anistia.

_ E a minha mãe? O que vai acontecer com ela? - a morena pergunta, encarando as cláusulas. Desde que Ben me contou que era da polícia, venho me encontrando com Charlotte. No começo, estávamos desconfiados demais para acreditar em qualquer coisa que Ben dizia. Então, passamos horas pesquisando e hackeando sistemas de seguranças. Apenas nós dois. Não podíamos confiar em mais ninguém da equipe. Acabou que Ben estava dizendo a verdade. Ele havia sido chamado para a S.W.A.T. três anos atrás e tinha informações não só sobre meu pai, mas sobre a mãe de Charlotte e, é claro, a gangue de André.

Charlotte e eu discutimos sobre entregar nossos pais. É claro que eu não tinha muitas dúvidas quanto a isso, já que meu pai e eu nunca fomos nada. Mas, ela não sabia o que fazer em relação a sua mãe. Ao contrário de mim, Charlotte gostava de fazer parte dos negócios e tinha uma boa relação com sua família.

_ Se você aceitar o acordo, ela pode ser imunizada. Podemos escondê-la em outro país para que as autoridades não a encontrem, ou ela pode pegar dois anos de pena e prestar serviços comunitários por mais cinco. - Charlotte ri com deboche.

_ Serviço comunitário? Minha mãe iria preferir morrer... - ela murmura e eu rio de lado. - E se ela apenas mudasse de nome? - os agentes se entreolham.

_ Hipoteticamente, poderiamos conseguir isso para vocês. Hipoteticamente, é claro! - a mulher grisalha com um longo pescoço diz.

_ E todas as ações no meu nome, não serão confiscadas, certo? - eles assentem. - Por mim tudo bem! - ela se inclina, assinando o contrato.

_ Vocês vão se certificar de que ele fique preso pelo resto da vida, não vão? Sem fiança... Sem tratamento especial... Sem fuga... - questiono girando a caneta entre meus dedos.

_ Sim. Seu pai não verá mais a luz do dia, Carson. E é claro, as ações no seu nome, também permanecerão intactas! - mordo meu lábio, assentindo. Meus olhos vagam até Ben, do outro lado da sala e ele concorda. Assino o documento.

_ Bom, vamos mandar o Diabo para o inferno! - murmuro.

•••


{Dois dias depois}

A operação já estava em ação. Ontem à noite, meu pai pediu para um de seus homens se encontrar com um novo comprador. Porém, Ben organizou uma emboscada e eles foram pegos pela polícia. Hoje de manhã, Ben já havia recebido uma ligação furiosa do Diabo, que queria saber como os polícias descobriram sobre a entrega. É claro que Ben disse que não sabia de nada e que achava estranho terem os pegado justo em uma operação secreta. Meu pai desligou na hora.

_ Ele vai te ligar. - Ben avisa, se escorando na janela, acendendo um cigarro. Havia duas horas que o Diabo havia desligado a chamada com meu irmão e não tinha dado mais notícias.

_ Ainda acho que ele vai escolher você. - me sento no sofá do escritório de Charlotte, observando outros cinco agentes da S.W.A.T digitarem em seus computadores. O cômodo parecia um laboratório de hackers de filmes.

_ Quando ele ligar, aja naturalmente. - Ben me ignora, ainda citando o plano - A última pessoa que ele deve desconfiar é de você. - reviro os olhos, assentindo. Eu ainda achava difícil acreditar que meu pai escolheria pedir a minha ajuda, do que a de Ben. Ele sabia que eu o odiava e que odiava os negócios. E na cabeça dele, pelo menos, Ben o idolatrava.

O som do celular tocando ecoa e todos param o que estão fazendo para encararem. Me levanto do sofá e caminho até a mesinha, vendo o nome do Diabo na tela do meu telefone. Rio com deboche.

_ Ele é muito idiota!


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