Capítulo 18

125 16 8
                                    

Naquela manhã, enquanto levava Paulo para a escola, Diego conversou com o menino e frisou o quão importante era que ele contasse caso alguma coisa de ruim acontecesse no futuro durante o tempo que ele estivesse na escola.

– E isso não é nada errado, viu? Você pode confiar no Marcelo e eu. Nós vamos estar sempre aqui pra te proteger. – pelo retrovisor, via o menino concordar com gestos de cabeça com uma expressão animada.

Parou o carro em frente à escola e ajudou Paulo a pular para o banco da frente, onde o garoto lhe deu um abraço apertado e se despediu. Diego viu uma menina da altura de Paulo se aproximar e dar tapinhas gentis no ombro do garoto. Devia ser Agatha.

E enquanto entrava na sala de aula, Paulo sorriu, pois pela primeira vez desde que se entendia por gente, estava se sentindo confiante, sabendo que o irmão e Marcelo iam dar apoio para ele, já que até então seu pai sempre dizia para ele engolir o choro e "enfrentar feito homem" e que "homem nunca pede ajuda".

***

As mães de Mayara não estavam muito bem de saúde, Joana pegou outro resfriado e Lola reclamava de um peso no peito e apesar da insistência da filha, nenhuma das duas aceitava ir ao médico. Por isso, Mayara se ofereceu para cuidar da loja de sabonetes durante o período da manhã, enquanto Paulo estava na escola.

Elas protestaram, dizendo que a moça tinha de se focar em encontrar um emprego na sua área de formação, mas May sabia que isso não seria fácil. O país estava com cada vez menos vagas disponíveis, menos ainda se contar as das áreas sociais, como era o caso dela, formada em pedagogia.

Na verdade, o Brasil estava indo de mal a pior com aquele crápula no poder e a cada novo absurdo que saia na tevê e nos jornais, ela sentia que ia ter uma crise de ansiedade forte o bastante para fazê-la ser internada. Mas, sempre repetia para si mesma de que não podia se permitir isso, ela tinha suas mães para cuidar, além de todas as pessoas que ficariam preocupadas com ela. No entanto, estava ficando difícil se manter firme vivendo naquele momento da história do país.

Sua atenção foi atraída pelo sininho em cima da porta, que tocava toda vez que alguém entrava na loja. Respirou fundo e colocou seu melhor sorriso de vendas no rosto. O dia estava começando.

***

Ele se remexeu na cama e olhou o rádio relógio na mesa de cabeceira. Marcava 7h15 da manhã. Ao esticar o braço para o lado, descobriu que Francisco não estava deitado ao seu lado e quando ouviu sons de tilintar na cozinha, se sentiu tranquilo, ao saber que o namorado ainda estava em casa.

Ao olhar-se no espelho do banheiro, sentiu um embrulho no estômago. Estava com olheiras feias e olhos inchados e vermelhos. Tinha chorado até dormir no dia anterior e ao ver o resultado, sentiu um misto de raiva e vergonha.

Rumou para a pequena cozinha do apartamento, encontrando Francisco já vestido de terno e gravata, preparando alguma coisa no fogão. Joaquim continuava usando apenas uma camiseta grande e a roupa íntima.

– Bom dia. – murmurou meio deslocado enquanto se aproximava do namorado. O viu se virar e sorrir, o bigode escuro e farto elevando-se com os lábios, enquanto ele segurava um prato com alguma coisa.

– Oi, tá melhor? – concordou com um meneio de cabeça, enquanto sentava-se à mesa e via Francisco depositar um prato com omelete a sua frente. Aquele era um dos seus pratos favoritos para o café da manhã e o outro sabia disso.

– Desculpa por ontem... – murmurou enquanto cutucava a comida com o garfo, evitando olhar Francisco nos olhos. Ouviu a cadeira a sua frente ser puxada e viu o namorado depositar a caneca de café na mesa.

Lar é onde o coração estáOnde histórias criam vida. Descubra agora