No fim acabaram ficando em casa no feriado de carnaval e então, num piscar de olhos chegou Março. Era Domingo e naquele momento Diego estava fazendo as compras do mês no supermercado, com Paulo andando ao seu lado. O menino disse que estava "grande demais" para andar dentro do carrinho de compras, o que fez Diego rir por dentro, admirado com a maturidade do garoto, apesar de lá no fundo sentir uma pontada de preocupação.
Passavam por sob aquelas estruturas de metal que os supermercados fazem para expor os ovos de páscoa e não pode deixar de notar o assombro no rosto do menino conforme eles andavam pelo longo corredor formado pelos ovos de chocolate.
As coisas vinham indo bem, Paulo não estava tendo problemas com as lições da escola e falava sempre dos amigos, Agatha e Luís, os quais Diego esperava conhecer no futuro. Ele e Marcelo tinham um bom retorno nos trabalhos e o relacionamento dos dois estava saudável. Às vezes saiam com Francisco e Joaquim ou com Mayara e Letícia. Tudo parecia estar indo muito bem.
Foi quando ao virar com o carrinho em um corredor, deu por falta do menino e ao voltar alguns passos, o viu parado sob uma grande quantidade de ovos, encarando-os de forma hipnótica.
– Paulo, vamos? – instigou enquanto afagava a cabeça do menino que permanecia estático olhando as embalagens multicoloridas acima. Diego ia comprar um ovo de páscoa para ele, mas não hoje, pois queria que fosse surpresa.
– Tá bom... – o menino murmurou chateado enquanto começava a andar, lançando olhares por sobre o ombro de tempo em tempo até o corredor sumir do seu campo de visão. Para animá-lo, Diego comprou um coelhinho de chocolate e disse para ser paciente e esperar que logo ele teria uma grande surpresa.
Ao chegarem em casa, Marcelo ajudou a descarregar as compras do carro e guardá-las nos armários, sob o olhar atento e curioso do menino que falou o tempo todo sobre o enorme corredor de ovos de páscoa, deixando claro que até aquele dia ele nunca havia visto algo parecido.
Quando Paulo foi tomar banho, Diego contou ao marido sobre o que o menino tinha feito no supermercado.
– Às vezes eu me pergunto quantas privações aquele escroto fazia o Paulo e a minha mãe passarem. – tomou um gole de água e então se sentou numa das banquetas ao redor do balcão, encarando Marcelo com um olhar frustrado.
– E eu não estou isentando ela não, a Beatriz teve culpa nisso tudo. – disse enquanto lançava um olhar para o corredor que ligava os cômodos. Jamais perdoaria a mãe pelo comportamento omisso com ele, mas não queria que o menino o ouvisse falando mal dela.
– É como se existissem duas dela, sabe? A que fingiu não ver que o marido me surrava todos os dias e não se importou quando eu fui embora e a do Paulo, que tentou protegê-los das agressões. Às vezes eu sinto um pouco de inveja das memórias que ele tem dela. Você acha que eu sou mesquinho por falar isso? – perguntou enquanto balançava as pernas, batendo com os calcanhares descalços na estrutura metálica da banqueta.
– Não, eu não acho que você seja mesquinho. É compreensível você se sentir traído por ela, afinal você estava desamparado e precisando de apoio e ela deu as costas, mas acho bonito o jeito que você sempre confere se o Paulo não está ouvindo. – viu Diego descer da banqueta e sentar-se em uma cadeira a sua frente na mesa.
– Eu não quero estragar a memória que ele tem dela, sabe? A Beatriz foi uma péssima mãe pra mim, muito ruim mesmo, relapsa, omissa e todos os outros adjetivos negativos que puder existir, mas ela parece ter sido um pouco melhor pra ele e eu acho que o Paulo tem o direito de manter essa memória, de que ela foi uma boa mãe. – observou Diego morder o lábio inferior com força e quase o repreendeu de forma gentil, como sempre fazia, mas achou melhor deixar passar daquela vez.
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Lar é onde o coração está
RandomA vida de Diego mudou completamente quando ele recebeu uma ligação num Domingo de manhã, informando que sua mãe, com quem ele não falava há anos, faleceu e deixou a guarda de seu meio irmão caçula para ele. Com as únicas opções de aceitar o menino o...