Capítulo 31

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Do outro lado da cidade, naquele mesmo dia, Joaquim estava sendo entrevistado por Joana, a qual achou o rapaz simpático e comunicativo e após confirmar que ele tinha habilidades de fazer embrulhos e troco, resolveu contratá-lo para trabalhar na loja de sabonetes, já que Lola continuava tendo de fazer repouso e ela, tendo de ficar de olho para ver se a esposa não ia tentar fugir.

– Então meu rapaz, você começa amanhã. Aqui está a cópia das chaves da loja, ela abre as 10h00 e fecha as 19h00 de segunda a sexta-feira. E nos sábados abre das 10h00 as 14h00. Fechamos aos domingos e feriados. – falou Joana enquanto afofava os cabelos Black Power prateados com cuidado.

– Muito obrigado mais uma vez pela oportunidade, dona Joana. Prometo que não vou decepcioná-la. – Joaquim apertou a mão delicada da senhora, que sorriu simpática enquanto observava o rapaz sair da loja, indo falar com sua filha.

Mayara estava ao telefone e exibia uma expressão incomodada. Ao ver o loiro se aproximar, esboçou um sorriso nervoso e falou mais um pouco com a outra pessoa na linha e então desligou. Ele queria contar que tinha conseguido o emprego, mas a expressão no rosto da moça o intrigou.

– O que houve? – a ouviu contar sobre a situação na casa de Diego e Marcelo no dia anterior, como a avó paterna do menino apareceu lá e levou o garoto embora sob ameaças.

– O Marcelo disse que já conversou com a assistente social do caso do Paulo e ao que tudo indica, aquela mulher não vai poder ficar com ele em definitivo, mas, né... Burocracia. – ela suspirou cansada e apoiou-se na beirada da vitrine da loja de sabonetes, encarando o trânsito por alguns segundos, até se dar conta de que Joaquim tinha saído de dentro da loja.

– Mas e ai, como foi a entrevista? – o rapaz sorriu e contou que tinha conseguido a vaga, mas sentia-se meio chateado de falar sobre aquela conquista, após saber o que tinha acontecido com Diego e Marcelo no dia anterior. Sabia o quanto eles gostavam do menino e só podia imaginar o que estavam passando agora.

***

Estava no banco de trás do carro daquela mulher que dizia ser sua avó, mas da qual ele não se lembrava. Ela o assustava com uma expressão sempre irritada e seca, as mãos de dedos finos e esqueléticos causavam um arrepio ruim nele quando seguravam seu pulso. Paulo queria perguntar onde eles estavam indo, mas ficou com medo do que a mulher poderia responder.

Olhando pela janela, não reconheceu nada, com certeza estava longe da casa de Diego e isso o apavorava. Ele estava se segurando na promessa que o irmão fez de que ia buscá-lo em breve, mas havia aquela vozinha lá no fundo que dizia algo que falava coisas horríveis. Que Diego nunca iria vir buscá-lo e que ninguém o queria por perto, por isso ele estava com aquela mulher.

O carro parou com um solavanco em frente a um prédio enorme e encardido. Zulmira desceu e ao abrir a porta de trás, o puxou pelo pulso com violência, ordenando que andasse logo. Ele entrou pelas portas enormes de madeira e foi atingido no nariz pelo cheiro forte de produtos de limpeza.

– Agora sente ali e fique quieto que eu tenho coisas para fazer. – ouviu a mulher dizer enquanto apontava para uma fileira de cadeiras de plástico alinhadas próximas a parede. Ele a viu aproximar-se de um grupo de outras mulheres, todas com o mesmo comportamento estranho e seco e as ouviu se cumprimentarem "Olá, irmã!" e então, começou um falatório do qual Paulo não quis prestar atenção.

Sentando no chão, tirou o caderno e os lápis de cor da mochila e começou a desenhar. O chão estava frio, mas era mais confortável que a cadeira de plástico. De vez em quando ele erguia os olhos para ver onde a mulher estava. Ele se recusava a chamá-la de avó.

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