Capítulo 55

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Capitulo 55

Naquela noite, depois de ter deixado Mayara em casa, Diego resolveu que precisava conversar com Paulo sobre o comportamento agressivo que o menino vinha tendo nos últimos dias. Ele pediu apoio para Marcelo, o qual o acompanhou até o quarto do garoto, mas disse que não ia se manifestar.

No momento Paulo estava sentado no meio da cama abraçando o travesseiro enquanto olhava com uma expressão incomodada para um ponto qualquer na parede atrás de Diego. Ele se sentia com medo de levar uma bronca pela briga na escola de manhã, mas não queria demonstrar isso, então achou que fazer uma cara feia ajudaria.

— Paulo, a Mayara me contou que você brigou com aquele menino na escola outra vez. — o menino suspirou irritado e apertou ainda mais o travesseiro no meio dos braços, decidido a não responder e pela primeira vez em todo aquele tempo, sentindo raiva de Mayara por tê-lo dedurado.

— Eu entendo que você está chateado com o roubo da bicicleta e que esse menino te provoca na escola, mas a gente já tinha conversado sobre o que você deveria fazer se acontecesse algo parecido de novo e... — parou a frase no meio quando viu o garoto soltar o ar pela boca de forma brusca e irritada.

— Fala pra gente o que tá acontecendo. — e pela primeira vez desde que os dois entraram no quarto, o menino olhou para eles. Aqueles grandes olhos castanhos assustados que às vezes davam desespero em Diego, porque parecia que ele tinha sido o responsável por aquela expressão aterrorizada.

— Eu tou triste... E bravo! E com vontade de bater no Emmanuel até deixar ele desmaiado no chão. Não aguento mais ele me provocando todos os dias! E daí agora alguém entrou e roubou minha bicicleta e antes disso, minha mãe morreu! E daí antes disso ainda, meu pai morreu. Eu não gostava muito dele, ele era mau, mas ainda era meu pai. — lágrimas começaram a surgir nos olhos do garoto que passou a soluçar ofegante por entre as palavras.

— Tudo... Tudo que eu gosto... Some! Tudo que é bom pra mim vai embora! E eu não quero mais isso! Eu não quero... Mais perder... nada importante! — Diego trocou um olhar chocado com o marido, que colocou a mão sobre seu ombro esquerdo, apertando-o de leve em um incentivo para que falasse algo ao menino.

— Eu sinto muito que você esteja se sentindo assim, Paulo. E tem coisas que você disse, que nem eu e nem o Marcelo vamos poder trazer de volta. Mas a gente falou que vai te dar outra bicicleta em breve e eu vou na escola conversar com a diretora sobre esse menino, se você quiser. — viu a expressão do menino mudar de triste para apavorada e o ouviu dizer que ele não devia ir, quando perguntado o porque, Paulo revelou desanimado.

— Se você for lá, a diretora vai chamar a mãe dele, e daí o pai do Emmanuel vai bater nele e quando ele voltar pra escola; vai descontar em mim. Foi o que ele me disse outro dia. — Diego pensou que por mais que estivesse incomodado com o outro garoto, que era um valentão que batia no seu irmão caçula, sentiu uma pequena pontada de pena dele, viver num lar abusivo só servia para fortificar esse tipo de comportamento agressivo.

— Tá, eu não vou na escola, mas se ele te atacar de novo, você vai contar pra professora, está bem? Não quero ser chamado no trabalho um dia para descobrir que ele quebrou seu braço ou fez coisa pior. — suspirou cansado pensando em como resolver aquela situação sem colocar o garoto em mais perigo.

— Agora vem cá me dar um abraço, porque eu não te vi o dia inteiro. — sentiu o aperto cálido dos braços do menino ao redor do seu pescoço e a respiração ainda pontuada por fungadas do nariz choroso próxima ao seu ouvido. Deixou que Paulo o abraçasse o tempo que quisesse e tentou transmitir naquele contato que o menino estava seguro e era amado.

— Eu não estou com raiva da Mayara. — Paulo disse enquanto os três voltavam até a pequena cozinha para jantar. Diego olhou para o menino com uma expressão surpresa, sem entender bem o comentário e pediu para que o garoto explicasse.

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