Capítulo 30

73 9 0
                                    

Após Paulo ser levado, Vanessa desceu do carro, acompanhada de perto pela filha e se aproximou de Diego, que exibia uma Expressão de desespero. A moça murmurou um pedido de desculpas, dizendo que se soubesse, teria deixado o menino ficar mais um pouco na sua casa. Em resposta, Diego soltou um risinho amargurado e respondeu.

– Não foi sua culpa, aquela mulher estava determinada a levar o Paulo embora de qualquer jeito. – após soltar um suspiro cansado, Diego convidou Vanessa e Agatha para entrarem com ele e Marcelo, porque precisavam ligar para Rosário, a assistente social do caso de Paulo.

Faltavam apenas alguns passos até a porta da casa, quando Diego sentiu que estava perdendo o equilíbrio e seus braços tatearam o ar, desesperados. No momento seguinte Marcelo o segurava pelos ombros, dando apoio e ajudando-o a entrar na casa.

O rapaz desabou numa das cadeiras na pequena cozinha e começou a contar para a moça sobre aquela mulher, Zulmira.

– Ela apareceu aqui às oito da manhã de hoje, batendo palma e tocando a campainha ao mesmo tempo. A gente achou que ela era, sei lá, testemunha de Jeová ou uma vendedora ambulante desesperada, porque né, do jeito que tá difícil pra todo mundo... Mas, quando eu abri a porta... – só de lembrar da cena, o estômago de Diego começou a doer.

Vanessa ouvia-o falar enquanto pegava um copo de água da geladeira e entregava para o amigo, cujas mãos apresentavam um leve tremor. Ela o viu suspirar, tomar alguns goles de água, agradecer e então continuar o relato.

– Eu nem tive tempo de abrir a boca e aquela mulher já começou a gritar que tinha vindo buscar o neto. Aquele homenzinho nojento estava com ela, o tal conselheiro tutelar. Ela tava chacoalhando um punhado de fotos, dizendo que tinha provas de que o Paulo era mal-tratado aqui, mas quando eu tentei pegar pra ver, ela guardou no bolso do vestido. – a expressão de pavor no rosto do menino ficava voltando a mente de Diego e uma vozinha insuportável, a mesma que sempre sussurrava que Marcelo um dia ia abandoná-lo e que ele não era bom o suficiente, começou a dizer que ele nunca recuperaria o irmãozinho. Balançou a cabeça com certa violência e então reparou em Agatha, parada em pé a apenas alguns metros da mãe. Os olhos grandes e bonitos arregalados e os lábios trêmulos.

– Agatha, que você acha de ir ali na sala ver um desenho na tevê? – a menina negou com um gesto de cabeça, os cachos negros e longos balançado para todos os lados. Diego ofereceu um doce, desenhos para colorir, qualquer coisa que fizesse a garota ficar menos assustada, mas nada surtiu efeito.

– O Paulo não vai voltar mais? – ela perguntou, enquanto lágrimas brotavam nos cantos dos olhos bonitos. E em resposta, Diego teve de respirar fundo para segurar o próprio choro, afinal, quando uma criança está assim, o adulto tem de passar segurança.

– Claro que vai, querida. E amanhã vocês vão se ver na escola. – viu a menina abraçar a cintura da mãe e esconder o rosto ali e pensou mais uma vez no menino, que com certeza devia estar apavorado.

– E o que ela fez depois? – Vanessa perguntou enquanto afagava a cabeça da filha. Na saleta onde ficava a tevê, pode ouvir o marido ligando para o telefone de Rosário, mas era quase certeza que ela não ia atender, afinal era domingo!

– Ela gritou um monte de ameaças e quando eu disse que não ia levar o Paulo, foi embora dizendo que ia voltar com a polícia e que eu ia ver só e... Bom, aconteceu o que você viu agora de pouco.

Realmente, caiu na caixa postal, mas mesmo assim Marcelo deixou uma mensagem: "Rosário, é o Marcelo, marido do Diego Souza Tavares, responsável do Paulo, o fato é que apareceu uma mulher aqui hoje, junto de um conselheiro tutelar e dois policiais e levou o Paulo embora sob ameaças de prender o Diego, caso ele tentasse impedir..." – olhou de soslaio para o marido que exibia uma aparência péssima, as mãos continuavam tremulas e o suor nas têmporas era abundante.

Lar é onde o coração estáOnde histórias criam vida. Descubra agora