Capítulo 11

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Capítulo 11

Mayara chegou trinta minutos atrasada ao restaurante onde havia combinado de se encontrar com Letícia. O lugar, que ficava no bairro Higienópolis, era chique e grande e a fez se sentir um pouco intimidada e desconfortável e por isso ela teve de perguntar ao maitre se a outra moça já havia chegado, ao que o homem a indicou com um gesto leve de mão.

Sentada a uma das mesas no canto do salão estava Letícia, tomando algo de uma taça ao mesmo tempo em que conferia as horas no celular. Vê-la fazendo aquilo fez Mayara se sentir culpada, mas mesmo assim, a moça respirou fundo e atravessou o restaurante até chegar onde a outra estava.

– Oi, desculpa a demora... – começou a dizer quando viu Letícia erguer os grandes olhos castanhos da tela do celular e encará-la por alguns segundos, para em seguida esboçar um sorriso diminuto e convidá-la a se sentar na cadeira à frente.

– Eu tava quase achando que você tinha me dado o bolo... – ouviu-a dizer enquanto acomodava-se na cadeira e via o garçom se aproximar com o cardápio. Pediu mais alguns minutos para escolher antes de fazer o pedido.

– Eu te falei que tou tomando conta de um garotinho durante a semana, né? Daí hoje a assistente social ia passar lá e... – contou toda a situação para Letícia, que a ouviu com atenção, bebericando da taça a sua frente de tempo em tempo.

– Entendi, mas você podia ter me mandado um whats, mas tudo bem, o importante é que você veio. – Mayara sorriu enquanto via a outra inclinar com delicadeza a cabeça para o lado direito e sorrir. O cabelo escuro e curto emoldurava o rosto delicado dela e os brincos de argola reluziam sob a iluminação do restaurante.

Mayara respirou fundo, pois aquele era seu primeiro encontro em anos. Ao olhar para o cardápio, se surpreendeu com os preços e escolheu o prato mais barato, que ainda assim, era caro para o seu "orçamento inexistente", mas era o que ela podia pagar.

Elas conversaram sobre amenidades para se conhecer melhor e aos poucos a noite foi passando. Mayara queria contar para a outra sobre um detalhe que poderia desacelerar aquele relacionamento, mas não encontrava o momento certo.

Na hora de pagar a conta, tentou ajudar com um valor, mas foi impedida por Letícia que disse "Eu te convidei, eu pago" que deu em seguida uma piscadinha marota para complementar a afirmação.

Quando estavam saindo, Letícia se ofereceu para lhe dar uma carona até em casa e Mayara, pensando em conhecer melhor a outra e também no valor que economizaria com o uber, aceitou. Ela falou um bocado sobre Paulo, com um carinho quase materno na voz, coisa que não passou despercebida por Letícia, que respondia os comentários da moça com animação.

Ela tinha esbarrado na outra numa loja de roupas do centro, no dia anterior, quinta-feira. Mayara estava espiando de dentro de uma das cabines dos provadores e exibia uma expressão meio desesperada no rosto. Letícia, que tinha entrado para experimentar uma blusa, viu a garota e tentando ser solicita, perguntou se havia algo errado.

– Mais ou menos, eu... Bom, entra aqui pra você ver. – quando passou para o lado de dentro da cabine, viu o que tinha acontecido e sentiu um misto de pena e vontade de rir, a qual sufocou por educação. A moça tinha um cabelo negro e longo, muito bonito e sedoso, mas, que como qualquer pessoa com cabelo comprido sabia, pode dar dor de cabeça. Vários fios tinham prendido no zíper de um vestido que a outra tentava experimentar.

– Eu costumo prender o cabelo num coque quando vou provar uma roupa, pra evitar que fique enroscando em tudo, mas hoje esqueci e... Ai que vergonha! – a voz dela era suave e agradável e, Letícia não conseguiu deixar de notar as curvas bonitas da cintura e o contorno macio dos seios que espiavam pelo decote do vestido e claro, os olhos, negros e profundos.

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