Capítulo 22

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Sentiu um soco fraco ser dado em seu queixo por uma mão pequena e quando abriu os olhos, encontrou Paulo dormindo entre ele e Marcelo. Com cuidado, abaixou o braço do menino e levantou da cama. O relógio marcava 7h45, mas não conseguia mais dormir.

Fez sua rotina matinal e então foi até a sala, onde pescou um livro da pequena estante que havia ao lado da televisão e o abriu no local com o marcador. Conforme tentava se concentrar sem sucesso na leitura, as memórias da noite anterior começavam a retornar e Diego lembrou-se envergonhado de ter chorado na frente de Marcelo.

Estava lendo pela décima vez a mesma linha quando ouviu o som da descarga e da água correndo na pia e então, passos contra o piso e ao erguer o rosto, encontrou o marido entrando no cômodo e ao vê-lo ele sorriu de forma carinhosa. O relógio da cozinha marcava 8h15.

– Acordou cedo. – recebeu um beijo gentil no topo da cabeça e outro nos lábios ao mesmo tempo em que fechava o livro. Tinha desistido de tentar ler naquela manhã.

– Fui acordado por um soco do pequeno lutador na nossa cama. Quando que ele foi parar lá? – ouviu Marcelo contar a situação da noite anterior e apesar de achar bonitinho o menino pedir para dormir ali por conta de um pesadelo, frisou que isso não podia virar uma constante.

– Na próxima vez ele precisa dormir na cama dele. – declarou, apesar de sentir que era uma ordem meio cruel, precisava impor alguns limites. Em resposta viu Marcelo concordar enquanto se sentava ao seu lado no sofá e pegava o livro das suas mãos.

– Você... Tá melhor? – a pergunta soou tão cautelosa que Diego até se sentiu um pouco incomodado. Era como se o marido estivesse pisando em ovos para falar com ele, mas, sabia que aquele era o jeito de Marcelo, sempre cauteloso e após soltar um longo suspiro cansado, respondeu que sim, estava se sentindo melhor.

– Mas eu fiquei muito envergonhado de ter de te contar aquelas coisas, eu me sinto tão... – a frase morreu na garganta enquanto ele fazia um gesto amplo com a mão. Para sua surpresa, sentiu-se ser abraçado e ter sua cabeça recostada com cuidado no ombro do outro e em um gesto reflexo, fechou as pálpebras.

Ficaram ali por um tempo que pareceu impossível de contabilizar, até Paulo aparecer na sala, usando pijamas e coçando o olho esquerdo enquanto bocejava. O menino parou há poucos metros dos dois e ficou observando-os sentados no sofá, eles estavam cochilando juntos.

Ele não entendia muito sobre a vida, afinal, ainda ia faze sete anos, mas gostava de ver o irmão e Marcelo daquele jeito, juntos. Sentia que era algo que estava certo, apesar de todas as coisas horríveis que o pai lhe disse quando ainda era vivo.

Não queria acordá-los, mas seu estomago roncou doloroso, obrigando-o a se decidir e resolvendo por cutucar o braço de Marcelo com cuidado. Algumas tentativas depois, o rapaz acordou e ao ver o menino ali em pé com o cabelo cacheado bagunçado e olhos que ainda continham um pouco de sono, sorriu.

Removeu o ombro de sob a cabeça do marido e deitou-o no sofá. Diego andava muito cansado com as correrias da imobiliária e os cuidados com Paulo e precisava descansar. Guiou então o menino até a pequena cozinha e ao perguntar o que ele queria para o café, Paulo foi categórico: Sucrilhos com leite.

Quando acordou pela segunda vez, o relógio informava que eram 12h00. Diego sentou de chofre no sofá se surpreendendo, como podia ter dormido tanto? Em seguida, ao olhar ao seu redor, viu Paulo sentado na frente do sofá, com páginas de colorir espalhadas pela mesinha de café enquanto assistia desenhos em um volume baixíssimo e então, ouviu a máquina de lavar e a mangueira esguichando água nas plantas. Marcelo estava fazendo as tarefas da casa.

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