Abriu os olhos assim que viu que o sol já tinha nascido. Pulou da cama e trocou de roupa, foi ao banheiro, subiu no banquinho de plástico que usava para se ver no espelho e para abrir o registro do chuveiro ao tomar banho e escovou os dentes, penteou o cabelo, para em seguida ir até a sala, sentar-se no sofá e ficar esperando que um dos dois aparecesse.
Já sabia ligar a tevê e regular o volume, por isso ficou assistindo desenhos com um áudio baixíssimo por um tempo que pareceu longo demais. O que Paulo não sabia, era que ele tinha acordado às sete da manhã de um Domingo!
Sua empolgação para ir ver o filme do Homem-Aranha que "parecia com ele" era tanta, que o menino acordou duas horas antes do que costumava levantar.
Enquanto isso, no quarto, Diego abrir os olhos com uma sensação de que alguma coisa estava acontecendo. Ao olhar no quarto do irmão caçula e encontrá-lo vazio, foi até a sala, achando Paulo com os olhos sonolentos em frente da tevê.
– Oi, acordou cedo hoje, hein? – em resposta recebeu aquele sorriso cativante do menino e foi observado pelas grandes íris castanhas.
– Ainda é muito cedo, rapazinho. Você devia ir dormir mais um pouco, afinal, nem que a gente quisesse te levar agora, o shopping só abre daqui três horas. – viu a decepção estampar o rosto do menino e se sentiu mal por ter jogado um balde de água fria na felicidade dele.
Sentou-se no sofá e abraçou o irmão pelos ombros, olhando de relance o que ele estava assistindo. Um desenho que tinha como vilão um triângulo ciclope que usava cartola. O que esse pessoal ia inventar agora?
– Eu sei que você está animado pra ver aquele filme, mas a gente tem de esperar. Algumas coisas têm horário pra funcionar, sabe? E elas não abrem antes de dar a hora. Mas, já que você está acordado, que tal tomar café da manhã? – o menino escreveu "Quero" na lousa branca e quando perguntado o que gostaria de comer, levou alguns segundos para apagar e preencher a lousa novamente.
"leite de morango e miztou quente" – Diego riu internamente perante a frase, mas entendeu o que Paulo queria e em poucos minutos preparou, um copo de nesquick de morango e um misto quente, pão de forma recheado e bem tostado na frigideira.
Sentou na frente do garoto à mesa e ficou observando ele comer. Viu então um movimento de alguém vindo pelo corredor e quando Marcelo entrou no espaço sala-cozinha, cumprimentou-o com um sorriso e recebeu um beijo na têmpora esquerda em resposta.
– Mas já tá acordado, menino? – falou Marcelo, recebendo um risinho de Paulo, meio abafado pelo pedaço de lanche na boca.
– Ele tá animado demais pra ver aquele filme. Eu expliquei que o shopping ainda não tá aberto e ele é um rapaz inteligente e entendeu, né? – concordou com um gesto de cabeça para em seguida engolir um gole longo do leite de morango.
Aquela seria a primeira vez que ele iria ao cinema na sua vida. Estava ansioso, mas ao mesmo tempo muito feliz. Queria contar isso aos dois, agradecer, falar o quanto estava animado, mas sua voz ainda não queria voltar.
***
Saíram de casa por volta do meio-dia, iam almoçar no shopping e então comprar os ingressos pra sessão das duas da tarde. Ele estava sentado no banco de trás, observando Marcelo e seu irmão conversarem. Foi tão simples para ele chamar Diego de irmão, mesmo com todas as coisas horríveis que seu pai dizia sobre o rapaz, Paulo não via nada de ruim em nenhum dos dois.
Na verdade, desde que perdeu a mãe, aqueles dias que estava morando com os dois, o fizeram se sentir acolhido, apesar de ele não saber essa palavra, então costumava pensar que se sentia "seguro".
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Lar é onde o coração está
RandomA vida de Diego mudou completamente quando ele recebeu uma ligação num Domingo de manhã, informando que sua mãe, com quem ele não falava há anos, faleceu e deixou a guarda de seu meio irmão caçula para ele. Com as únicas opções de aceitar o menino o...