Capítulo 10

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Era a primeira semana de Fevereiro, Paulo já estava com eles há quase um mês. E naquela semana Rosário viria fazer sua visita mensal para conferir se o garoto estava sendo bem cuidado. Diego estava confiante, afinal o menino não só estava com uma aparência mais saudável e tinha ganhado um pouco de peso, como também estava escrevendo melhor e mais palavras. O vocabulário dele tinha aumentado bastante nas ultimas semanas.

Naquele momento Mayara estava sentada ao sofá com outro livro nas mãos, aquele que ela lia antes fora substituído por este, que tinha uma capa estranha, amarela com um ursinho de pelúcia deformado e letras em relevo, as quais Paulo com esforço conseguiu ler uma palavra comprida que não entendia o que significava. "A incendiária".

Enquanto a moça lia, ele se dividia entre copiar palavras da cartilha que ela tinha trazido e ouvir o episódio do desenho sobre dois irmãos que inventavam coisas malucas nas férias de verão. E foi quando aconteceu, ele começou a falar.

– Eu sinto falta da minha mãe. – foi a primeira coisa que saiu da sua boca em um timbre baixíssimo e que de primeira passou despercebido por Mayara, mas quando ele repetiu a frase com mais clareza, ela fechou o livro e sentou ao lado do menino próximo a mesinha de centro.

– Ela devia ser muito legal. – a moça respondeu, sem fazer qualquer alarde com o fato do menino estar falando.

– Sim, a gente ia na videoloucadora e pegava uns DVDs de desenho, daí em casa ela fazia pipoca e nós comia enquanto via os filme. – ele falava como escrevia, mas para alguém que estava há um mês sem dizer uma palavra, aquilo era um motivo de comemoração.

– Eu quero ela de volta! – e então o menino explodiu num choro dolorido e soluçado que cortou o coração da moça. Ela o abraçou da melhor forma que pode e o deixou chorar. Não o repreendeu e nem tentou acalmá-lo. Paulo estava finalmente colocando para fora a dor e o luto da perda da mãe.

O choro durou quase quinze minutos, nos quais Mayara apenas o amparou e afagou seus cabelos com carinho até o choro se transformar em soluços doloridos e então em fungadas úmidas.

– Eu não queria chorar, mas não consegui... – ele a encarou com aqueles grandes olhos castanhos e a ponta do nariz que exibia um tom arroxeado. A moça secou uma ultima lágrima que escorria pela bochecha macia do menino e colocando-o no sofá e sentando-se ao seu lado, ela disse com uma voz calmante.

– Não tem nada de errado em chorar. Na verdade, chorar faz bem sabe? Ajuda a gente a colocar pra fora tudo que nos deixa triste. Se alguém te disser que chorar é feio, só porque você é um menino, essa pessoa é boba e não sabe de nada. – ele abraçou Mayara e sentiu as mãos macias dela fazerem um cafuné nos seus cabelos.

– Você quer que eu faça um pouco de pipoca? A gente pode assistir um dos DVDs que eu trouxe. – o menino lançou um olhar culpado para os exercícios de caligrafia, ao que Mayara falou "Você já estudou bastante hoje, vamos fazer uma sessão de cinema, que acha?"

O resto do dia foi agradável. Paulo contou a May sobre suas coisas favoritas, além do herói aracnídeo. Ele também gostava de Pokémon, Bob Esponja e jogar vídeo-game.

***

Estava atualizando algumas planilhas de vendas na imobiliária, quando recebeu uma mensagem de Mayara e ao ler o conteúdo, seu coração deu um pulo no peito e um sorriso surgiu no seu rosto.

"Oi Di,

Queria te avisar que o Paulo voltou a falar.

Por favor, finja ser algo natural ou ele pode ficar assustado"

Lar é onde o coração estáOnde histórias criam vida. Descubra agora