Capítulo 06

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​Acordou cedo naquela quinta-feira, mas já estava claro lá fora. Olhou pro lado na cama e encontrou Marcelo dormindo tranquilo. O relógio na cabeceira informava que eram 7h45, mas ele só teria de ir para a imobiliária as 10h00 e Marcelo só tinha pacientes mais tarde.

Abraçou o marido adormecido pela cintura, ouvindo-o suspirar e abraçá-lo de volta em um gesto automático. O dia anterior tinha sido bom, sair com o irmão e Mayara, mas a noite foi ainda melhor. Diego esboçou um pequeno sorriso satisfeito enquanto sentia a pele morna do braço de Marcelo contra suas costas nuas.

Tinha planos para aquele dia que mal havia começado. Iria até a escola do bairro e ver se conseguia matricular Paulo. Se o menino se sentiria confortável de ir às aulas ou não, era uma situação a parte, mas precisava tentar oferecer uma rotina normal para o garoto.

No dia em que Rosário trouxe o menino, ela lhe entregou um envelope com os documentos de Paulo, RG, certidão de nascimento, carteira de vacinação. E foi ali que descobriu a data de aniversário do irmão, que seria em breve e que ele estava com as vacinas em dia.

Por mais que estivesse gostando de ser abraçado pela cintura, estava calor e ele não conseguia mais dormir. Então, com cuidado para não acordar Marcelo, desvencilhou-se do abraço e saiu da cama, vestindo as calças do pijama e saindo pela porta, para então parar em frente ao quarto de Paulo e espiar lá dentro.

O menino dormia esparramado de bruços na cama, os lençóis atirados no pé da cama e a boca aberta para respirar. A testa estava coberta de pequenas gotas de suor e alguns fios do cabelo cacheado grudavam aqui e ali. Mas ele parecia tranquilo. Respirava de forma calma e seu rosto não demonstrava nenhuma expressão de medo ou incomodo.

Fechou a porta do quarto novamente com muito cuidado e rumou até a cozinha, onde ligou a cafeteira. Pensou em fazer um suco, mas então se lembrou do barulho e deixou pra depois. Enquanto o café estava coando, foi até a sala, que na verdade era um espaço com sofá e tevê, separado pela bancada da cozinha e ligou o aparelho, sendo saudado pelo jornal da manhã.

As notícias embrulharam seu estomago, o mundo estava se tornando cada vez um lugar mais horrível pra se viver. Incomodado, foi mudando de canal até cair em um que passava desenhos 24h por dia. Aquilo seria útil quando Mayara viesse cuidar de Paulo.

Estava distraído assistindo a um episódio de um desenho que nem sabia o nome, mas gostou da abordagem e dos personagens. Ficou tão envolvido com a animação que levou um susto ao sentir uma mão morna em seu ombro. Marcelo tinha acordado.

– Bom dia. Acordou cedo hoje, hein? – colocou a própria mão sobre a que estava em seu ombro e riu baixinho, para em seguida convidar o outro a se sentar ao seu lado. Marcelo aceitou o pedido.

– Acho que foi o calor, eu sei que em Janeiro sempre faz calor, mas esse ano tá demais! Daí fiquei com dó de te acordar e vim aqui pra sala. O Paulo tá dormindo largado, parece que ele não sente mais tanto medo daqui. – comentou casual enquanto via os personagens do desenho fazer alguma coisa mágica.

A cafeteira gorgolejou na pia, chamando a atenção dos dois. Marcelo se levantou e retirou a jarra de vidro, na qual colocou algumas conchas de açúcar e em seguida, passou o líquido para a garrafa térmica.

– Eu comprei pão ontem, quando voltava da clínica. Acho que ainda tá bom pra comer, pelo menos parecem macios. – apontou para o porta-pão de plástico em cima da mesa e viu Diego levantar do sofá e vir conferir o conteúdo.

– É, parece que ainda tá macio. Acho que tá meio cedo pra acordar o Paulo, eu vou chamar ele lá pelas nove, um pouco antes da May chegar. – pegou duas xícaras no armário e uma faca serrilhada na gaveta.

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