Capítulo 21

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Quando Mayara viu os faróis do carro entrando na garagem, estava quase cochilando. O relógio na sala marcava 01h00 da manhã, Paulo já estava dormindo há mais ou menos três horas e ela tinha tentado se distrair assistindo uma bobagem na tevê até que o sono começou a bater.

A porta foi aberta e Marcelo entrou primeiro, estava um pouco embriagado, mas ainda sociável o bastante para cumprimentá-la antes de se largar numa das cadeiras da cozinha. Diego vinha logo atrás e apesar de ter sorrido ao ver a moça, ela percebeu que algo não estava certo ali.

– Ma, vai tomar um banho enquanto eu levo a Mayara embora, tá bom? – sugeriu enquanto tocava de leve o braço do marido, que resmungou como uma criança birrenta, mas no fim acabou aceitando a sugestão.

Assim que entraram no carro, a moça ouviu o amigo se desculpar pela demora.

– Eu planejava voltar mais cedo, mas o Marcelo bebeu um pouco demais e o Francisco o acompanhou e bom, você viu como ele tá né? – ele suspirou cansado enquanto girava a chave na ignição e mudava de assunto, perguntando sobre Paulo.

– Ele viu um pouco de desenho comigo até umas onze e daí quando vi que tava começando a bater o sono, fiz colocar o pijama e foi a cabeça dele tocar o travesseiro, pronto, já tinha apagado. – ela olhou para a calçada vazia e pensou se si atreveria a perguntar algo. Respirando fundo, começou.

– Di, desculpa se eu estou sendo xereta e você não precisa responder, mas, tá acontecendo alguma coisa entre você e o Marcelo? Sua expressão quando entrou em casa hoje era super tensa. – Diego soltou outro suspiro enquanto girava o volante para a esquerda e parava num sinal, olhando para os lados por conta do horário morto.

– Aconteceu e não aconteceu na verdade. Sabe aquela pequena voz insuportável que fica buzinando na sua cabeça de que tem algo errado e que vai dar merda? Então, eu tenho uma dessas 24h por dia. Piorou depois que o Paulo veio morar com a gente, mas, não me entenda mal, eu o adoro, é só que com uma criança em casa muita coisa da nossa rotina tiveram de mudar, tanto eu quanto o Marcelo tivemos de abrir mão de um bocado de privacidade e... – o sinal abrir, obrigando Diego a continuar dirigindo.

Mayara o encarava silenciosa e paciente.

– Eu acho que o Marcelo tá meio incomodado com essas mudanças, sabe? A gente saia bastante e tínhamos a casa só pra nós, mas agora... Tá diferente e eu comecei a ter estes pensamentos de que ele vai me largar logo. – ela viu o rapaz forçar um sorriso doloroso e tocou-o no ombro com carinho em resposta.

– Daí hoje a gente saiu com o Francisco e o Joaquim e teve uma hora que a conversa foi pra essa coisa de "vocês pretendem ter filhos" e eles disseram que talvez um dia, mas não agora e eu quase pude sentir o incomodo do Marcelo, tipo, "me empurraram esse fardo antes que eu pudesse decidir o que fazer". – Diego fungou, segurando o choro. Os olhos ardiam e doíam pela força que estava fazendo para não derramar lágrimas, mas não queria deixar que a moça visse.

– Di, você já conversou sobre isso com ele? Digo, sobre essas suas inseguranças? Talvez se colocar tudo pra fora, você pode ver que as coisas não são assim como a sua cabeça tem te feito acreditar. – o carro fez uma curva suave para a direita e a moça avistou a casa que dividia com suas mães há apenas alguns metros de distância.

– Que acha disso, amanhã eu e a Letícia podemos vir buscar o Paulo para passarmos algumas horas juntas e vocês conversam com calma. – ouviu Diego recusar, lembrando que ela tinha um encontro com a outra moça no Domingo.

– É muito gentil, mas eu não quero abusar da sua boa vontade, afinal, você veio hoje a noite ficar com ele enquanto a gente saia, inclusive! – viu o amigo abrir a carteira e pegar algumas notas, tentou recusar, mas ele enfiou o dinheiro na sua bolsa, dizendo para que aceitasse.

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