Capítulo 64

36 5 2
                                    


O comportamento animado e espontâneo de Paulo não passou despercebido pelos outros adultos, que se lembravam dele sendo um garoto tímido e meio assustado, mas que agora saltitava com alegria pela calçada enquanto segurava na mão dos dois responsáveis. E naquela hora a Paulista ainda estava meio vazia, não eram nem 11h30 e as pessoas tinham começado a chegar, mas para o garoto tudo era uma novidade incrível.

Quando enfim avistaram a concentração da parada, dividida do resto da rua por alguns cavaletes, o menino fez menção de correr até lá, animado, mas foi impedido por Diego que o segurou pelo braço, dizendo que queria que ele não fizesse aquilo.

— Tem muita gente aqui e é fácil se perder e se isso acontecer, como a gente vai te achar? Ma, será que você pode colocar ele nos seus ombros só um pouquinho, pro Paulo ver o povo ali na frente? — Marcelo concordou e ergueu o menino, acomodando-o sobre seus ombros enquanto pensava como Paulo estava leve e se isso era um peso normal para um garoto de sete anos e que talvez devessem levá-lo ao pediatra, mas logo os pensamentos foram atraídos de volta para o momento, quando ouviu o riso límpido e divertido do menino que dizia poder ver tudo ali de cima.

— Ele tá bem diferente de como a gente viu em Abril. — Joaquim comentou com Diego que sorriu e concordou, informando que o ponto principal da mudança foi a ida ao tal museu cata-vento na sexta-feira.

— Voltou tão tagarela que naquela noite, falou até dormindo sobre o que viu por lá. — Diego sorriu e olhou para o irmãozinho sentado nos ombros do marido e em seguida comentou que se sentia feliz de ver o garoto ficando mais solto.

— Não sei se o Marcelo contou pra vocês, mas quando o Paulo veio morar com a gente, ele nem falava... — baixou a voz um pouco e complementou — ele que achou minha mãe morta em casa e ficou horas lá com ela até que alguém o encontrasse. Eu não consigo deixar de pensar no trauma que ficou ali. — e em seguida se repreendeu mentalmente por não ter levado o menino a um psicólogo infantil, pretendia levar, mas não estava tendo tempo nem de agendar a consulta, quanto mais acompanhar o garoto!

— Dá pra ver que vocês o estão criando bem. Ele parece feliz e saudável e estes são dois indicadores de que as coisas vão bem na vida de uma criança... Digo, é o que as pessoas costumam falar. — emendou Joaquim desconfortável, afinal, o que ele sabia sobre criar crianças? Não tinha filhos e não pretendia ter tão cedo.

Marcelo informou que ia atravessar até o canteiro que dividia as duas pistas e andar um pouco com o menino do seu lado para ele ver a movimentação, Diego concordou e disse que os esperaria ali com os outros e no mesmo instante, Mayara sugeriu ir com eles e Letícia.

Diego não conhecia Joaquim e Francisco o bastante para desenvolver uma conversa amigável, mas ao ouvir o loiro comentar que fazia alguns anos que não vinham a parada, pegou aquele gancho de assunto e complementou informando que eles também não.

— E não é nem porque a gente não gosta, é mais porque, bom, é minha culpa. Eu comecei a ter crises de pânico no meio de multidões há uns três anos, foi num bloquinho de carnaval, me senti tão mal que o Marcelo teve de me arrastar para a calçada. Desculpa, eu tou sendo inconveniente. — ficou quieto e passou a olhar para um ponto qualquer na rua, onde um vendedor ambulante estendeu várias bandeiras do orgulho em um varal e elas tremulavam ao vento.

— Fran, será que você podia pegar uma água ali pra mim? Tou morrendo de sede. — pediu Joaquim em uma desculpa esfarrapada para afastar o namorado por alguns minutos, ao que Francisco entendeu a deixa e saiu.

— Olha Diego, — disse o loiro enquanto se aproximava do outro rapaz — Você não precisa se envergonhar de ter tido uma crise de pânico. Todo mundo tem algum problema psicológico ou emocional hoje em dia. E eu sei que a gente mal se conhece, talvez por isso você tenha ficado desconfortável comentando sobre isso, mas, acredite, eu entendo como é e se quiser conversar no futuro, é só mandar um whats pra mim. — Diego sorriu para o outro rapaz de uma forma agradecida e murmurou um "obrigado", para assim que viu Francisco retornar, sugerir que eles fossem atrás dos outros.

Lar é onde o coração estáOnde histórias criam vida. Descubra agora