Capítulo 34

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Paulo acordou assustado e por alguns minutos teve certeza de que ainda estava na casa daquela mulher ruim e que sua volta para a casa do irmão não tinha passado de um sonho. Mas, conforme foi olhando ao seu redor e reconhecendo os objetos e as dimensões do seu quarto, sentiu-se seguro e feliz. Estava em casa de novo.

Levantou e foi ao banheiro, onde escovou os dentes e lavou o rosto, e claro, fez xixi, porque parecia que sua bexiga ia estourar se não fizesse. Estava saindo do cômodo quando esbarrou em Marcelo que vinha pelo corredor e em um gesto impulsivo, abraçou o rapaz de forma demorada, recebendo em resposta um agrado na cabeça e o ouvindo dizer "que bom que você está de volta, Paulo".

O menino então o seguiu até a cozinha, onde sentado numa das cadeiras, observou Marcelo preparar o café da manhã. Era sábado e ele disse que tinha tirado uma folga do consultório. Diego também estava de folga da imobiliária.

– O que você quer pro café? – Paulo pensou por alguns segundos e perguntou se ainda tinha sucrilho, ao ouvir que sim, disse que queria uma tigela deles com leite.

Enquanto preparava a comida do menino, Marcelo pensou em como aquela semana sem vê-lo pela casa foi triste e sombria, não só pelo estado emocional abalado do marido, mas também por como o garoto fazia falta, ele já tinha se tornado parte da família e a sua presença era muito importante.

Diego levantou e ao se dar conta que nem o marido e nem o irmãozinho estavam nas suas respectivas camas, seguiu pra cozinha, encontrando os dois tomando café e conversando. Paulo contava sobre a escola à Marcelo, que ouvia com total atenção.

– Bom dia pra vocês. – aproximou-se da mesa e fez um afago nos cabelos do menino, observando como ele fechou os olhos em uma expressão de alegria e satisfação. Puxou uma cadeira e perguntou sobre o que estavam falando.

– Ah é que a Profê Marta disse que mês que vem tem quadrilha lá na escola e ela perguntou quem queria fazer parte eu disse que eu queria. A Agatha e o Luís também vão e... Vocês vão assistir no dia, né? – Diego trocou um olhar cúmplice com o marido, que sorriu e respondeu que sim, eles iam, vendo o rosto do menino se iluminar de felicidade.

– Vou falar com a Lola pra ajudar a gente a fazer uma roupa de caipirinha pra você e no dia, vamos tirar muitas fotos. – quando viu Paulo esticar o braço para pegar mais leite, percebeu a marca roxa no pulso do menino. Aquela mulher horrível tinha deixado uma marca nele, o que fez imaginar com quanta força ela havia apertado o pulso fino do garoto.

– Depois que você terminar de comer, vá tomar um banho, que a gente vai sair. Vamos comemorar que você voltou aqui pra casa e que aquela mulher horrível nunca vai poder te levar de novo. – Diego tentou não transmitir nada agressivo no seu tom de voz, mas foi algo involuntário. Se encontrasse aquela mulher sozinha na rua, daria a ela uma boa dose do próprio remédio.

– Onde a gente vai? – Paulo estava com a colher de cereal a meio caminho da boca, gotas de leite pingando dentro da tigela. Diego riu e piscou com um olho, dizendo que era surpresa. "Mas eu tenho certeza que você vai gostar".

Naqueles seis meses que o garoto estava com eles, nunca o havia visto comer tão rápido quanto agora. Paulo depositou a louça dentro da pia e correu pelo pequeno corredor até o próprio quarto e então, de volta ao banheiro, enquanto Diego e Marcelo observavam a animação do menino e riam baixinho.

– Primeira folga que temos ao mesmo tempo em meses, né? – Diego disse enquanto levantava e pegava um pouco de café na garrafa térmica, sendo surpreendido pelo braço firme do marido envolvendo sua cintura e com um beijo macio depositado na curva do seu pescoço.

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