Capítulo 16

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O despertador avisou com seu alarme escandaloso que era 6h30 da manhã e que Marcelo tinha de levantar. O som acordou Diego também, que fez menção de sair da cama, mas foi impedido pelo marido com um murmúrio de "hoje é a minha vez, lembra?" seguido de um beijo depositado com carinho na têmpora direita dele. Diego estava com tanto sono que acabou aceitando a sugestão de Marcelo, que apenas murmurou "Tira uma foto dele entrando na escola", antes de ver o marido sair para bater na porta do quarto de Paulo.

O menino já estava acordado e vestindo o uniforme, mas quando perguntado se já tinha escovado os dentes e lavado o rosto, respondeu com uma negativa e uma expressão frustrada, a qual Marcelo logo fez questão de fazer desaparecer dizendo "Então vamos lá, ainda tem bastante tempo".

Na cozinha, montaram o lanche que o garoto levaria, na lancheira térmica que vinha junto com a mochila, ambas do herói aracnídeo favorito. Suco, um sanduíche de presunto e queijo e quando Marcelo foi colocar uma maçã, Paulo o impediu enquanto olhava por sobre o ombro para o corredor que dava para os quartos e sussurrava.

– Eu não gosto de maçã. – e ficou claro que o menino não queria que o irmão o ouvisse falando aquilo, o que fez Marcelo rir baixinho enquanto substituía a fruta por alguns biscoitos simples.

Paulo escovou os dentes de novo e então, sentando-se no banco de trás, seguro pelo cinto, eles partiram para a escola. Seu coraçãozinho parecia querer arrebentar o peito, ele estava animado, já que até então tinha sido ensinado em casa. Pela primeira vez estaria numa escola e na presença de outras crianças.

Quando Marcelo parou com o carro em frente aos portões que estavam apinhados de pais e crianças com mochilas coloridas, Paulo abriu a porta de trás, mas foi retido ao ter seu pulso esquerdo segurado.

– Antes de você ir, vamos relembrar o combinado. Quando der o sinal pra ir embora você vai ficar onde? – o menino suspirou cansado, já tinham repassado aquele diálogo várias vezes antes de saírem de casa, mas vendo o olhar preocupado de Marcelo, respondeu, enfadado.

– Do lado de dentro até eu ver a Mayara. Não devo falar com estranhos e nem aceitar carona dos pais de nenhum coleguinha. Se a Mayara não aparecer, eu vou pedir pra ligarem pra você ou pro Diego, nos telefones escritos na capa de trás do meu caderno. Agora eu posso ir? – o timbre cansado na voz do menino quase fez Marcelo rir, mas ele tinha de se manter sério.

– Exato. E sim, pode ir, mas primeiro dá aqui um abraço. – o menino fechou a porta de trás e pulou pro banco da frente, abraçando Marcelo com força. Lá no fundo, ele estava apavorado, mas não queria que ninguém soubesse.

– Tá bom então, rapaz. Boa aula e lembre-se, fique do lado de dentro do portão até a May chegar, tá bom? Te amo. – ao que Paulo respondeu baixinho "também" e saiu pela porta da frente do carro, a mochila batendo no fim das costas, o Homem-aranha em relevo brilhando sob o sol da manhã.

Marcelo ficou só mais alguns segundos olhando o menino entrar, ainda achava que devia tê-lo acompanhando, mas, foi informado que não era necessário. Tirou as fotos que prometeu para Diego e estava devaneando sobre o assunto até que ouviu uma buzina irritada do carro atrás do seu, já que ali era um espaço para "carga e descarga" da criançada. Fez um gesto com a mão pedindo desculpas e saiu. Ainda era cedo para ir até a clínica, então, passou na padaria e iria voltar para tomar café com Diego.

***

Paulo se sentia deslocado, como um alienígena que caiu na Terra por engano. Esbarrou em crianças aqui e ali, até que ouviu uma voz feminina dizer "alunos do 1º ano, aqui comigo!". Aproximou-se meio acanhado e observou aquela moça alta e de cabelos castanhos presos em um alto rabo de cavalo que pedia para as crianças formar uma fila.

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