Capítulo 54

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Quando Paulo chegou na escola Segunda-feira, Luís e Agatha perceberam que ele estava chateado e antes do sinal para entrarem na sala de aula soar, o menino contou o que havia acontecido quando entraram em casa no dia anterior.

— Alguém pulou o muro da casa do lado e roubou minha bicicleta. Eu tou tão triste com isso! Nem tive tempo de andar muito nela. — o menino estava cabisbaixo e exibindo uma expressão tristonha e quando Emmanuel lhe deu um empurrão, ao invés de ignorá-lo, como vinha fazendo nos últimos meses, Paulo foi atrás dele e lhe deu uma rasteira.

O outro garoto caiu de bunda no chão encarando-o com um misto de surpresa e raiva e enquanto se levantava, preparando-se para dar um soco no menino mais baixo, o ouviu dizer, com um tom de voz sem emoções.

— Eu não tenho mais medo de você. Na verdade não aguento mais você perseguindo a gente! Isso acaba hoje. — em resposta levou um soco na bochecha que fez com que escorregasse pelo pátio e quando ainda tentava se levantar, ele viu Emmanuel vindo em sua direção, sentando-se sobre sua barriga, pronto para lhe dar mais socos.

— Vocês dois parem com isso, agora! —Neusa, a responsável pela entrada e saída das crianças gritou enquanto corria até o pátio separá-los, auxiliada pelos professores. Paulo estava apanhando, mas também revidava da melhor forma que podia e tinha acertado o joelho no meio das pernas do outro menino, fazendo-o cair de lado, as mãos envolvendo o lugar golpeado.

— Mas o que aconteceu aqui? — Neusa perguntou enquanto segurava o braço de cada menino em uma das mãos, impedindo de se atacarem de novo.

— Ele que começou! — gritou Paulo com lágrimas de raiva brotando nos cantos dos olhos. Odiava o outro garoto e queria socá-lo até deixar a cara dele toda roxa. Nunca em sua curta vida tinha sentido tanta vontade de descarregar sua frustração e raiva em outra pessoa, como queria fazer agora com o outro garoto.

— Mentira! Ele me deu uma rasteira! — gritou Emmanuel enquanto tentava se livrar do aperto da mão de Neusa ao redor de seu pulso.

— Não quero saber quem começou, mas vocês vão parar com isso agora! A diretora ainda não chegou, então talvez, se os professores concordarem, podemos deixar isso sem terminar com uma suspensão, até porque eu conheço seus pais, Emmanuel, e a ultima coisa que quero é que você leve outra surra por brigar na escola. — Neusa olhava para o garoto com uma expressão severa, mas ao mesmo tempo um pouco maternal.

— E quanto a você, mocinho, seu responsável com certeza não ficaria feliz de saber que você se meteu em uma briga de novo. E nem aquela moça simpática que vem te buscar no portão. — Paulo abaixou o olhar, sentindo o rosto esquentar de vergonha enquanto fungava baixinho.

— Estamos combinados aqui? — Neusa olhou para os outros dois professores que a ajudaram a separar os garotos, Marta era uma delas e o outro era do terceiro ano, Fabrício, ambos concordaram com um gesto de cabeça.

— Agora vão para a aula e lembre-se que se fizerem isso de novo, eu não vou poder protegê-los, porque daí a diretora já terá chegado na escola. — rumaram para a sala de aula, sentando-se em locais opostos, de onde trocavam olhares de ódio entre si.

Paulo estava frustrado com várias coisas que aconteceram com ele recentemente: a morte da mãe, ter tido de mudar da sua casa antiga, ser constantemente infernizado por Emmanuel, mas o que mais o estava irritando no momento era sua bicicleta ter sido roubada.

Na madrugada de Domingo para Segunda ele não dormiu direito com medo de que os ladrões voltassem, mas naquela manhã seu medo foi substituído pela raiva transbordante de que levaram embora uma das poucas coisas boas que tinha ganhado na vida.

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