Capítulo 37

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Mesmo com Paulo tendo pegado dois dias de suspensão, Diego acordou as 6h30 da manhã, quando o alarme do celular tocou. Ele estendeu a mão para o aparelho na mesinha de cabeceira e deslizou a tela para desligar.

Só precisava ir para a imobiliária lá pelas 13h00 e por isso voltou a dormir, aconchegando-se em Marcelo, que fingiu não estar acordado, apenas para ver o que o marido ia fazer. Ao sentir o peso morno do outro próximo ao seu corpo, estendeu um dos braços em volta das costas dele, aproximando-o mais de si.

Acabaram levantando só lá pelas 10h00, com Diego ainda tendo de bater na porta do quarto do irmãozinho para acordá-lo. Paulo saiu com o cabelo arrepiado e esfregando os olhos e quando viu Diego, perguntou se estava atrasado para a escola.

– Você esqueceu que pegou dois dias de suspensão, rapazinho? – bagunçou os cabelos do menino e disse para que fosse escovar os dentes, enquanto ele preparava um café da manhã tardio.

Foi pra cozinha rindo baixinho e enquanto colocava a cafeteira para funcionar, se deu conta que não tinha comprado pão no dia anterior.

– E agora, o que eu faço? – murmurou para si mesmo enquanto mordia a ponta do polegar com certa violência, um novo tique nervoso que desenvolveu, para poupar a pele dos lábios das suas mordidas nervosas.

– Algum problema? – Marcelo vinha para o cômodo, acompanhado de perto por Paulo, que contou ao irmão que os dois tinham "escovado os dentes juntos!", o que fez Diego sorrir e sentar-se em uma das cadeiras próximas a mesa.

– É que eu me esqueci de passar na padaria ontem e agora... Não tem pão pra tomar café. – fez um gesto amplo em direção a caixa plástica onde ficava o pão enquanto soltava um suspiro cansado. Diego não gostava de esquecer tarefas importantes e costumava se repreender mentalmente quando isso acontecia.

– Sem problema, eu e o Paulo aqui vamos lá buscar, você quer que eu traga mais alguma coisa? – sorriu em resposta a frase e falou que talvez um pouco de presunto e mussarela seria bom.

Observou o marido voltar ao quarto, acompanhado de perto pelo menino, que entrou no próprio aposento e em minutos ambos retornavam com roupas de sair para a sala-cozinha. Antes de sair, Marcelo lhe deu um beijo carinhoso nos lábios e Diego sentia o olhar atento do irmãozinho os observando. Por um segundo pensou em cortar o contato, mas logo se deu conta de que não estava fazendo nada de imoral e permitiu que Marcelo continuasse. Eles saíram logo em seguida.

***

Joaquim tinha pesquisado sobre alguns estúdios de tatuagem de confiança, na noite anterior, auxiliado por Francisco, buscou por críticas positivas e números para contato e hoje estava ansioso para ligar e tirar orçamento. Quanto mais rápido se livrasse daquela marca odiosa em seu corpo, melhor.

No momento estava saindo para trabalhar, mas não sem antes conferir ao redor do prédio, se Marco não estava por ali. Podia ter parecido forte no dia anterior, e naquele momento tinha realmente se sentido assim, mas ainda guardava grande pavor do ex-namorado e de tudo o que ele fez de negativo em sua vida.

Aliviado de não ver o outro por perto, colocou o fone de ouvido sem fio na cabeça e saiu a pé, para o trabalho na loja de sabonetes. Enquanto caminhava, não conseguia deixar de misturar lembranças na cabeça. Quando conheceu Francisco e a época em que Marco se aproximou dele, as lembranças vinham em um turbilhão confuso.

Conheceu Marco quanto tinha 16 anos, havia acabado de se assumir e levado uma surra violenta do pai. O outro se aproximou dele na porta de uma boate gay, na qual, por conta de sua idade, Joaquim não podia entrar. Saíram algumas vezes e o rapaz achou que tinha encontrado seu par perfeito, até que Marco bateu nele pela primeira, das muitas vezes que ainda viriam.

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