Capítulo 42

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E chegou o sábado. O dia de folga que Diego tanto esperava.

Ele olhou para o lado e encontrou Marcelo dormindo ao seu lado e enquanto esboçava um sorriso, se espreguiçou na cama, suspirando baixinho. Depois de tudo o que tinham passado nos últimos meses, acordar num sábado de manhã sem preocupações era algo maravilhoso.

Achou que poderia cochilar mais uma hora antes de levantar para fazer o café, mas para sua tristeza, a campainha da casa soou alta e estridente e o pior de tudo, repetitiva. A pessoa que estava na porta com certeza não tinha o mínimo de consciência de que era sábado, 08h00 da manhã.

Com muito esforço e nenhuma vontade, Diego se arrastou para fora da cama e forçou seu caminho até a porta de entrada, através da qual espiou quem era o visitante indesejado e ao ver a pessoa em pé na frente do portão, toda sua alegria pelo final de semana evaporou.

Era Zulmira, a avó paterna de Paulo.

Ver a mulher na frente da sua casa só serviu para relembrá-lo do que aconteceu há menos de um mês, quando ela apareceu ali, também num sábado as 8h00 da manhã, gritando ameaças e mais tarde retornando acompanhada daquele insuportável conselheiro tutelar, decidida a levar Paulo embora.

Pensou em ignorá-la, talvez isso a fizesse ir embora. Mas Zulmira continuou tocando a campainha com insistência e ao se dar conta de que isso ia acordar o marido e o irmãozinho, Diego se deu por vencido, abriu a porta e saiu, ainda usando o pijama e com o cabelo sem pentear.

– Bom dia, o que a senhora deseja. – perguntou da porta. Havia resolvido que não deixaria a mulher entrar na sua casa. Ela parecia diferente, menos "dona da verdade" do que na ultima vez, mas apenas a presença dela ali incomodava Diego.

– Gostaria de falar com você. Posso entrar? – o timbre de voz soou mais humilde, quase como o de alguém que perdeu uma disputa.

– Sinto muito, mas não, não pode. – respondeu incomodado e já se preparava para fechar a porta na cara da mulher, quando a ouviu dizer que precisava muito falar com ele. Após respirar fundo, Diego se aproximou do portão e disse para que ela falasse.

– Não vai permitir que eu entre? – Zulmira indagou com um quê de ofensa na voz, trazendo de volta a mulher odiosa que ele tinha conhecido mês passado.

– Não. A casa é minha e a senhora não é bem-vinda aqui. Mas, fale o que veio dizer. E faça isso logo, são oito da manhã de sábado, eu trabalhei a semana inteira, estou cansado e quero muito voltar a dormir. – viu o rosto da mulher se tornar uma máscara de choque e horror e em resposta, sentiu que poderia sorrir, mas se segurou.

– Desde que tudo aquilo aconteceu mês passado, eu estive pensando que... Bom, tirando a história do imóvel herdado pelo menino, eu me dei conta que ele ainda é meu neto e é também a única parte do meu filho que me restou... – não estava gostando do rumo daquela conversa e uma imagem de uma nova tentativa de arrancar Paulo da sua guarda passou pela cabeça de Diego.

– E...? A senhora perdeu no tribunal e a juíza foi bem clara sobre as restrições em relação a sua aproximação do Paulo. Mas ainda assim, a senhora está aqui na frente da minha casa, em plenas oito horas da manhã de um sábado! – continuava repetindo aquilo, pois estava indignado com a ousadia da mulher.

– Sim, você já deixou bem claro que minha presença não é bem vinda aqui. – não era isso que Diego tinha dito, mas parecia que a mulher só entendia o que queria e da forma que lhe fazia parecer uma vitima.

– O fato é que... Eu... Gostaria de poder ver o meu neto de vez em quando, se for possível. – Quem não a conhecesse com certeza a tomaria por uma senhorinha simpática e humilde e acharia que Diego era o vilão da história.

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