Capítulo 71

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Estavam brincando de montar as peças de lego em silencio já fazia quase 10 minutos. Paulo se sentia incomodado com o silencio da menina, mas achou melhor não cutucá-la para falar, até que...

— Sabe... A namorada do meu pai vai ter um bebê... — a menina falou sem desviar os olhos das peças de plástico que estava conectando. Paulo permaneceu em silencio.

— E... Da ultima vez que eu passei o dia com ele, ela me puxou de lado e disse que por isso, eu não seria mais... Importante pro meu pai... — a voz da menina tremeu e ela largou as pecinhas com que estava brincando.

— E tem mais! — ela disse com a voz embargada de choro e enquanto finalmente olhava para ele, exibindo um rosto repleto de tristeza.

— O meu pai vai trabalhar em outra cidade... E eles vão se mudar daqui... — ela limpou o nariz que tinha começado a escorrer e então se sentou encolhida, abraçando os joelhos.

— Minha mãe diz que ele vai continuar vindo me ver, mas eu sei que não... Ele já não tem vindo sempre, morando aqui, então quando mudar, vai vir menos ainda... — Paulo viu a menina erguer o rosto coberto de lágrimas e fixar o olhar nele e sentiu-se triste por ela.

— Desculpa eu ter te empurrado aquele dia e não ter falando com você, mas é que, isso me deixou muito triste e com... Com raiva! Eu ouvi a minha mãe falando com a minha avó, ela não sabia que eu tava escutando, e ela disse um monte de coisas, que meu pai só vem me buscar porque "faz parte do acordo" e por causa da "pensão ridícula"... — Paulo engatinhou até onde a menina estava encolhida e ainda chorando e passou o braço pelos ombros dela. Não disse nada, pois não sabia o que dizer, mas ficou ali com ela, até ouvir Agatha suspirar exausta e em seguida, sentir ela encostar a cabeça no seu ombro.

— Minha mãe nunca disse nada disso pra mim, ela diz que meu pai me ama e que ele quer me ver, mas eu escuto sabe? E daí eu comecei a pensar que era tudo mentira... — O menino olhou para o rosto da amiga, como o lábio inferior tremia enquanto lágrimas escorriam pelas bochechas macias.

— Eu não queria ter feito aquilo com você aquele dia... Me desculpa! — Paulo a abraçou e sentiu a menina continuar chorando contra seu peito e em resposta, fez um afago leve nas costas dela. Ele tinha perdido ambos os pais com um intervalo mínimo de tempo e no seu caso, foi para sempre, mas, entendia o sentimento de Agatha. Por piores que eles fossem, eles ainda eram seus pais e eram importantes.

Enquanto isso, na cozinha, Vanessa contava aos três adultos como as coisas realmente aconteceram e o quanto ela estava possessa com Silas.

— ...E aquele infeliz do Silas nem teve coragem de contar pessoalmente pra Agatha que ia se mudar pra outra cidade. Como sempre, a bomba sobrou pra mim. E eu fiquei sabendo, depois que contei as "ótimas notícias" para a minha filha, que aquelazinha que ta com ele agora, falou que está grávida e que "ele não vai mais precisar de você, porque vai ficar comigo e o meu bebê" palavras daquela... — Vanessa espiou o corredor antes de dizer as ultimas duas palavras. — piranha oportunista.

Diego serviu outro refil de café para a moça que parecia uma bomba prestes a explodir, tamanha sua irritação. Mayara segurou a mão de Vanessa em um gesto silencioso de apoio e a outra sorriu.

— E daí, naquele domingo eu tinha me comprometido a levar as crianças para brincar no shopping, mas a Agatha ainda não tinha digerido bem a noticia, acho que nunca vai... E então, ela empurrou o Paulo... — Vanessa suspirou cansada, no rosto dela podia-se ver o estrago que o divorcio estava fazendo, não por causa dela, mas sim pelas consequências em Agatha.

— Eu podia ter contado pra ele, mas achei melhor a Agatha falar pessoalmente, porque acredito que ela tem de aprender a resolver os próprios problemas... Será que fui muito cruel? — como em uma resposta para a duvida de Vanessa, eles ouviram risos animados vindos do quarto no fim do corredor e então os quatro adultos trocaram olhares aliviados e Marcelo observou que "parece que você tomou a decisão certa".

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