Capítulo 36

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Joaquim ainda fazia uma caminhada ao redor do quarteirão antes de ir para o trabalho e naquela manhã não foi diferente. Estava distraído com os fones de ouvido e quando parou por alguns segundos para tomar um gole de água, foi surpreendido por uma mão pesada em seu ombro. Quando olhou para trás, sentiu gotas de suor frio escorrer por sua nuca e espinha.

– Oi Jô! Quanto tempo! – gaguejou uma resposta que acabou não saindo e se afastou alguns passos, para em seguida recomeçar a andar, sendo seguido de perto pelo outro. Pensou que ele estava preso, bom, foi o que tinham lhe contato há alguns anos.

– Jô, espera ai, eu só quero falar com você! – ao ver que não ia conseguir se livrar tão fácil daquele traste, Joaquim parou há alguns metros do prédio onde morava com Francisco e expirou cansado, o que deu tempo para que o outro se aproximasse.

– O que você está fazendo aqui, Marco? Disseram que você estava preso por agressão. – perguntou enquanto removia um dos fones de ouvido e olhava para o ex-namorado, um rosto que esperava jamais rever na vida.

O cara continuava fisicamente bonito, alto e forte, mas nada disso apagava os horrores que Joaquim passou enquanto estava com Marco. Só de vê-lo ali na sua frente, o rapaz começou a sentir uma dor aguda no estomago e palpitações. Marco lhe causou todo tipo de tortura e trauma na época em que namoravam, que era impossível não ter uma reação de mal estar ao vê-lo.

– Eu estou na condicional. Tava indo pro trabalho quando achei que era você e resolvi só vir e... – o loiro fez um gesto que exigia silencio, notou como sua mão estava trêmula, mas ainda assim se forçou a continuar, e após passar os dedos pelos cabelos, reuniu coragem e disse tudo que estava guardado por anos.

– Olha aqui Marco, de todas as pessoas do mundo, você é a ultima que eu gostaria de ver na minha frente. Você foi péssimo pra mim em tantas formas que eu nem sei como dizer, você ferrou com o meu psicológico de um jeito que eu levei anos, depois que terminamos, pra conseguir entrar num novo relacionamento e o fato é que eu não quero nunca mais te ver ou ter qualquer tipo de contato com você. – esperou por um gesto de agressividade, o que sempre acontecia na época que namoravam e apesar de ter visto o outro fechar a mão em punho e fazer menção de um movimento, nada aconteceu.

– Caramba Jô, eu achei que a gente tava bem depois de... – O loiro rilhou os dentes, sentindo o pavor ser substituído pela raiva crescente. Como aquele idiota tinha a coragem de falar aquilo!

– Marco, você marcou a merda da letra do seu nome em mim... Com um estilete! Você me trancou dentro do apartamento por dois dias inteiros, não me deixou falar com meus amigos e não vamos nos esquecer daquela vez que você rasgou no meio todos os meus livros e eram edições de coleção. E claro, eu nem entrei na parte dos abusos físicos e daquela vez que eu acordei com você fazendo... – viu Marco fazer um gesto amplo com as mãos enquanto dizia "tá bom, eu já entendi!"

– Desculpa cara, eu só achei que a gente podia... – Joaquim fez um som de riso nasal e pensou que seria bom dar mais algumas voltas, para o caso do outro resolver segui-lo, afinal não queria que ele soubesse onde morava.

– O que a gente teve foi um enorme pesadelo, foi um completo erro, pelo menos pra mim, então eu não quero saber o que você está fazendo da vida, eu não quero pensar que você existe, entendeu? Como eu disse antes, você ferrou com o meu psicológico de um jeito que ficou até sequela! – a expressão de pura incredulidade na cara de Marco fez com que Joaquim se sentisse um pouco satisfeito, mas ele viu o outro fechar a mão direita em um punho mais uma vez e em um ato reflexo observou ao redor, para ver se havia pessoas que pudessem ajudá-lo caso precisasse. Havia algumas.

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