Acordou cedo, muito cedo. Estava animado.
Seria a primeira festa de carnaval em que iria e não via a hora de chegar na escola e encontrar Agatha e Luís.
Vestiu a fantasia de Homem-Aranha e calçou os tênis com detalhes do herói aracnídeo, pegou a sacola com os pacotinhos de confete e saiu do quarto, apenas para descobrir que eram apenas 8h00, segundo o jornal da tevê.
Sentou-se no sofá e mudou para o canal de desenhos, os quais ele assistia com um pouco de dificuldade pelos furinhos da máscara da fantasia. Mas estava tudo bem, não via a hora de chegar na escola.
Enquanto isso, no quarto Diego rolou para o lado abraçando a cintura do marido e suspirando. Pela primeira vez desde que recebeu Paulo em casa, estava conseguindo dormir bem, afinal tinha botado pra fora aqueles pensamentos intrusivos que o corroíam por dentro.
Amanhã começava o feriado do carnaval, fim de semana, segunda, terça e metade da quarta-feira de folga! Eles costumavam viajar pra praia quando eram namorados, mas, este ano seria diferente e estava tudo bem. Ficar em casa também parecia bom.
Teria continuado dormindo se não tivesse ouvido um tilintar alto na cozinha. Sempre teve sono leve, com exceção de quando estava muito cansado. Sentou-se na cama e olhou para Marcelo, que continuava dormindo. Resolveu levantar e verificar de onde vinha o som.
Quando chegou na cozinha, encontrou Paulo, usando a fantasia, trepado numa das banquetas do balcão, tentando pegar a caixa de cereal, no escuro.
– Paulo, o que você tá fazendo ai, menino? – acendeu o interruptor e fez o garoto descer da banqueta e pegou a caixa de sucrilhos e a tigela plástica que ficava ao lado.
– Eu queria tomar café. – a resposta foi tão sincera que Diego não conseguiu ficar bravo com o garoto por muito tempo.
– Então porque não me chamou? – serviu o cereal na tigela e completou com leite, enquanto removia a máscara de plástico e colocava um guardanapo de pano grande na gola da fantasia. "Você não vai querer ir pra escola com a roupa suja de leite, né?"
– Eu queria fazer sozinho. – sentou-se ao lado do irmãozinho e ficou observando ele comer enquanto pensava o que fez o menino querer ser independente de uma hora para a outra.
– É legal fazer algumas coisas sozinho, mas para outras coisas, você ainda precisa pedir ajuda e não tem nada de errado nisso, viu? – afagou os cabelos cacheados do menino, para em seguida levantar e colocar a cafeteira para funcionar.
Lavou a tigela e a colher que o menino usou e após adoçar o café, serviu-se de uma caneca. Sentia o olhar atento de Paulo a cada um dos seus movimentos, a forma como ele o admirava estava estampada naquele rostinho simpático.
– Você escovou os dentes e lavou o rosto? – ao ouvir uma negativa murmurada, convenceu o menino a ir até o banheiro fazer as duas coisas. "Deixa a máscara aqui e cuidado pra não derrubar pasta de dente na fantasia".
Marcelo estava saindo do banheiro quando foi atropelado pelo que ele chamou de "caminhãozinho Paulo" que vinha em alta velocidade pelo corredor. Antes de entrar no banheiro, o menino se desculpou pelo encontrão.
– Bom dia, ele tá animado, não? – deu um beijo na têmpora direita de Diego e pegou uma caneca no armário, comentando como o café estava cheirando bem.
– Nem me fale, acredita que eu peguei ele montado numa das banquetas, tentando pegar a caixa de cereal? Imagina o que eu pensei quando vi? Exato, um acidente pronto pra acontecer. Não quero nem pensar se ele quebrasse um braço ou uma perna. – cortava um filãozinho e passava margarina quando viu o menino voltar exibindo os dentes, como se dissesse "Viu, eu escovei".
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Lar é onde o coração está
RandomA vida de Diego mudou completamente quando ele recebeu uma ligação num Domingo de manhã, informando que sua mãe, com quem ele não falava há anos, faleceu e deixou a guarda de seu meio irmão caçula para ele. Com as únicas opções de aceitar o menino o...