Capítulo 26

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E chegou a Páscoa.

Diego e Marcelo não eram religiosos, não seguiam nenhuma crença ou coisa parecida, mas acreditavam que celebrar algumas datas do calendário valia a pena para reunir a família e os amigos.

Alguns dias antes a professora de Paulo, Marta, tinha levado uma caixa com pequenos ovos de chocolate para as crianças e o menino contou que Emmanuel, o garoto que sempre implicava com ele (e agora com Agatha e Luís também), devolveu o que ganhou dizendo que sua mãe não ia gostar que levasse para casa. Ao ouvir a história, Diego que já tinha pegado ranço de Olinda, revirou os olhos enquanto Marcelo apenas ouviu a narrativa do garoto em silêncio, mas percebeu a reação do marido a menção ao outro garoto.

E naquele final de semana a mãe de Marcelo, Rita, veio visitar.

Ela se hospedou em uma pousada no centro e se ofereceu para fazer o almoço de Domingo. Marcelo havia contado para a mãe sobre Paulo e a mulher estava ansiosa para conhecer o menino e disse pelo telefone "de certa forma é quase como se você tivesse me dado um neto!".

Ela não tinha aceitado a sexualidade do filho logo que ele se assumiu, levou alguns bons anos fingindo que Marcelo ainda era hétero e tentando juntá-lo com garotas da cidade, até que, quando ele anunciou o casamento com Diego, Rita viu que ele estava falando sério e que se não começasse a aceitar o filho como ele era, ia perdê-lo para sempre.

Quando Rita chegou Domingo de manhã, Paulo estava ajudando Marcelo a lavar os dois carros na área da frente e ao ver a mulher alta e robusta com pele bronzeada, cabelos cheios negros e cacheados e um sorriso largo, o menino se escondeu atrás do rapaz.

– Paulo, essa aqui é a minha mãe, Rita. Mãe, esse é o Paulo. – a timidez não durou muito, já que Rita o conquistou oferecendo um ovo de chocolate que tirou da grande sacola de palha que carregava. Dentro de casa, Diego tinha escondido outro ovo no armário, deixado por Mayara na quinta-feira. Eles tinham entregado o que compraram logo de manhã para o menino que pareceu maravilhado com o presente.

– Como se diz? – Marcelo inquiriu quando viu que o garoto ia correr para dentro abrir a embalagem. Paulo parou no meio do caminho e virou-se para olhar a mulher e responder esboçando um pequeno sorriso tímido.

– Obrigado, Dona Rita. – viu a mulher sorrir e sentiu a mão rechonchuda dela acariciar seus cabelos e dizer como ele era um rapazinho bem educado. Sentiu o rosto esquentar em resposta.

Aquele era o segundo ovo de chocolate que ganhou na vida, já que seu pai não aprovava aquele tipo de coisa em casa. No que ganhou de Diego e Marcelo, veio uma miniatura do Homem-Aranha de brinde e naquele, dado por Rita, havia vários bombons deliciosos.

– Muito bem mocinho; vamos guardar isso pra depois ou então você não vai almoçar hoje. – ouviu o irmão declarar enquanto retirava os pedaços de ovo das suas mãos. Paulo ficou meio chateado e até quis reclamar, afinal, o chocolate era seu, mas sabia que era verdade, se comesse o doce, não iria querer almoçar depois.

– Agora vai lá no banheiro e lava as mãos, que a Dona Rita vai me ajudar com o almoço... Dona Rita, como a senhora está? Fez boa viagem? – viu a mulher entrar pela porta, depositando a grande sacola de palha no chão e abraçando Diego forte o bastante para deixá-lo sem ar. Ela falava engraçado, meio como se estivesse cantando. *

Iam comer macarronada e frango assado, preparados pela mãe de Marcelo com a ajuda dos dois. Paulo ficou observando todo o processo na cozinha com atenção enquanto ouvia a mulher perguntar sobre o trabalho deles e há quanto tempo o menino estava morando lá.

– Desde janeiro, foi uma surpresa e tanto, um domingo eu acordei com a ligação da assistente social me dizendo que minha mãe me indicou no testamento para ser tutor dele, caso algo acontecesse com ela. Mas até que nós estamos nos virando bem aqui, né Ma? – Diego olhou para o marido por sobre a cabeça da sogra e viu ele concordar com um gesto de cabeça enquanto colocava o frango no forno.

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