Capítulo 58

38 5 0
                                    


Estava sentado na cama ao lado de Marcelo. Paulo já tinha ido dormir e Diego mexia no celular, olhando as milhares de mensagens que as mães do grupo da escola tinham deixado, nas poucas horas que o espaço foi criado no whats app e pensando que aquelas mulheres pareciam um pouco exageradas.

Tinha sido sugestão de Marta na ultima reunião de pais e mestres, criarem um grupo onde ela colocaria conteúdos extras para as crianças e fotos dos passeios que eles fariam naquele ano. No primeiro momento Diego achou uma ideia muito boa, até começar a receber aquela enxurrada de mensagens e desativar as notificações.

— Caramba! — reclamou baixinho, ouvindo o marido perguntar o que foi.

— Essas mães, se elas pudessem, eu acho que mandavam os filhos pra escola naquelas bolhas de plástico impermeável. Olha essa aqui! — e mostrou uma mensagem em que uma mãe dizia que a filha não deveria fazer educação física porque ela poderia cair e quebrar o braço ou a perna.

— E a coisa só piora. Além do que eu sou o único "pai" do grupo. — Diego frisou a palavra fazendo aspas com os dedos enquanto fechava o aplicativo e colocava o aparelho pra carregar ao lado da cama.

— Eu quero estar a par da vida escolar do Paulo, mas essas mães... Aff. — deitou ao lado do marido e o encarou por longos segundos e então se lembrou daquele pensamento infeliz que teve ao vê-lo com Mayara e Paulo na sala.

— Hoje mais cedo eu tive um pensamento muito idiota... Idiota mesmo, mas eu queria te contar, posso? — viu Marcelo concordar com um gesto de cabeça e então falou sobre a sensação de que aquela imagem fazia muito mais sentido do que ele criando o irmãozinho com o marido.

— Idiota né? Eu sei. Essa minha ansiedade tá ficando cada dia mais fora de controle, mas eu não quero ter de ir atrás de tratamento... E daí eu fico contando essas coisas tão... Burras pra você! — fechou os olhos enquanto sentia o rosto esquentar de vergonha e suspirava cansado, mas quando sentiu o toque macio dos dedos de Marcelo em sua bochecha, abriu as pálpebras, encarando-o silencioso.

— Tá tudo bem. Digo, eu sei que não tá tudo bem como a gente gostaria que estivesse... Mas eu te entendo. A pressão lá fora pra que a gente entre num perfil de "família tradicional hétero" é forte pra caramba, mas se você quer saber, acho que estamos fazendo um trabalho melhor que muito casal hétero por ai criando o Paulo. Veja por exemplo aquele menino que vive implicando com ele... O...Como é mesmo o nome? — Diego soltou um risinho amargo e complementou, "Emmanuel".

— O nome de um valentão a gente não esquece tão fácil. Bom, você tem razão. O Paulo me contou que ele apareceu com o braço quebrado e no grupo das mães, do qual a Olinda não faz parte (ainda bem), elas estavam falando que o pai bate nele e nos irmãos. — lembrou do choque com que o irmãozinho contou sobre o garoto com o braço quebrado.

— Acho que eu nunca seria capaz de dar um tapa sequer no Paulo. — disse por fim, enquanto era abraçado pelo marido e começava a querer adormecer.

— E é isso que te faz uma boa figura paterna, Diego. Desde que ele chegou aqui eu só vi você se desdobrar pra cuidar bem do menino, prover tudo o que ele precisa e dar o apoio que ele tem de receber. — em resposta Diego murmurou meio adormecido "Se você não tivesse me ajudado, não estaria dando certo".

— Tá bom, você tá certo. — beijou a testa do marido e o ouviu ressonar adormecido, mas o sono ainda demorou um pouco para alcançar Marcelo que ficou encarando um ponto de luz na parede e pensando como poderia dar mais apoio a Diego durante aqueles episódios de ansiedade.

***

Mais cedo naquele dia, Joaquim tinha chegado exausto da loja, pois após Lola ter ido embora, apareceram várias clientes querendo comprar kits específicos de produtos, que estavam no fundo da loja, na área de estoque, o que fez com que o rapaz tivesse de se dividir entre ficar de olho na loja e ir nos fundos buscar os produtos.

Lar é onde o coração estáOnde histórias criam vida. Descubra agora