Capítulo 70

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Os dias seguintes passaram rápido.

E para Paulo, as coisas não pareciam boas. Desde o empurrão que Agatha lhe deu naquele Domingo, ele e a menina não tinham mais se falado e isso já estava indo para duas semanas. Dali alguns dias eles voltariam às aulas e o garoto não sabia como iria se comportar ao rever a menina, que agora não conseguia mais chamar de "amiga".

Naquele dia, ele estava sentado no chão, debruçado sobre a mesinha de centro da sala, colorindo sem grande vontade, enquanto dava umas espiadas no desenho que passava na tevê. Tinha se recusado a tomar café da manhã e mal comeu o almoço, apesar da insistência gentil de Mayara.

A moça, que estava sentada no sofá e fingia ler, observava a postura do menino e se preocupava. Já estava a par de toda a situação, Diego a havia inteirado, mas, ela pensava que talvez se Vanessa tivesse contado o que fez a menina reagir daquele jeito, toda aquela situação poderia ser evitada. Claro que ela entendia os motivos da mulher não ter contado, mas ainda assim, ver o menino daquele jeito cortava seu coração.

— Paulo, quer ir dar uma volta na pracinha? O Diego disse que você pode tomar um sorvete lá, se quiser... — arriscou a moça, mas para seu azar o menino não demonstrou qualquer interesse. Na verdade, ela viu o garoto dar de ombros como se dissesse "tanto faz".

— Olha, eu acredito que as coisas vão se acertar entre você e a Agatha, muito em breve. — comentou, percebendo que ao mencionar o nome da menina, Paulo desviou a atenção da tevê por alguns segundos, para encará-la.

— Acha mesmo? Ela tava muito estranha aquele dia... Não queria brincar, não queria conversar e ainda me empurrou do brinquedo! E nem pediu desculpas! O Diego sempre me diz que é importante pedir desculpas quando faço algo que machuca alguém... — o tom de voz magoado fez Mayara se inclinar e puxá-lo com gentileza para cima do sofá e o embalando num abraço apertado e então, o ouvindo chorar baixinho.

***

Do outro lado da cidade, Joaquim já havia conferido o gabarito e viu que tinha acertado mais de 60 questões, o que era quase certeza que ele havia passado na prova. Tal constatação o deixou animado, apesar de se sentir exausto no dia seguinte à prova, ele foi trabalhar com um sorriso no rosto, sabendo que estava conseguindo mudar seu futuro para melhor aos poucos e que tinha o apoio total do namorado nisso.

Naquele momento estava almoçando com Francisco, que como sempre, trazia comida para os dois.

— Vai ser puxado, eu sei, mas vai valer tanto a pena! Claro que um curso técnico não é o mesmo que uma faculdade, mas já é alguma coisa na hora de arrumar um emprego, certo? — explicou o loiro para em seguida colocar uma garfada de comida na boca e então sorrir.

Francisco, que estava sentado à sua frente na pequena mesa na copa que ficava nos fundos da loja, sorriu em resposta, mas em sua mente não conseguia se preocupar com o risco do namorado acabar tendo um esgotamento mental ao ter de se desdobrar entre trabalho e estudo.

— Você consegue! E sabe que eu vou te dar todo o apoio que puder, né? — perguntou por fim, esboçando um sorriso que esperava transmitir confiança, quando na verdade, estava preocupado.

Não conseguia evitar, para Francisco, o namorado, que já havia sofrido um bocado para alguém tão jovem, precisava ser cuidado e protegido, mas, após ver que o loiro queria criar sua independência, fosse indo a pé para o trabalho ou começando um curso técnico à noite, percebeu que estava, mesmo que inconscientemente, sendo super protetor e pensou que precisava parar com aquilo, por mais automático que fosse o habito de tentar cuidar e proteger Joaquim.

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