Capítulo 15

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Assim que Paulo entrou no carro, deu de cara com Talita sentada no banco de trás. Ela parecia ter a sua idade e sorriu exibindo uma janelinha em que faltava dois dentes de leite bem na frente. A menina usava o cabelo castanho preso em duas tranças que caiam pelos ombros e vestia uma jardineira jeans vermelha com uma camiseta por baixo.

– Oi, meu nome é Talita, qual é o seu? – a ouviu disparar assim que fechou a porta de trás do carro. Paulo estava um pouco sem jeito, afinal aquela menina era a primeira criança que via em mais de um mês, mas respirando fundo respondeu que se chamava "Paulo e tinha seis anos".

– Legal! Eu também tenho seis anos! – a escutou responder e sentiu-se relaxar um pouco. Eles começaram a conversar sobre desenhos animados e outras coisas que eram interessantes para crianças da idade deles e muito antes de chegarem ao parque, já tinham se tornado amigos.

Nos bancos da frente, Letícia e Mayara trocaram um sorriso e um olhar cúmplice, celebrando em silencio a nova amizade que acontecia.

***

Após estacionarem no espaço reservado para os carros na frente do parque, Letícia abriu o porta-malas e entregou nas mãos das crianças duas pipas bonitas, a de Talita parecia uma enorme tartaruga transparente, com cabeça, patas e detalhes do casco em verde, enquanto que a de Paulo era um enorme polvo vermelho, que para o menino, lembrou-lhe mais uma aranha.

– Você sabe soltar pipa? – Talita perguntou enquanto corriam para dentro do parque, sob os gritos da tia de "não vão muito longe!" ao que o menino negou com um gesto de cabeça e viu a garota sorrir de novo, confiante.

– Tudo bem, eu te ensino. – Letícia gritou que ela e Mayara ficariam sob aquela arvore perto do espaço para soltar pipas e que os dois não sumissem da vista delas. As crianças gritaram que não iam sumir e correram alegres para o grande espaço de terra batida aberta do parque.

Letícia viu Mayara sacar o celular e começar a tirar fotos de Talita ensinando Paulo como botar a pipa no ar. Ela exibia um sorriso bonito e cativante que fez o coração de Letícia pulsar mais rápido. Mesmo que por enquanto elas não tivessem tido nenhum contato físico além do toque de mãos, sentia que podia esperar o tempo que fosse necessário até que a outra sentisse o mesmo que ela.

Sentou-se ao lado da moça e estendeu a toalha com estampa floral no chão, pegando o cooler que tinha trazido consigo e exibindo uma variedade de sanduíches e sucos de garrafinha.

– Você que fez? – ouviu Mayara perguntar e respondeu que se ela falava dos sanduíches, sim, tinha sido ela. Acomodou as mochilinhas das crianças ao lado do cooler e encostou-se ao tronco frondoso da arvore, suspirando. Não tinha um dia de folga há quase um mês.

Enquanto isso, as crianças corriam com as pipas e Paulo se maravilhou de ver a sua alçar voo e plainar no céu. Talita lhe disse para dar mais linha se quisesse ver ela subir mais e tomar cuidado para que não se enroscasse na das outras pessoas.

– May, olha! Tá voando! – ele gritou animado e sorrindo, ao que a moça, após responder com um gesto de positivo, tirou mais uma dezena de fotos, que enviou para Diego com a legenda "Olha esse sorriso!".

– Eu o conheço há pouco mais de um mês e nunca o vi sorrir assim. – murmurou May enquanto pescava uma garrafinha de suco no cooler, passando por cima de Letícia e deixando seus seios roçarem no braço da moça de forma inconsciente.

– Pelo que você me contou, ele passou por um bocado de coisas tristes demais pra uma criança. – comentou Letícia enquanto respirava fundo.

– Sim, foram muitas mudanças drásticas de uma só vez. Mas, o Diego e o Marcelo o receberam bem e estão cuidando dele. Pensar que mês passado ele não falava e quase não sorria e agora olha ele ali. É como ver outra criança. – ela falava com carinho sobre o menino e isso não passou despercebido por Letícia, que sorriu.

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