Os três ficaram mais alguns segundos na porta da casa depois que Rosário já havia partido e então, quando a situação começou a se tornar desconfortável, Diego fechou a porta e abaixou-se para ficar na altura de Paulo e perguntar se ele estava com fome.
O garoto fez um gesto positivo com a cabeça e Diego teve certeza de que aquela seria a forma de se manifestar do menino por algum tempo e que ele e Marcelo teriam de aprender a interagir com o garoto e formular perguntas simples, que pudessem ser respondidas apenas com "sim" e "não".
Na cozinha, fez um sanduíche de queijo e presunto na sanduicheira e encheu um copo de suco de laranja, sempre perguntando antes se Paulo gostava de comer aquilo que iria servir e vendo o menino concordar com seu gesto silencioso de cabeça.
Ele parecia uma criança gentil, mas ao mesmo tempo demonstrava um medo visível nos olhos, o que por um lado era totalmente compreensível, afinal ele não só perdeu a mãe, como veio morar com dois completos estranhos.
Enquanto Paulo comia em silencio sentado a mesa da cozinha, Marcelo observava o marido oferecendo tudo o que podia imaginar que o garoto gostasse de comer, em uma tentativa obvia de agradá-lo e viu Paulo concordar a cada pergunta, mas se tornando menos confiante a cada gesto de resposta.
– Di, eu acho que ele não consegue comer tanto assim, então talvez seja melhor deixar só o lanche e o suco por enquanto, mas já sabemos que ele gosta de vários alimentos, não é, Paulo? – ainda não sabia por que o menino não falava, apesar de imaginar que Rosário tivesse contado a informação a Diego, ele não queria perguntar aquilo na frente do menino.
Em resposta a sua pergunta, Paulo deu um sorriso minúsculo e tomou um gole de suco. Marcelo não sabia explicar, mas nos poucos minutos que ficou perto do garoto, desenvolveu uma grande empatia por ele.
– A Rosário me disse que no abrigo, as crianças iam pra cama as oito, já é quase esse horário, então rapazinho, termina de comer e vamos colocar o pijama pra você dormir, certo? – mais uma resposta gestual do menino, que obedecendo, terminou o sanduíche e bebeu o ultimo gole de suco, para em seguida colocar o copo sobre o prato, ambos vazios.
Diego pegou a louça e colocou-a na pia e em seguida levou o irmão até o quarto, observando o garoto se maravilhar mais uma vez com a decoração e os brinquedos que havia no cômodo.
Ele então entrou no quarto e abrindo a gaveta do meio da cômoda apresentou a Paulo uma série de pijamas de mangas curtas e longas, com estampas dos super heróis mais conhecidos da criançada.
– Qual você quer vestir hoje? – Paulo olhou por quase um minuto dentro da gaveta até encontrar um com pequenas estampas do homem-aranha. O garoto ficou se perguntando como eles sabiam que aquele era seu personagem favorito?
– Certo, será este então. Você quer ajuda pra se trocar? – ao que o menino respondeu com um meneio negativo frenético de cabeça enquanto exibia aqueles grandes olhos arregalados castanhos.
– Tudo bem. Então eu vou ficar aqui fora e quando você terminar de se trocar, é só abrir a porta, tá bem? – Diego saiu e fechou a porta do quarto, encontrando Marcelo em pé no corredor.
– Ele disse que se veste sozinho. – mais uma vez a duvida acertou sua cabeça como um sino, não sabia nada sobre cuidar de crianças, ainda mais uma que passou por um trauma tão grande e que com certeza havia ouvido muitas histórias de terror nas quais ele era o monstro. Tinha medo de não conseguir ser o suporte familiar que Paulo precisava naquele momento.
Foi retirado de seus pensamentos ao ouvir o som rangido da porta se abrindo e então o garoto saindo, descalço, trajando o pijama, a camiseta de mangas curtas e a calça comprida de elástico e ao ver que Diego estava mesmo ali esperando, a criança esboçou outro daqueles sorrisos diminutos, mas, ao mesmo tempo tão repletos de sentimento.
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Lar é onde o coração está
RandomA vida de Diego mudou completamente quando ele recebeu uma ligação num Domingo de manhã, informando que sua mãe, com quem ele não falava há anos, faleceu e deixou a guarda de seu meio irmão caçula para ele. Com as únicas opções de aceitar o menino o...