Nós ficamos nos encarando, minha mala ainda meio aberta pendendo por minhas mãos e a respiração irregular pela fúria recente. Eu esperei que ele dissesse algo. Que se explicasse, porque para ser sincero, eu não estava com paciência nem mesmo para ele. Mas tudo que ele fazia era me estudar com aqueles olhos escuros como se eu fosse algum tipo de equação.
Os olhos dele não eram como os de Jason, apesar de partilharem a cor. Os olhos de Jason podiam te enlouquecer, eram tão predatórios que intimidavam. Os olhos de Sean eram calmos a maior parte do tempo, embora estivessem turbulentos no momento.
Ele engoliu em seco.
-Oi.
-Você já me disse isso.
Seus lábios se repuxaram, e eu vi que ele trocou o peso dos pés.
-É, eu disse. Desculpe.
-Desculpe por ter repetido a mesma frase, ou por ter praticamente me intimado no seu carro na outra noite?
Ele desviou o olhar rapidamente, colocando as mãos no bolso de seu moletom de forma abrupta. Ele não disse mais nada por um tempo, apesar de sua boca abrir e fechar dezenas vezes.
-Então?
Mas ele não disse nada.
Eu estava cansado. Cansado e irritado. Minha cabeça não funcionava da maneira correta no momento, um turbilhão de personalidades e sentimentos ameaçavam tomar conta no mínimo deslize. Então eu fui. Puxei a mala com força o suficiente para deixar os nós dos meus dedos brancos e desviei da figura de Sean para encontrar o gramado morto pela estação fria. Eu pude jurar ter escutada a voz de alguém, mas eu voltei minha atenção para o celular e como pediria um Uber rapidamente.
Eu resolvi seguir o plano de permanecer encarando a rua escura até o Uber chegar. Ter um Uber trabalhando hoje era o mais próximo de um milagre natalino que eu receberia, e eu pretendia não desperdiçar. Mesmo que estivesse congelando aqui fora e Sean continuasse gaguejando logo atrás de mim.
Segundos. Eu estava a segundos de ter um segundo surto ou desmaiar, quando felizmente o Uber chegou. O motorista me cumprimentou vagamente pelo retrovisor, mostrando que seu clima natalino estava tão vívido quanto o meu. Eu podia viver com isso.
Sean me parou antes que eu pudesse entrar no carro.
-Eu quero... pedir desculpas pela outra noite. E por todas as noites que eu te decepcionei, e todas as noites que eu não estive para você- ele suspirou, o seu hálito condensando na noite. -Eu estava com medo. Droga, eu estou com medo. Eu não sei o que está acontecendo comigo agora, mas sei que...
Ele parou. Parou.
-Mas sei o que, Sean?
Ele me beijou. Não demorou muito, apenas o suficiente para sentir o gosto doce em sua língua e uma intensa troca de suspiros...
Qual era o meu problema?
Eu o empurrei com o que sobrou das minhas forças, minha respiração irregular tanto pelo curto beijo quanto pela minha confusão interna.
Tudo que eu pude fazer foi continuar respirando profundamente enquanto nós nos encarávamos, eu ainda estava em posição defensiva e Sean estava paralisado.
-Por quê agora?- foi tudo que eu consegui dizer, meus olhos tomados por lágrimas de vergonha.
-Eu.. me desculpe..
Passos estavam audíveis atrás de mim, e eu pude escutar a porta da casa de Sean bater com muita força.
-Sean?!- gritou uma voz feminina estridente.
-Call?- Jason chamou, a voz rouca como uma súplica.
Eu me virei, desejando com todas as minhas forças não existir mais. Jason. Meu Deus, Jason não merecia isso. O que eu fiz?
Eu não sabia se ainda respirava quando o encarei, mas eu jurei sentir meu coração se partindo ao ver sua expressão. Decepção. Eu nunca tinha visto aquele olhar sobre mim. A tristeza.
Eu dei um passo para frente, apenas para ver ele se afastando de mim, quase que automaticamente. Uma lágrima rolou de meus olhos.
Eu nunca estive tão envergonhado, tão.. enojado de mim mesmo.
-Tucker...
Ele balançou a cabeça negativamente, ao mesmo tempo que um tapa foi desferido no rosto de Sean.
-Você me deixou na droga da mesa sozinha para beijar seu vizinho?!- uma garota de mais ou menos um metro e sessenta e muita personalidade gritou.
-Dina, desculpe.
-Essa é a única coisa que você sabe dizer? Desculpas?- eu me virei para ele. -Por quê você tinha que fazer isso, agora? E ainda por cima não me contou que tinha uma namorada.
A garota se voltou para ele com uma expressão de dragão cospe fogo.
-Você retribuiu.
-Por uma droga de segundo, é o que geralmente as pessoas fazem!
-Você retribuiu?- Jason perguntou.
Eu me voltei a ele, dessa vez incapaz de olhar em seus olhos.
-Eu fui um idiota por corresponder por esse um segundo e..
-Você odiou o beijo?- Sean perguntou, indignado.
A garota mandou-o para o inferno antes de sair como um furacão para a casa.
Os dois estavam me olhando. Um que repulsa, outro com dúvidas. Um com decepção, outro com esperança.
Meu Deus, o que eu havia feito?
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Colega de quarto (para revisão)
Teen FictionA vida de Calvin Stratford era perfeitamente organizada, com cada passo planejado, desde a faculdade dos sonhos ao apartamento tão esperado. Mas tudo vira uma bagunça depois que ele descobre ser colega de quarto do irresponsável, idiota e mulherengo...