Capítulo 46

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Eu tentava sem sucesso acalmar meus nervos enquanto me vestia.

Eu estava na casa de Gen quando decidi que aquilo era uma ideia estúpida. Foi quando eu percebi também que ficava ridículo de meia arrastão.

Gen me encarava de maneira esquisita do pequeno espelho elaborado que ela usava para fazer baby hair. Ela não falou muita coisa desde que cheguei, o que é algo terrivelmente incomum. Ainda mais depois que sumi por um tempo.

Quando apareci em seu apartamento, encharcado em minhas lágrimas e com uma cara de psicopata Gen apenas me olhou por um tempo, como se estivesse satisfeita de eu estar vivo mas tivesse medo de dizer algo e estragar tudo. Me senti um traste por deixá-la assim.

-Desculpe por..

-Tem certeza que o melhor pra você agora é ir para uma festa pesada como essa?- ela diz na mesma hora.

Eu deslizo uma camisa que peguei emprestada. Ela tinha duas aberturas nos lados, possibilitando a visão das minhas costelas até o quadril.

Claro que eu não estava pronto para ir em uma festa como aquela. Eu deveria ter ficado em casa chorando e tomando chá de camomila.

-Não. Mas eu tenho que tentar- eu digo, dando de ombros.

Gen suspira.

-Você me deixou preocupada- ela sussurra, terminando seu delineado. Ela agora não mantinha contato visual pelo espelho.

-Eu sei.. eu tive uma semana pior que da última vez que nos vimos. Eu ando tento pesadelos com alguém e..

-Que pesadelos?

Engulo em seco.

-É melhor conversarmos sobre isso quando eu estiver sobre efeito de álcool- eu respondo, colocando um colar qualquer e calçando meus tênis de cano alto surrados.

Gen não insiste depois disso.

Pegamos um Uber pouco depois, dando o endereço do qual nunca fui. Já conseguia escutar as vibrações de música quando chegávamos na esquina. Meu corpo começou a tremer com varias possibilidades do que podia dar errado e eu pensei em pedir para o motorista voltar para a casa de Gen para podermos comer sorvete e conversar como pessoas comuns. Ou podia ser o frio.

Eu desci do carro de qualquer forma. Minha mente aérea demais para me concentrar em uma coisa só. Me lembro da última vez que eu vim a uma festa.

Não acabou bem. Não acabou bem porque tudo que eu fiz foi por impulso. Não sei ao certo porque me lembrei disso. Talvez a música eletrônica ensurdecedora, ou os garotos vomitando apoiados em amigos me trouxeram uma nostalgia incomoda.

Gen tocou meu ombro, me fazendo pular do lugar.

-Está tudo bem? Você está encarando a entrada a três minutos, e nem ao mesmo respirou quando alguns jogadores bêbados mexeram com você- ela disse.

Eu pisco.

-Está tudo bem. Só me perdi nos meus pensamentos um pouco- eu asseguro.

Gen toca meu ombro de novo como conforto. Eu me sinto ridículo por isso, então eu entro.

A festa da última vez não é nada comparada com essa.

As pessoas pareciam extasiadas. Encharcadas de suor e se esfregando umas com as outras. Eu vi uma garota passar por mim engolindo uma pílula.

-Deus, eu não sabia que seria assim- eu gritei para Gen.

-Eu disse a você que as festas da KAPA não são brincadeira- ela respondeu, gritando também.

Colega de quarto (para revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora