Capítulo 16

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Apoiei o celular entre os ombros e a bochecha, tentando subir a escada de ferro o mais rápido possível e me amaldiçoando mentalmente por ter tirado o short.

-Desculpa, se tava falando o quê?- questiono ao me acomodar na cama.

-Perguntei quem era aquele- ele repete, meio irritadiço.

-Meu colega de quarto, Jason Tucker.

-Nome ridículo.

-Eu gosto de Tucker.

-Hm, mas o quê tava rolando? Sua voz tava abafada quando atendeu.

Não da pra mentir pra ele, nem tente.

-Estávamos tendo uma pequena discussão- minha voz sai em um tom estranho.

-Por que?

-Hm.. é que..- balbucio -As vezes ele consegue ser, arrogante.

-Conta logo por que brigaram Calvin, não é como se eu fosse pegar um avião pra ir resolver as coisas com ele.

Mordo a cutícula do indicador.

Ele está certo, não é como ele fosse pegar um avião e vir para ponta do país para se resolver com o Jason.

-Tudo bem, eu falo- digo em um tom arrastado -Ele tava de cueca, e eu pedi pra ele por uma roupa, e como sempre ele começou a achar que aquilo era porque eu não conseguia olhar para ele sem me sentir exi..

-Ele anda de cueca pela casa?-Sean me interrompe.

-Não, fez isso para me irritar- mordo a cutícula novamente.

-Ele não pode fazer isso- a voz dele saiu grave da linha.

-Tecnicamente, ele pode sim. Ele paga metade do aluguel, então pode sair como bem entender pela casa. E também, garotos ficam pelados na frente uns dos outros o tempo todo, mesmo eu odiando.

-Mas você não é qualquer garoto, Calvin.

-Sean- suspiro -Já conversamos sobre isso.

-Ele sabe sobre a sua sexualidade?

Engulo em seco.

-Ele me pegou olhando para uma tatuagem que ele tem a cima do umbigo uma vez, provavelmente já deve ter deduzido.

-Tatuagem?

-É. Ele basicamente tatuou Honey na própria barriga, como eu disse, ele é muito arrogante.

-Você fica olhando para a barriga dele?

-Foi só uma vez.

Mentira.

-Mentira- ele diz.

-Essa não é a questão tudo bem?- minha voz altera - Ele é um escroto.

-Tá legal- murmura -Ainda bem que disse isso. Liguei pra ver se estava bem. Depois daquele dia na festa...

-Aquilo foi... foi só.. merda- balbucio.

-Pode me contar Call- ele diz, de maneira doce.

Suspiro.

Eu deveria contar?

Claro que deveria, é o Sean.

-Eu estava tendo uma crise, liguei para você pra tentar me animar e me senti ridículo, quando percebi que estava no sofá a sexta noite aos prantos enquanto você estava em uma festa, como todos os universitários normais.

-Call..- ele tenta.

-Nem tenta- suspiro -Você deve ter acabado com o estoque de camisinhas da farmácia enquanto eu não faço sexo desde o segundo grau.

Ele ri por um segundo antes de soltar.

-Pera, você transou no segundo grau?

Se eu mordesse a cutícula de novo iria sangrar.

-Foi só uma vez- minto.

Depois daquele dia.

-Com quem?

-Alisson.

-A loirinha da banda?

-Sim- coro.

-Nunca ficou com nenhum garoto?

Engulo em seco.

-Não.

-Hm.

Memórias involuntárias invadiram minha mente.

"Eu nunca te machucaria, nunca te faria de bobo"

"Você tá bêbado"

Afasto os pensamentos.

-Sean, a gente se fala depois. Tenho que fazer um trabalho- digo antes de desligar

Nem deu tempo para ele se despedir.

Eu entro em pânico todas as vezes que lembro disso, mas não deveria. Ele estava bêbado, e mesmo assim pensava no meu bem estar.

Acabei fazendo alguns resumos e alguns trabalhos adiantados, já que eu tinha tempo de sobra.

Sem provas. Sem compromisso marcado e até agora sem ligar pros meus pais.

Tempo.

De.

Sobra.

Meu marca-texto azul estava falhando.

Tinha que arrumar um emprego logo, a partir disso que vou ser totalmente independente deles.

Bom, não tinha que me preocupar com a faculdade, já que sou bolsista.

Mas fora isso tem os materiais, o aluguel, minhas roupas e a comida como despesa.

Com certeza não posso ser garçom, trabalharia feito um louco por uma mixaria e provavelmente os horários não bateriam com a minha agenda.

Era cedo demais pra procurar um estágio, além de que eles não iriam me pagar.

Suspirei de novo, vou pensar nisso mais tarde.

Coloquei um lembrete no meu celular para fazer um currículo e distribuir terça.

Felizmente, já tinha acabado com os resumos, o que me dava tempo para ver um filme ou um seriado barrela.

Fechei meu marca-texto e guardei o restante das minhas coisas, descendo a escada momentos depois.

Me joguei no sofá, me abraçando a uma almofada grande. Momentos depois a porta de Jason se abre.

Decidi assistir De repente Trinta de novo.

-Como foi o papo com seu namorado?- ele pergunta de forma arrogante, de pé na ponta do sofá.

Você não pode se rebaixar ao nível dele.

-A gente fez sexo virtual, não escutou meus gemidos?- eu virei meu rosto para olhá-lo.

Ele engoliu em seco e por fim arqueou as sobrancelhas, deixando a sala.

Apertei o play e comecei a assistir.

Colega de quarto (para revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora