Capítulo 67

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~Gen

A agulha deslizou com facilidade na carne, não doía mais, mas o metal ainda incomodava a pele e eu fazia todo o processo de injetar a dose o mais rápido possível para retirar aquilo de dentro de mim.

A marca em minha bunda parecia ser permanente. Eu não sei a quanto tempo tinha começado a se espalhar, mas claramente estava grande. Talvez eu devesse ter mais cuidado ao enfiar agulhas em mim.

Calvin não estava na cidade, e para falar a verdade, eu não recebia notícias dele desde sua chegada para o feriado. Imaginei que nada de bom devia ter acontecido nesse tempo em que ficamos sem contato. Ele provavelmente deveria estar surtando, ou se não, a ponto disso.

Foi uma estupidez minha sugerir que Jason fosse nesse feriado. Nem Calvin deveria ter ido; eu poderia ter poupado seu namorado das garras de sua família, afinal, eles engataram o relacionamento a pouco mais de um mês.

Não me impressionou, para falar a verdade. Eu soube que algo tinha acontecido depois da segunda festa em que Calvin apagou, quando Jason entrou em pânico ao impedir que eu fosse acordá-lo. Foi fácil juntar as peças. Jason estava com um vergão recente no pescoço. A camisa fez pouco por ele além de esconder o que provavelmente deveria ter se estendido para as costas, e Calvin estava usando uma camisa que batia em suas cochas quando fomos sair, preta e com as mangas rasgadas. Nada mais a ser dito.

Eu não me ressentia por ele não me contar sobre seu relacionamento (meio conturbado) com Jason, afinal eu também tinha segredinhos sujos, mas eu tenho que admitir que eu gostaria de ter conhecimento disso antes. Provavelmente deveria ter começado depois da festa de Halloween, quando Jason o levou para casa, mas eu resolvi nunca tocar no assunto. Odiava deixar as pessoas desconfortáveis.

Além disso, eu tinha mais com o que me preocupar. Ele tinha começado a piorar, e eu realmente fiquei com receio de que ele fizesse algo, juntamente com as toneladas de trabalhos, problemas com a família e burradas que faziam meu cabelo cair.

Eu tentei ignorar as vozes em minha cabeça ao me vestir. Tentei cobrir tudo com a base e a sombra brilhosa. Tentei esconder com uma meia 3/4 preta e coturnos. E ao terminar, eu não me sentia mais patética.

Eu sabia que eles gostavam. A saia era curta o suficiente para dar visão total as minhas pernas, e a blusa apertada o suficiente para mostrar meus mamilos. O chocker de renda realçou meu pescoço. Tentei meu melhor olhar para transparecer segurança e sensualidade.

Eu conseguiria. Era apenas mais um.

Eu desviei a atenção do espelho quando o celular vibrou na cama, e eu rapidamente caminhei até ele.

-Estou louco para te pegar de jeito 😈

Eu não vi o rosto dele, provavelmente o nome que está usando é falso, e ainda por cima ele usa emoji. Eu deveria ficar, Charlie viria aqui se eu o chamasse. Talvez se eu desse uma chance, talvez se eu deixasse ele provar que..

Não. Ele vai te machucar.

O torso e o emoji deveriam ser suficientes então.

Atravessei a cozinha, buscando por algumas das coisas que eu talvez precisasse e depositando na bolsa. Minha cabeça doía com toda a informação. Eu estava ficando louca, como se eu fosse chorar, gritar ou virar uma total narcisista. Eu imediatamente corri para os armários.

Minhas mãos agarraram o frasco em tempo recorde, mas o que veio depois me deixou aflita. Só tinha mais um.

Eu suspirei, aquilo deveria servir.

Eu esperei sentada ate fazer algum efeito, mas veio no final. A calma. Não tinha mais voz alguma na minha cabeça. Nenhuma versão minha pronta para eclodir. Apenas... isso.

Pronta. Eu estava pronta para isso.

O Uber, para a minha "alegria", não demorou a chegar, e eu passei as informações necessárias enquanto ele me olhava pelo retrovisor.

Por algum motivo, aquilo me deixou desconfortável. A forma como ele me olhava. Mas eu não sabia por quê. Afinal, era isso que eu queria, não é?

O carro parou em cerca de quinze minutos de viagem, mas eu deveria ter demorado pelo menos dez para descer

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O carro parou em cerca de quinze minutos de viagem, mas eu deveria ter demorado pelo menos dez para descer.

O motorista agora me olhava de forma impaciente enquanto eu apenas encarava fixamente a porta do quarto pela janela. 77. Era no térreo, e eu podia ver a luz que vinha por baixo da porta.

Depois do quarta tossida forçada do motorista, eu desci do carro, atravessando o estacionamento molhado pela garoa com a ansiedade a flor da pele, mal processei o que  eu estava fazendo ate ver que a porta se abriu para mim.

A meia luz do quarto dificultava a visão de seu rosto, mas eu pude notar que seu cabelo era loiro e que era alto, quase tão alto quanto o namorado de Calvin. "Entre", ele comandou, embora ele tentasse amenizar com o que parecia ser um tom agradável.

Dê meia volta e saia, ainda há tempo. O Uber está mandando mensagens pelo celular..

Mas eu entrei.

Ele me conduziu até a cama de primeira, o que não me impressionou, já que a maioria fazia o mesmo.

-Qual é o seu nome?- ele questionou, a voz aveludada.

-Clear- respondi, automaticamente.

Ele se aproximou dois passos, onde a luz prevalecia.

-Meu nome é..

Os olhos dele.. eu já tinha visto esse homem. Meses atrás, na última festa que Calvin foi. Ele tinha aquele indício de sorriso presunçoso e aquele olhar azul penetrante que Calvin estremeceu ao ver, a única diferença é que agora ele não tinha mais olho roxo e o cabelo estava mais curto. Algo nele...

-Tyler- completou, no que pareceu ser câmera lenta.

O nome dele não era Tyler, era Brandy.

Eu deveria ir mais afundo nisso, forçar meu cérebro entorpecido a lembrar sobre esse garoto, mas tudo que me vinha a mente era o nome e o dia da festa. A parte que mandava eu ir para casa agora tinha aumentado, mas eu não tinha saída. Não quando ele já estava em cima de mim.

Como a momentos atrás, eu não processei direito o que estava acontecendo. Suas mãos arrancaram fora minha saia e meias com tanta brutalidade que tudo que eu pude fazer foi ficar mole. Ele sussurrava no meu ouvido que gostava de como eu me vestia, de como eu estava pedindo para ser fodida por ele daquele jeito, e tudo que eu fiz foi enterrar a cabeça no travesseiro, e enterrar mais fundo ainda quando ele entrou em mim.

Ele não foi gentil. Machucou. Mesmo com a coisa úmida envolta a seu pau, que imediatamente deduzir ser lubrificante. Eu tive que gritar no travesseiro.

Foram estocadas rápidas, violentas, que faziam meu corpo todo balançar e doer.

Eu imaginei que não era eu ali. Que eu aquilo não estava acontecendo comigo. Eu quase podia ver a cena de cima, como se deixasse o corpo. E se fosse real, não importava. Afinal, meu corpo não me pertencia de qualquer forma.

Colega de quarto (para revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora