Capítulo 62

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Meses.

Meses se passaram desde a última vez que Sean se quer me mandou uma mensagem, então de repente ele me manda um "Hey" de madrugada. Eu tentava suprimir a vontade de socar seu nariz o dia todo, mas apenas um olhar para sua janela e imagens dele invadiam minha mente. Era extremamente irritante e cansativo.

Jason apertou minha coxa por de baixo da mesa escura, despertando-me de meus devaneios. Movi minha cabeça apenas para encontrar todos os olhares da casa voltados a mim. Evitei a vontade de revirar os olhos.

-Sim?

-Perguntamos como tem se virado ultimamente, faz meses desde que nos pediu dinheiro- minha mãe repetiu. Odiava como sua voz sempre parecia ensaiada.

-Tenho um emprego em uma livraria nos fins de semana- respondi, cutucando um aspargo solitário em meu prato com o garfo.

Eles não pareciam felizes com minha resposta, mas não falaram nada mesmo assim. Era por Jason, muito provavelmente. Eu estava impressionado por eles terem o mínimo de respeito por ele. Até o momento, eu não ouvi meu pai comentar sobre o piercing na transversal ou suas tatuagens expostas. Ele não mencionou a bíblia nem começou seu pequeno discurso recheado de baboseiras. Fiquei mais que feliz por isso.

-Talvez eu devesse ir visitá-lo lá- minha mãe comentou casualmente. Eu sabia que ela não faria tal coisa.

Meu pai estava ocupado demais falando sem parar com um Jason entediado para reparar. Pelo o que eu pude escutar, era algo sobre como o presidente machista era um ótimo governante e como o mundo tem se perdido na atualidade.

Eu estava cheio disso. Cheio de conversas ensaiadas e momentos saia-justas. Estava estressado, ansioso e sem apetite. Eu proferiria um xingamento em menos de um minuto se continuasse lá, e foi por isso que eu saí da mesa– não tão graciosamente quanto planejava – e levei meu prato a pia.

Minha mãe acompanhou tudo com os olhos, assim como meu pai. Jason franzia o cenho para mim, como se pedisse ajuda. Ignorei todos quando me voltei ao prato sujo e o sabão, deixando de lado a lava-louças enquanto esfregava os talheres e o prato de baixo da água morna. Não tinha muita coisa para lavar, e no fim não demorei mais de três minutos. Não foi reconfortante como eu esperava. Não havia muito o que fazer quando decidi que deveria voltar para o quarto.

Eu me senti um pouco mal por deixar Jason sozinho com as feras, mas a parte de mim que queria voltar para a cama era maior.

Eu encarei a tela do telefone deitado na cama. O vento frio entrava pela janela aberta e envolvia meu corpo perfeitamente, meus braços estavam arrepiados com o contato gelado e minhas pernas involuntariamente se encolheram em busca de um pouco mais de calor. Eu não incomodei de levantar e fechar a janela, mesmo puxar a coberta para mim, não quando eu ainda estava encarando a maldita mensagem.

Eu não queria responder. Talvez eu devesse deixá-lo esquecido por meses, assim como ele fez comigo. Talvez eu devesse respondê-lo de forma fria, ou talvez eu devesse atirar o celular contra a parede.

Jason bateu a porta aberta e eu me afastei do aparelho como se fizesse algo errado. Ridículo, no mínimo.

-Está tudo bem?- ele perguntou, ainda no batente da porta.

Dei batidinhas sobre a cama depois de confirmar com a cabeça uma vez. Ele hesitou por um momento antes de se sentar, seu corpo estava tão tenso que o lugar que ele ocupava estava fundo.

-Desculpe por deixá-lo aos lobos.

Ele riu, mesmo seus músculos ainda estando tensos.

-Está tudo bem. Eu sei lidar com isso.

Colega de quarto (para revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora