Capítulo 42

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Outro dia se passou.

Depois outro.

E outro...

Mas tudo continuava a mesma coisa.

Eu agora tinha começado a dormir demais. Acho que minha antiga terapeuta diria que o fato de eu estar enfiando calmantes goela abaixo todos os dias é uma forma de não lidar com a dor.

Eu diria que é bobagem, mesmo sabendo que é a verdade.

Mas eu agora não tinha terapeuta.

Faltei alguns dias na faculdade por conta... disso.

Continuo sem comer coisa alguma que não seja líquida. O cheiro de fast-food do Jason tem começado a me dar enjoos.

Jason tem andando tenso ultimamente. Ele faz piadas obscenas comigo vez ou outra, parece querer me perguntar coisas, mas acaba não falando nada, e eu não insisto também. Já teve vezes de ele passar quase três dias sem vir para casa.

Ele sabe que eu estou na pior e isso o assusta de uma forma absurda.

Falei com Gen por telefone apenas para evitar de receber ligações o dia todo. Inventei que peguei uma virose mesmo sabendo que ele não engoliu aquilo nem um pouco, mas ela não insistiu também.

Sean me ligou depois de semanas apenas para ver como eu estava, mesmo a voz no telefone não ser nada aconchegante como habitualmente.

Será que as pessoas cansaram de mim como eu também cansei? Será que elas se sentem obrigadas a conviver comigo?

De qualquer forma, não importava.

Não tinha tempo para me preocupar com isso agora.

Eu estava em semana de provas, e não tinha nada ao meu favor além de soníferos e café.

Me perguntei como tinha chegado a esse ponto.

Meu apartamento cheirava a tristeza e fracasso; tenho afastado as pessoas próximas a mim e não tenho feito nem o básico, que é estudar para não depender nunca mais de meus pais, ou morrer de fome.

Embora a morte não pareça uma opção terrível a essa altura.

Sai do apartamento.

Eu usava um moletom descorado e jeans largos.

Meus cabelos estavam amassados e meus olhos inchados. Eu deveria estar com olheiras e remelas, não sei ao certo. Não me olho no espelho a dias.

Esbarrei em algumas pessoas no caminho. Eu pulava do lugar involuntariamente quando isso acontecia.

Reflexo, eu acho.

A faculdade e toda a cidade começou a ganhar a paleta de tons frios pelo início de Dezembro.

As ruas estavam úmidas, e até cristalizadas em certos lugares.

Não posso dizer que aprendi a lidar com o inverno daqui, mas meu corpo já não reclamava por mais calor a essa altura.

Adentrei a cafeteria assim que pisei no campus. Meu relógio biológico bizarro me dizia que eu deveria dar uma soneca de quarto horas e ainda nem era duas da tarde.

Não tinha comido nada em casa, mas tomei o café puro mesmo assim.

O líquido quente aqueceu meu estômago vazio. Precisava de outro.

-Semana de provas?- a funcionária gentil pergunta depois de pegar a nota de cinco pela segunda vez.

-Pode se dizer que sim- respondi, limpando o bigode fino do líquido com a manga do casaco.

Colega de quarto (para revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora