Minha cabeça explodia quando eu acordei, o quarto estava coberto por trevas e a janela aberta trazia o ar frio da madrugada. Tive que virar o travesseiro de lado por ter ficado úmido demais.Eu sabia que não conseguiria dormir mesmo se quisesse, eu também não poderia ir para o quarto de Jason, não quando eu corria o risco de acabar cochilando em seus braços e ser descoberto. Deus sabe que a última coisa de que eu preciso agora é outro trauma.
Puxei um moletom de meu armário, cheirava a coisa intocada e um pouco de poeira, mas resolvi ignorar isso antes de vestir.
Eu não sabia ao certo o que eu estava fazendo enquanto vestia um jeans antigo e encaixava um tênis surrado da época da escola em meus pés, eu mal me dei conta do que eu estava acontecendo enquanto descia as escadas silenciosamente, ou quando bati a porta da frente atrás de mim. Ou mesmo quando o vento do inverno beijou minhas bochechas expostas.
Não durou muito de qualquer forma, a caminhada me custou no máximo três minutos até que eu puxasse o celular para mim.
-Quer caminhar?-perguntei, a voz sonolenta.
-O que? Hum, sim. Pode ser.
Cerca de cinco minutos depois ele abriu a porta. Gracioso como um elefante.
-Oi- saudou, a voz rouca de sono e o cabelo um emaranhado negro.
Desviei o olhar.
-Como vai?- eu respondi.
Era estranho. Como se estivéssemos em um encontro às cegas e não soubéssemos o que dizer ao outro.
Ele soltou um longo suspiro antes de responder:
-Uma merda, você?
-Pior, acho.
Era tudo que ele precisava ouvir.
-Entra no carro- disse.
Não foi um comando, pareceu mais uma prece, como se eu fosse negar. Entrei.
Ele fez um caminho silencioso pela cidade, o carro estava morno e convidativo pelo aquecedor enquanto passávamos pela ponte. A água refletindo o Jeep esportivo de Sean em ondas preguiçosas.
-Onde estamos indo- perguntei, mesmo sabendo onde estávamos indo.
Ele arqueou as sobrancelhas grosas para mim, como se também soubesse.
-Você vai ver- foi tudo o que disse antes de se voltar para a estrada.
Sean era bastante direto quando o assunto era dirigir. Nunca o vi sem as duas mãos no volante, nunca virou por mais de cinco segundos e jamais andou sem cinto. Era engraçado vê-lo dirigir, os nós de seus dedos ficavam brancos por serem tão pressionados.
Não demorou muito para chegarmos. Um posto com conveniência de beira de estrada qualquer, talvez um pouco medonho por estar no fim da cidade, e consequentemente ser a única coisa acesa por perto, mas comum.
O motor morreu assim que estacionamos do lado de fora, o retrovisor embaçado pelo aquecedor mostrava apenas algumas luzes azuis que vinham do lado de dentro.
Sean desceu do carro depois de uns segundos de silêncio, eu o segui loja adentro. Ele foi direto para as máquinas de raspadinha, enquanto eu fui para a sessão de porcarias. O atendente asiático nos olhava pelo celular eventualmente, como se para ter certeza que não roubássemos nada. Sean colocou os dois copos com força imprensados no balcão para tomar a atenção de volta, me deixando só com os doces.
Acabei escolhendo umas pastilhas refrescantes de cereja no fim.
O homem cobrava o que pegamos com tédio, tive que me segurar para não revirar os olhos para ele.
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Colega de quarto (para revisão)
Teen FictionA vida de Calvin Stratford era perfeitamente organizada, com cada passo planejado, desde a faculdade dos sonhos ao apartamento tão esperado. Mas tudo vira uma bagunça depois que ele descobre ser colega de quarto do irresponsável, idiota e mulherengo...