A primeira coisa que pensei quando acordei e olhei em volta foi que eu deveria mandar o emoji de sirene para Gen. Ou talvez três.
Eu obviamente não estava no meu quarto, dado o tamanho minúsculo e as paredes pintadas em tons mortos. Além de que a roupa de cama cheirava a perfume de cafajeste.
Eu me sentei. Minha cabeça rodando por levantar de supetão e pela ressaca que veio com tudo. Tentei acostumar meus olhos a luz que intensificava minha enxaqueca e lembrei a mim mesmo que não deveria começar um chilique.
Eu desci meus olhos de imediato para o meu corpo, que por sorte ainda estava vestido e sem nenhuma marca. Bom, quase nenhuma.
Minha coxa esquerda estava com um buraco na meia arrastão, onde minha pele pálida estava marcada por arranhões cor de sangue.
Levei minha cabeça para trás e fechei meus olhos com força quando vi isso, tentando desesperadamente repassar a noite passada na minha mente.
Lembro de ter ido para a festa, bebido como um louco e beijado desconhecidos com conteúdos questionáveis na língua. Lembro de ter beijado o Jason.. ou melhor, um garoto loiro que me parecia familiar.. depois, nada.
Meus olhos desviam para porta imediatamente quando alguém entra. Era ele, com um rosto sonolento, descamisado e segurando duas canecas fumegantes.
-Você acordou- disse ele, com a voz rouca de ter acordado recentemente.
Assenti com a cabeça, incapaz de fazer qualquer outra coisa, então levei o líquido da caneca aos meus lábios.
Era café. Puro e amargo.
Fiz uma careta com o gosto e ele riu.
-Tome isso- ele disse, depositando um comprimido branco em minha palma. -Eu sei que o gosto do café é uma droga, mas ajuda com a ressaca.
Por um segundo eu tinha até me esquecido dos enjoos e a dor de cabeça cortante. Viro o comprimido junto ao café, tentando deixar de lado minhas desconfianças do que poderia ser aquilo.
Enquanto eu analisava seus olhos azul-gelo, tudo que eu queria era perguntar o que diabos aconteceu e como vim parar aqui. Os olhos dele me lembrava alguém..
O amigo de Jason que me chamou para buscá-lo na véspera do meu aniversário. Jean, eu acho.
-Nos transamos?- eu pergunto, finalmente.
Ele ri outra vez e minhas bochechas tomam um rubor envergonhado, ao perceber que era a primeira palavra que eu tinha dito para ele até agora.
-Eu gostaria muito disso- ele diz. O sorriso e as sobrancelhas arqueadas combinaram perfeitamente com o cheiro cafajeste no seu lençol. -Mas não. Você estava drogado, e o Jason ficaria uma fera se descobrisse que eu fiz qualquer coisa com você.
-Então não foi você que fez isso na minha coxa?- eu pergunto, ignorando tudo que saiu de sua boca depois de sua confirmação de não termos dormido juntos.
-Oh não. Isso fui eu sim- ele sorri outra vez.
Viro o líquido quente sem me importar de estar praticamente derretendo minha garganta.
-Obrigado por.. não ter transado comigo?- eu digo a ele, meio que fazendo uma careta.
-Tranquilo. Metade do campus vai sair fofocando por termos saído de lá juntos, mas é melhor que ter deixado você lá e alguém ter se aproveitado de você- ele diz, depositando sua xícara do lado da minha.
Ele estava certo. Nessa faculdade as pessoas se comportavam como estudantes do ensino médio ou personagens de Gossip girl. Era ruim demais ter que morar com o mulherengo da faculdade, mas pior que isso era ser conhecido por causa disso– e talvez pela pequena cena que fiz na festa de Halloween– não vem ao caso agora.
Eu sabia que aquilo não daria certo, mas fiz mesmo assim.
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Colega de quarto (para revisão)
Teen FictionA vida de Calvin Stratford era perfeitamente organizada, com cada passo planejado, desde a faculdade dos sonhos ao apartamento tão esperado. Mas tudo vira uma bagunça depois que ele descobre ser colega de quarto do irresponsável, idiota e mulherengo...