Capítulo 12

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A casa estava vazia quando eu cheguei.
Aquilo era o combo perfeito pra deixar alguém deprimido: uma casa gelada, vazia e escura.
Suspirei. Desamarrando meus tênis e colocando ao lado da porta. Minha escova de dentes para limpeza estava um caco.
Deveria ir para a rua e comprar uma amanhã, meus tênis estavam ficando imundos.
Subi os degraus de ferro passo por paço. O metal estava muito gelado, o que causou alguns arrepios.
Me despi por completo, dobrando tudo sobre a cama e indo para o banheiro.
Realizei todo o ritual de limpeza que uso para quando estou deprimido.
Óleos, sais e todo o tipo de fragrância que você possa imaginar.
Me sequei, finalizei o cabelo com o creme novo e vesti um short e um camisão.
Estava frio pelo início do outono, então fui ao armário e procurei algo pra me agasalhar.
Peguei a jaqueta de Sean. Meus olhos estavam arregalados por ver ela ali. Nem me lembrava de ter pegado até agora.
Ele amava a jaqueta, era como sua segunda pele.
Nunca vi ele sem aquela jaqueta, me dava nos nervos por nunca saber quanto tempo estava sem lavar.
Vesti.
O cheiro forte de maresia que ele tem me invadiu. Não pude evitar em aspirar o cheiro e me agasalhar ainda mais ao tecido.
Suspirei, desci as escadas devagar e me sentei ao sofá. Não passava nada que prendesse a atenção, mas acabei parando no Food Network.
Estava passando Doces Lugares. Suspirei de novo.
Decido ligar para o Sean. Ele atende depois da quarta chamada.
-Call?- a voz grave familiar tenta se sobressair a música no fundo.
Ele está em uma festa.
Claro que está em uma festa. É o Sean.
Meu coração aperta um pouco. Uma parte de mim ainda esperava que ele estivesse esperando uma ligação minha para poder me animar ou sei lá.
Ele merecia estar em uma festa.
Era sexta à noite e ele estava na faculdade. Droga, eu devia estar em uma festa.
-Oi Sean. Como você tá?
-Que?!
Ele gritou, não devia ter escutado uma palavra.
Suspirei estressado.
-Calma, to indo para um lugar calmo.
Comecei a chorar.
-O quê você tava falando?
Estava carente ao ponto de fazer uma pessoa falar comigo no telefone no meio de uma festa?
-Meu Deus, isso é ridículo. Tchau Sean.
Desliguei e joguei o celular no sofá.
Fui até a geladeira e peguei um bocado de porcarias, e achocolatado.
Eu estava me sentido um lixo inútil. Não devia estar me sentindo assim não é?
Tudo tava dando certo, não estava?
Engoli um bocado de salgadinho.
Lágrimas inundavam meu rosto.
Porra, agora estou me sentindo uma baleia.
Engoli outro salgadinho.
Qual era meu problema? Eu devia estar em uma festa me embebedando e me amassando com estranhos.
Mas ao invés de estar em uma festa, estava no meio de uma crise existencial.
Tomei um gole do achocolatado antes de ouvir a porta abrir.
Jason apareceu pela porta e me olha assustado quando me vê soluçando.
Queria me enfiar em um buraco.
-Oh merda. O quê foi?- sua voz estava preocupada enquanto ele se aproximava de mim no sofá.
-Não é nada...- eu tento desconversar. Limpando as lágrimas com as costas das mãos.
-Ah, vamos. Não mente pro papy aqui- a voz dele tentou sair sensual. Sorrio involuntariamente.
-Não diga isso. Tipo nunca mais- minha risada se afogou nas lágrimas.
-Ok- ele concorda -Agora me diz o que tá acontecendo.
-É bobeira- insisto -É só que... eu sou patético.
-Você não é patético- a voz dele saiu grave. Ele roçou o polegar calejado na minha bochecha, o gesto é carinhoso, calmante.
Estremeci.
Por que ele tinha que olhar para minha boca agora?
-Não. Eu sou sim- me surpreendi por conseguir falar algo -Eu estava lamentando por ser um bundão que não consegue se divertir por ter uma falha com as pessoas.
Ele se calou.
-É ridículo eu sei. Mas é deprimente perceber que eu estou me comportando como uma velha solteirona aos dezoito anos.
-Não disse que era ridículo.
-Mas deve achar. Você vai a festas quase toda hora. Vive a vida de verdade.
-Não vive de cara nos livros e limpando os cantos como um maluco. Seus pais devem ser incríveis também..
-Meus pais são terríveis- ele interrompe.
Me calo.
-Olha... você não é ridículo. Na verdade, queria ser como você as vezes- ele suspira -Você é um puta gostoso, é inteligente e organizado. Se seus pais não tem orgulho de você então eu desisto de tudo- eu ri, era adorável ver ele tentando me animar.
-Seus pais são terríveis mesmo?- pergunto envergonhado.
-Meu pai é- ele corrige -Só para você ter uma noção, colocaram o caralho de Logan Tucker Verona de nome- sua voz se suaviza, os olhos brilham. Quase como uma lembrança.
-Espera.. Tucker?- arqueio as sobrancelhas.
-Minha mãe era do Texas- esclarece.
-Ah. Tucker é bonitinho.
-Nunca me chame de Tucker- sua voz ameaçadora não assustaria nem um gato.
-Então tá- levanto as mãos -Tucker.
Levo uma fração de segundo para perceber que ele está em cima de mim. O calor do seu corpo e seu cheiro cítrico inebriante me prendem.
-Promete que nunca mais vai me chamar de Tucker- seus dedos percorrem todo meu corpo.
Agora eu estou gargalhando feito uma criança de quatro anos.
-Tá bom- eu tento respirar -Prometo.
Ele finalmente deixa o meu corpo, devagar.
Olho para ele, e de repente ele fica rígido.
Os olhos estão um furacão escuro e o maxilar rígido. Não pergunto, apenas me calo.
-Qual a da jaqueta- ele pergunta depois do um tempo.
A voz grave me assusta por um segundo.
-Você não faz o tipo capitão do time.
-Não. Não, faço.
-Então...
-É do Sean- suspiro -Aliás, falei com ele por telefone agora pouco.
-Seu namorado?- a voz dele saiu intensa.
-Meu amigo- corrijo.
-Não acho que você seja um amigo para ele.
-E por que não?
Ele ri.
-Conheço jogadores do time o suficiente para saber de uma coisa- ele me olha com as sobrancelhas arqueadas -Jogadores do time só largam as jaquetas para dar pras namoradas, ponto final.
-Não seja ridículo.
-Só estou dizendo a verdade, baby.
-Primeiro: não me chame de baby- me sento de frente para ele -Segundo: Sean é hétero, ele me emprestou ela. Como todas as outras roupas.
As sobrancelhas se arqueiam ainda mais.
-Ele te empresta outras roupas?
-Como se não soubesse que as camisas que batem na minha coxa não são minhas.
Ele se cala.
-Hm. Então, tá.
Ele não está olhando para mim, e sim para a Tv.
-Por que não saiu hoje?
Sua atenção volta para mim.
-Eu preciso ficar de ressaca. Já estou enchendo a cara a quase três dias, direto.
Suspiro.
Ele com certeza tem problemas com álcool.
-Veja pelo lado bom. Você me deu um nome pra chamar quando quiser te provocar.
-Se você me quiser em cima de você de novo, teste- seu tom de voz me afetou um pouco.
Não respondi.
Agora devo estar da cor de um tomate, sentindo meu corpo quente até as pontas dos pés e minhas mãos formigando. Olho para a sua boca enquanto ele umedece o lábio inferior.
Minha respiração está irregular.
-Você não me quer sobre você de novo, quer?- ele provoca. Se aproximando.
Nego com a cabeça freneticamente.
-Que bom- sua voz fica normal. Então se senta e volta a assistir o programa.
-Odeio esses programas toscos- ele ri, puxando um bocado de salgadinho e levando sobre a boca.
Eu o olho incrédulo.
Ele sai fazendo isso com as pessoas por aí?
Não sei responder. Apenas me viro de volta para assistir Doce Lugares.
•••
Oi amores
Parte dois, espero que gostem.
Beijos, até o próximo capítulo.

Colega de quarto (para revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora