Capítulo 29

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-Sean.

Ele estava virado de modo que eu só conseguisse ver suas costas.

-Sean, acha que eu não te conheço o suficiente pra saber quando tá fingindo dormir ou não?

Um suspiro veio dele antes de se virar.

Ele não me encarou.

-O quê foi aquilo lá embaixo?!- perguntei sério.

Ele não respondeu.

-Sean, que merda. Você viajou sem me dizer nada, chega aqui e faz uma cena daquelas?

Nada.

Me enfiei na cama até ficar de frente para ele.

-Você agiu como um homem das cavernas lá embaixo, e eu nem sei por qual motivo. Não namoramos nem nada assim pra você dar esses seus chiliques perto das pessoas.

-Você não tomou seu remédio né?- pergunta retórica.

Aí meu Deus.

-Foda-se os remédio Sean! Quer parar de desviar desse assunto sempre? Porquê nunca conversamos sobre aquela noite? Porquê você age assim quando se sente ameaçado por um cara? Nem somos amigos Sean.

-Não pareceram inimigos também.

-Viu o que você faz? Você só escuta o que acha conveniente.

O peito dele subia e descia.

-Sean?

-Cal- ele disse doce.

Me acalmei.

-Me.. me desculpe por agir assim perto dos caras. É só que.. você é a única pessoa que não se aproximou de mim por dinheiro ou pelo meu status de popularidade. Você é a única coisa que realmente tem valor pra mim tirando a minha mãe, e cacete, eu nem sei explicar o que você faz comigo.

Não disse nada dessa vez.

-Não sei porque eu fiz aquilo naquele dia- ele coçou a parte de trás da cabeça -É só que... é tão complicado.

-Por quê é complicado Sean?

-Porque você nunca me disse sobre sua queda por mim? Achou que eu seria homofóbico ou alguma merda assim? Eu não sou como metade daquela cidade Calvin.

Engoli em seco.

-Não acrescentaria em nada na sua vida saber que eu tinha uma paixonite por você.

-Tirou essa conclusão com mais alguma opinião além da sua?

Me calei.

-Não é como se você fosse pegar minha mão e me fazer torcer para os seus jogos, Sean.

Ele virou a cabeça outra vez.

-Podemos.. podemos, por favor, ir dormir? Já fiz merda demais hoje.

Assenti, embora fosse pouco provável ele ver no breu do quarto.

-Vou tentar controlar... minhas emoções.

-Você nunca vai ao psicólogo como prometeu que iria.

-Falar meus problemas para desconhecidos não vai me ajudar em nada.

-Se não fosse por um desconhecido, eu teria definhado até a morte Sean.

O oxigênio do quarto pareceu acabar por alguns segundos quando eu disse isso.

-Eu... desculpe, vou ir no psicólogo.

-Me deixa melhor.

Deitei de barriga para cima, não precisava olhar para saber que ele fazia o mesmo.

-Calvin?- ele disse depois de um tempo.

-Oi?

-Quando... quando você me mandou aquela mensagem naquele dia.. foi horrível.

-Meu coração parecia ter quebrado, e todo o ar do meu pulmão parecia comprimido quando pulei a sua janela e vi você daquele jeito- ele suspirou, como se estivesse evitando engasgar com algo -Você pesava o mesmo que um garoto de doze anos. Estava segurando aquele frasco de calmantes e aquele vinho barato que sua mãe comprava escondido.

-Eu me senti não inútil por não ter percebido quando você usava camadas de roupas para esconder seu corpo. Eu não via que você tinha perdido o brilho dos seus olhos.

Ele riu de maneira amarga.

-Porra, eu acabei de dizer brilho?

-Quando eu vi você daquele jeito... me senti um inútil, e eu vi que perder você seria a pior sensação que eu poderia imaginar em sentir. Se eu não tivesse chegado lá na hora que eu escutei aquela mensagem, o quê aconteceria agora?

Ele soltou outro grande suspiro.

-Eu venho tentando proteger você de tudo com medo de você se machucar. E você já se machucou o bastante.

-Sean...- minha voz saiu terrível. Eu estava dando tudo de mim para não desabar e chorar ali mesmo.

-19 de setembro. Estávamos no mês da prevenção ao suicídio.

-Desculpe por não ter te contando antes.

Ele riu de novo.

-Não porra, não se desculpe. Eu fui um grande filho da puta por não ter notado antes, e me desculpe de novo, por agir como um idiota as vezes.

Outro silêncio se estendeu.

-Sean?

-Oi, princesa.

Eu ri.

-Você sabe que eu te amo né?

-Eu também te amo princesa.

Ele me abraçou, e depois tudo se tornou um borrão, antes de se tornar negro.

Colega de quarto (para revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora