-Sean.
Ele estava virado de modo que eu só conseguisse ver suas costas.
-Sean, acha que eu não te conheço o suficiente pra saber quando tá fingindo dormir ou não?
Um suspiro veio dele antes de se virar.
Ele não me encarou.
-O quê foi aquilo lá embaixo?!- perguntei sério.
Ele não respondeu.
-Sean, que merda. Você viajou sem me dizer nada, chega aqui e faz uma cena daquelas?
Nada.
Me enfiei na cama até ficar de frente para ele.
-Você agiu como um homem das cavernas lá embaixo, e eu nem sei por qual motivo. Não namoramos nem nada assim pra você dar esses seus chiliques perto das pessoas.
-Você não tomou seu remédio né?- pergunta retórica.
Aí meu Deus.
-Foda-se os remédio Sean! Quer parar de desviar desse assunto sempre? Porquê nunca conversamos sobre aquela noite? Porquê você age assim quando se sente ameaçado por um cara? Nem somos amigos Sean.
-Não pareceram inimigos também.
-Viu o que você faz? Você só escuta o que acha conveniente.
O peito dele subia e descia.
-Sean?
-Cal- ele disse doce.
Me acalmei.
-Me.. me desculpe por agir assim perto dos caras. É só que.. você é a única pessoa que não se aproximou de mim por dinheiro ou pelo meu status de popularidade. Você é a única coisa que realmente tem valor pra mim tirando a minha mãe, e cacete, eu nem sei explicar o que você faz comigo.
Não disse nada dessa vez.
-Não sei porque eu fiz aquilo naquele dia- ele coçou a parte de trás da cabeça -É só que... é tão complicado.
-Por quê é complicado Sean?
-Porque você nunca me disse sobre sua queda por mim? Achou que eu seria homofóbico ou alguma merda assim? Eu não sou como metade daquela cidade Calvin.
Engoli em seco.
-Não acrescentaria em nada na sua vida saber que eu tinha uma paixonite por você.
-Tirou essa conclusão com mais alguma opinião além da sua?
Me calei.
-Não é como se você fosse pegar minha mão e me fazer torcer para os seus jogos, Sean.
Ele virou a cabeça outra vez.
-Podemos.. podemos, por favor, ir dormir? Já fiz merda demais hoje.
Assenti, embora fosse pouco provável ele ver no breu do quarto.
-Vou tentar controlar... minhas emoções.
-Você nunca vai ao psicólogo como prometeu que iria.
-Falar meus problemas para desconhecidos não vai me ajudar em nada.
-Se não fosse por um desconhecido, eu teria definhado até a morte Sean.
O oxigênio do quarto pareceu acabar por alguns segundos quando eu disse isso.
-Eu... desculpe, vou ir no psicólogo.
-Me deixa melhor.
Deitei de barriga para cima, não precisava olhar para saber que ele fazia o mesmo.
-Calvin?- ele disse depois de um tempo.
-Oi?
-Quando... quando você me mandou aquela mensagem naquele dia.. foi horrível.
-Meu coração parecia ter quebrado, e todo o ar do meu pulmão parecia comprimido quando pulei a sua janela e vi você daquele jeito- ele suspirou, como se estivesse evitando engasgar com algo -Você pesava o mesmo que um garoto de doze anos. Estava segurando aquele frasco de calmantes e aquele vinho barato que sua mãe comprava escondido.
-Eu me senti não inútil por não ter percebido quando você usava camadas de roupas para esconder seu corpo. Eu não via que você tinha perdido o brilho dos seus olhos.
Ele riu de maneira amarga.
-Porra, eu acabei de dizer brilho?
-Quando eu vi você daquele jeito... me senti um inútil, e eu vi que perder você seria a pior sensação que eu poderia imaginar em sentir. Se eu não tivesse chegado lá na hora que eu escutei aquela mensagem, o quê aconteceria agora?
Ele soltou outro grande suspiro.
-Eu venho tentando proteger você de tudo com medo de você se machucar. E você já se machucou o bastante.
-Sean...- minha voz saiu terrível. Eu estava dando tudo de mim para não desabar e chorar ali mesmo.
-19 de setembro. Estávamos no mês da prevenção ao suicídio.
-Desculpe por não ter te contando antes.
Ele riu de novo.
-Não porra, não se desculpe. Eu fui um grande filho da puta por não ter notado antes, e me desculpe de novo, por agir como um idiota as vezes.
Outro silêncio se estendeu.
-Sean?
-Oi, princesa.
Eu ri.
-Você sabe que eu te amo né?
-Eu também te amo princesa.
Ele me abraçou, e depois tudo se tornou um borrão, antes de se tornar negro.
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Colega de quarto (para revisão)
Teen FictionA vida de Calvin Stratford era perfeitamente organizada, com cada passo planejado, desde a faculdade dos sonhos ao apartamento tão esperado. Mas tudo vira uma bagunça depois que ele descobre ser colega de quarto do irresponsável, idiota e mulherengo...