Capítulo 58

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Gen me explicou o que aconteceu na manhã seguinte. Ela realmente tinha deixado a cidade pelo fériado. Era a vez de passar com a família do pai, o que não deu muito certo.

Ela disse que os dias que passou na casa do pai foram como estar confinada em uma gaiola. Quatro dias. Quatro dias de piadas estúpidas e olhares de nojo, sem o pai fazer nada.

Até ela surtar na mesa de jantar e o pai a estapear, na frente de todos.

Os olhos dela estavam vítreos enquanto ela falava tudo aquilo, as palavras desciam grossas como vômito de sua garganta. Ela não tinha mais a mesma aparência destemida de sempre vestindo uma blusa velha de Sean e meias de lã grossas. Ela bebia uma receita de chá calmante que eu aprendi na internet enquanto terminava alguns dos detalhes terríveis de seu feriado. Pelo menos o chá parecia ter surtido efeito, visto que ela contava aquilo com uma calma cortante. Por um momento, quase ofereci uma pílula a ela.

Eu apertei suas mão geladas quando ela finalmente terminou. Um suspiro pesado deixou sua garganta. Alívio ou pesar, não dava para decifrar.

-Você tem certeza que não vai fazer boletim?

-Não. Amanhã pretendo colocar fogo no carrinho que ele me deu na frente daquela casa. Se estiver empolgada o bastante, posso colocar na casa também. Com toda aquela família podre dentro.

-O boletim parece algo mais racíonal- eu disse, suspirando. -Mas talvez eles mereçam ser queimados vivos mesmo.

Gen sorriu para mim, apertando os dedos magros contra os meus. Eu sorri de volta, recolhendo a caneca vazia de suas mãos, caminhei até a cozinha a fim de lavar a louça e escutei os paços de Gen no piso, mas não me virei.

-Entãoo- ela começou. Eu enxaguei o sabão. -Quando ia me contar o que está rolando entre você e o Jason.

Desliguei a água.

-Do que você..

-Nada do que disser vai colar. Eu sei que vocês tem algo desde a festa da Carrie. O dia que ele te resgatou da piscina foi apenas uma confirmação.

Eu suspirei, me apoiando sobre a pedra úmida da pia. Realmente nada do que eu disesse iria colar, mas eu não queria entrar nesse assunto com ela agora. Não por vergonha.. mas sim porque não queria incomodá-la com esse assunto.

-Pensei que estivesse mal-humorada- eu repliquei, fazendo menção em lavar a louça outra vez.

-Não seja bobo, me colocar para baixo não me ajudará em nada.

Eu a encarei pelo ombro.

-Você merece isso sabe... se permitir sentir tudo. Pelo menos uma vez.

Os cílios dela se remexeram.

-O problema é que eu não quero- soltou. -Por favor, me diga. Me distraia. Diga qualquer coisa.

Eu não podia negar, não depois dessa declaração.

Então eu falei. Contei o que vem acontecido desde outubro. Contei sobre as brigas e os entendimentos. Contei o que sentia por ele-- o que resultou em um emaranhado de palavras sem contexto-- e parei apenas quando percebi que aquilo era informação demais para ela. Quando vi seus olhos castanhos arregalados.

-Deus.. eu sabia que algo estava rolando, mas com certeza não esperava por isso..- ela tomou fôlego.

-Desculpe por não contar- eu disse, minhas bochechas corando.

-Não tinha obrigação nenhuma disso- ela avisou. -Mas bem que eu gostaria de me manter informada de vez em quando.

Eu ri, bem na hora que Jason entrou na cozinha.

Colega de quarto (para revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora