Narrado por Jason
Eram três da manhã quando cheguei no apartamento. E o que eu vejo quando entro me choca por um momento.
O garoto com quem divido apartamento debruçado sobre o chão, foi aí que eu percebi que o ar lá dentro cheirava a limão e limpeza; que porra estava acontecendo?
Eu sabia que o cara era meio neurótico por organização e todo esse negócio de limpeza, mas limpar o chão com uma esponja as três da manhã já era maluquice.
Foi quando eu me lembrei, passei um verão na casa da tia Charlotte, depois que minha mãe morreu, a mulher tinha t.o.c, merda ele deve ter t.o.c; e me lembro de quando ela estava muito triste com a morte da minha mãe, ou com raiva, pegava ela limpando os lugares mais improváveis no meio da noite.
-Aí merda- ele direciona sua atenção para mim.
Um dos seus perfeitamente definidos cachos cor de mel estavam caídos sobre um olho, escondendo o mesmo do par também cor de mel; o nariz arrebitado estava vermelho, como as bochechas, e agora que eu percebi, os olhos, devia estar com alergia dos produtos de limpeza, ou podia estar chorando, não sei dizer.
-Ah, oi- ele vira sua cabeça de volta para o chão, esfregando tudo em movimentos circulares.
-Por que você tá limpando o apartamento?- ele vira novamente para mim, acho que está irritado. Ou triste. Ou os dois.
-Você consegue fazer daqui um chiqueiro, e como não estava com sono resolvi limpar.
-As três da manhã?- franzo as sobrancelhas. -Sabia que você pode matar pessoas do coração se elas forem de madrugada beber água e verem pessoas debruçadas sobre o chão com uma esponja, não é?
-Muito engraçado- ele sorri forçadamente, quase fechando os olhos.
-Só estou dizendo que pessoas que limpam a casa de madrugada ou são malucas, ou cometeram um assassinato.
-Ou tem T.O.C- ele completa.
Merda.
-Ou tem T.O.C- repito, coçando a cabeça desconfortavelmente.
Ele olha pra mim, a maneira que seus olhos conseguem expressar coisas que até palavras mais detalhadas não conseguem me assusta.
-Se não for me ajudar, pode sair de cima do chão que eu estou limpando?
Engulo em seco. Esse garoto de merda consegue tirar todas as palavras da minha boca do nada. Queria gritar com ele por ser tão antipático comigo, merda, a gente divide um apartamento, devíamos pelo menos agir como se não fôssemos dois pedaços de merda; ele pelo menos.
Mas não gritei, devia estar puto pra caralho para limpar do jeito que estava.Ajoelho a sua frente. Seus olhos automaticamente se voltaram para mim, chocados.
-O que está fazendo.
-Eu moro aqui também, não moro?- arregaço as mangas da camiseta e coloco meu boné para trás; pegando uma escova que estava do seu lado. Ele ainda permanecia sem reação, como se nem em um milhão de anos acreditasse que eu faria isso.
-O que foi? Não acha que eu sou capaz de limpar um chão?- minha voz sai irritadiça e sua boca se abre e se fecha diversas vezes, antes de se selarem por completo, formando uma linha fina e rígida. Eu também não digo nada; apenas esfrego o chão sem fazer contato visual. Deixando uma névoa de tensão sobre tudo em volta.
Estávamos tanto tempo sem dizer nada, que sua voz me assusta momentaneamente enquanto limpo o balcão de granito.
-O que.. droga, não!- ele suspira, e fecha os olhos, minhas sobrancelhas se contraem.
-Tá fazendo errado- ele solta. Olho para o pano e contraio minhas sobrancelhas de novo.
-O pano está todo embolado, seria bem mais fácil se você o dobrasse em um quadrado- ele indica.
-Ah, não fo..- olho para ele, decidi preservar meu saco ao invés de terminar a frase.
-Me da aqui- ele estende o braço e eu obedeço.
Ele dedica sua atenção ao pano por um momento, dobrando ele diversas vezes antes de formar um quadrado perfeito, me devolvendo no final.
-E seria mais fácil se você limpasse em círculos, nenhum lugar vai ficar sujo.
-Oh..
Ele me da um sorriso envergonhado depois disso, e volta a limpar o fogão.
•••
Terminamos de limpar tudo; já eram quase cinco da manhã, meus dedos estavam enrugados por tanto contato com a água, e ele estava corado, os olhos cansados limpando a testa com as costas da mão.-Acho que terminamos- digo.
-É, acho que sim- ele inspira.
-Vou dormir então... boa noite- ele assente com a cabeça e também diz boa noite antes de dar uma boa olhada em todo o apartamento em volta e se dar por vencido, subindo as escadas de ferro que davam pro quarto.
Entrei no meu, não vou tomar banho. Estou cansado para caralho e já tive minha cota de limpeza por hoje.
Troquei a calça, que estava com o joelho molhado, e desabei na cama.
Suspirei. Que se foda, não vou para faculdade de manhã.
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Colega de quarto (para revisão)
Teen FictionA vida de Calvin Stratford era perfeitamente organizada, com cada passo planejado, desde a faculdade dos sonhos ao apartamento tão esperado. Mas tudo vira uma bagunça depois que ele descobre ser colega de quarto do irresponsável, idiota e mulherengo...