Capítulo 35

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-Onde a gente tá indo?- Jason perguntou quando já estávamos chegando a outra esquina.

Revisei o olhar para os lados da rua deserta e atravessei.

-Estamos indo deixar você menos drogado- disse, me afagando a minha jaqueta.

Procurar por uma farmácia nesse frio estava me irritando.

-Por que você foi atrás de mim?!- ele perguntou irritado, ainda atrás de mim.

Virei para olhá-lo.

-Eu não costumo deixar as pessoas quando precisam de mim, e pelo que Jean falou pra mim, você precisava- soltei, antes de virar e voltar a andar. -E você também me ajudou quando eu precisei de alguém, quero dizer, quando fiquei bêbado- fiquei feliz por ele não conseguir ver o rubor que meu rosto tomava.

Ao invés de rebater com uma resposta irritada e mal formulada, ele ficou quieto.

O clima ficou tenso quando a única coisa que escutávamos um do outro era nossos sapatos no cascalho.

-Droga. Não tem Farmacia nesse lugar?-suspirei, ao ver mais uma vez lojas fechadas e ruas frias iluminadas por postes coloniais.

Eu já estava prestes a me sentar e chorar quando chegamos a outro quarteirão repleto de lojas fechadas, quando vi uma cafeteria aberta.

-Vai ter que servir.

-Espero que café cure drogas.

Fomos recebidos pelo o ar morno do aquecedor quando entramos.

O cheiro de café puro era bom e reconfortante.

Um atendente que parecia ter nossa idade parecia exausto em seu uniforme marrom e boné.

-O que vão querer- perguntou com a voz puxada e um sorriso ensaiado.

-Quero um cappuccino com canela e caramelo, dois pretzels e um café preto duplo pra ele.

O atendente assentiu uma vez e começou a preparar nossos pedidos; uma vez prontos, paguei com uma nota de vinte que tinha atrás da capinha, e peguei os pedidos.

Comecei a andar em direção a uma mesa no canto da parede; Jason por outro lado, abriu a a porta de vidro e andou até uma calçada do outro lado da rua, onde se sentou.

Olhei impressionado para a cena por alguns minutos, até me dar conta que ele não voltaria para loja quentinha com cheiro de café.

Com um suspiro pesado, deixei a cafeteria confortável e o atendente caindo de sono para trás; olhei para os dois lados da rua mesmo com tudo silêncio, e me sentei na calçada fria ao seu lado.

Estendi o braço com o café preto para ele, que tomou com uma careta.

-Odeio café- reclamou.

-Odeia nada, você faz café quase toda a vez que eu te vejo no apartamento.

-O gosto é melhor do que isso- murmurou.

-Nem deve estar tão ruim.

-Vamos trocar em tão- propôs.

Após uma mordida no pretzel e uma longa suspirada, concordei com a cabeça.

-Toma- estendi meu café.

Ele pegou e entregou o seu.

Tomei uma golada. Deus, realmente estava forte.

Estava com pouco açúcar, não que eu ligasse, já que não gosto de coisas muito doces. O gosto era torrado e bem concentrado.

-Está bom, você que é fresco.

-Não sou não, isso aí tem gosto de água suja.

-Você vai tomar a água suja se não quiser ficar tendo visões e vendo as coisas girarem- troquei nossos cafés.

Ele tomou o café quieto por um tempo, virando uma ou outra vez para me olhar, embora eu fingisse que não visse.

-Aquilo que você falou lá atrás. Sobre você não deixar as pessoas para trás.

-O quê tem aquilo?

-Por que você veio?

-Eu já disse porque..

-Não. Por quê você veio? Você não tinha que vir, depois de tudo que eu fiz, mas você veio.

-Eu fui porque me importo com você. Você fez merda, mas eu também não sou perfeito.

Ele passou algum tempo em silêncio outra vez, antes de voltar seu olhar para o café e dar um sorriso amargo.

-Sabe, eu tenho andando me sentindo uma merda faz tanto tempo.. é como se eu estivesse dentro de uma..

-Bolha- completei, com um sorriso fraco.

Ele concordou com a cabeça.

-Eu não tenho me sentido vivo a muito tempo. Você começou a se aproximar de mim e tudo ficou uma bagunça; tudo é tão intenso entre a gente e acontece tão rápido.. mas eu não quero te machucar, porque eu não sei o que eu quero, e nem o que eu sou agora. Você merece muito mais do que alguém como eu- ele disse. A voz falhando entre algumas frases ou outras.

Meu coração agora batia em disparada.

Tudo que ele disse sobre nós era verdade. Tudo entre nós é tão... intenso, eu não penso direito perto dele, sempre acabo de cabeça quente.. mas mesmo assim, eu quero ele.

Mas eu também não quero relacionamento nenhum. Com ninguém.

-Eu não quero relacionamento nenhum- olhei para os meus pés. -Mas você está certo, tudo entre a gente é muito intenso.

-Me abraça- ele pediu.

-O quê?

-Me abraça. Você está tremendo de frio, pelo menos vai se esquentar um pouco- disse.

-Ah, ok- suspirei.

Me aconcheguei com relutância dele, passando os braços pela pele nua de baixo da jaqueta incrivelmente quente, e aconchegando minha cabeça em seu ombro.

-Meu corpo é fraco para frio- brinquei quando vi seu suspiro de susto pela minha mão fria.

Meu celular vibrou depois de um tempo.

Meu corpo já estava aquecido, por isso, me afastei um pouco de Jason para ver a notificação.

Era uma mensagem de Sean perguntando se estava tudo bem.

Respondi imediatamente que sim, e que logo estaria em casa para não deixá-lo preocupado.

-Olha, já é meia noite- Jason disse ao olhar a tela.

-É- guardei o aparelho de volta no bolso.

-Que jeito péssimo de passar seu aniversário Call.

-Tem jeitos piores.

Ele olhou em meus olhos quando disse isso.

Como todas as vezes, foi intenso e cortante; meu estômago revirava e meu pulmão parecia não enviar oxigênio o suficiente para mim quando ele se aproximava.

Por um segundo, pensei que ele fosse me beijar. Mas ao invés disso, ele afastou um cacho que caia sobre meus olhos e depositou um beijo em minha cabeça.

-Feliz aniversário, Call.

Colega de quarto (para revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora