Capítulo 23

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Chegamos a fachada da fraternidade das UCU.

A casa estava decorada com pisca-piscas brancos que desciam em cascata do andar de cima.

O gramado estava cheio de outros calouros e ainda eram só nove da noite.

Gen e eu desviamos de garrafas de vodka e de vomito roxo pelo caminho até a entrada, onde duas outras pessoas bêbadas se agarravam como loucos.

Entramos na casa.

O barulho da música eletrônica lá fora era alto o suficiente, mas dentro era ensurdecedor.

As luzes de dentro eram flashs coloridos de rosa, roxo e azul, o que dificultava um pouco minha percepção (já que estou sem óculos).

Passamos pelo que provavelmente devia ser a sala, mas que agora servia como pista de dança para a maioria das pessoas.

Percebi que todos estavam fantasiados.

A maioria das vezes era uma referência sútil a algum filme ou série, ou apenas um arquinho com algo de e.v.a colado em cima.

Eu e Gen parecemos até ter exagerado demais.

Continuei seguindo Gen até a cozinha, olhando em volta e observando as coisas sem dizer um pio.

Esbarrei em algo nesse meio tempo, o que não é novidade.

Dois caras, pra ser exato.

Estupidamente musculosos e usando blusas do time da faculdade. (Eles provavelmente acham que isso já é uma fantasia)

Eles me olharam da cabeça aos pés e trocaram olhares, rindo logo depois.

-A se eu fodo essa bichinha- escuto um dos dois dizer antes de sumirem na multidão.

Eu congelo no lugar.

De repente eu pareci vulgar usando essas roupas.

Me senti enojado.

Minha cabeça entrou em pane.

Podia ouvir meu pai me chamando de bicha.

Podia sentir o peso de sua mão no meu rosto.

Podia sentir o gosto de sangue em minha boca.

Podia sentir o peso dele me empurrando para ajoelhar e pedir perdão a Deus.

Aquilo era demais.

Demais para mim.

-Calvin, você está bem?- Gen perguntou preocupada.

Assinto com a cabeça.

Será que ela viu?

Será q ela percebeu o que houve?

Ela consegue ver como eu me sinto?

Deus, ela nem deve ter visto os caras.

Chegamos na cozinha em pouco tempo.

Gen disse que iria cumprimentar uns amigos perto do freezer, mas eu mal escutei.

Fui em direção a bancada de quartzo, onde estavam amontados copos vermelhos e vodka barata, pura ou batizada.

-O quê tem nisso- pergunto pro garoto fantasiado de Deus grego que estava servindo os conteúdos nos coolers.

-Tem Vodka batizada com suco artificial e Vodka com..

Não estava escutando nada do que ele falava, eu só precisava beber alguma coisa.

Anestesiar meu corpo e bloquear minha mente das memórias.

-Me dá o que for mais forte- estendo o copo vermelho.

Ele solta um "uhul" de filme caipira e me entrega o copo já cheio.

Viro o conteúdo.

Deus, aquilo era forte mesmo.

Mesmo com o gosto doce do que seja lá que estivesse misturado ali, tinha descido queimando na garganta e esquentando meu estômago.

Provavelmente fiz uma careta, porque o garoto riu.

-Não costuma beber?

-Não- estendo o copo outra vez.

Ele arqueia as sobrancelhas, mas enche o copo mesmo assim.

-Então sugiro que pare antes de que esteja no gramado junto com o resto dos calouros.

Engulo o conteúdo outra vez.

-Essa é a ideia- digo enchendo o copo com a vodka na garrafa e sorrindo.

Merda.

Eu já estava ficando tonto.

Sou fraco para bebidas, mas também, não tive tempo o suficiente para me acostumar a elas.

O máximo de bebida que já me aproximei na minha cidade natal foi a o whiskey roubado do pai do Patrick Vaughn.

As coisas não acabaram bem para mim no terceiro copo.

Perdi a virgindade e acabei na cama do Sean sem saber como.

Agora eu estava no sexto copo?

Não sabia mais.

Meu corpo estava finalmente ficando entorpecido.

Minha cabeça ficou como um nevoeiro.

Os tapas, os xingamentos e as opressões se tornaram flashbacks, até se perderem no vazio enquanto eu dançava a música eletrônica.

Eu ri.

Fiquei feliz por ter esquecido.

Fiquei feliz por dançar e sentir a ponta da minha língua formigando.

Era quase mágico como meu corpo se mexia com o ritmo da música.

Flashback.

Eu estava beijando alguém.

Um garoto?

Deslizei a mão pelo corpo.

É, era um garoto.

Senti o sabor alcoólico na língua dele enquanto ele deslizava ela para minha boca.

Não parei quando ele apertou minha cintura.

E de repente eu estava beijando alguém outra vez.

Deslizei a mão pelo corpo novamente.

Garota.

A boca dela tinha gosto de gloss e cerveja.

O gosto era bom.

Segurei o pescoço dela e Deus sabe o que houve depois que eu parei de beija-lá.

Flashback.

-É Gen, deixa o garoto jogar um pouco de bear-pong.

Eu ri.

-Juro por Deus que se vocês fizerem alguma coisa enquanto eu vou ao banheiro eu arranco as bolas de vocês.

Flashbacks.

-Aí meu Deus eu adoro essa música- subo na mesa, empurrando os copos com as cervejas e dançando a música no ritmo lento.

"Tira a roupa", alguém disse.

Eu ri.

Por que não?

Comecei a deslizar o cropped improvisado com um sorriso provocante, escutando varios gritos em resposta.

-Merda. Calvin?

Me viro.

Era Jason.

-Sai dai agora.

Antes que eu pudesse dizer não, ele me puxou da mesa.

Colega de quarto (para revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora