Capítulo 61

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Todos os meus instintos diziam que eu deveria agarrar a mão de Jason e correr o mais rápido que eu pudesse dali. Mesmo a noite fria parecia muito mais convidativa do que uma hora se quer na casa.

Minha mãe ainda mantinha um olhar de leve desdém para ninguém especial. Apesar de seu rosto impecável não demonstrar nenhuma emoção, eu sabia que ela nos julgava silenciosamente. Ela capturava com precisão cada detalhe em nós dois, como se aquilo lhe servisse de utilidade para algo em algum momento.

Por um longo momento, ela não tirou os olhos de Jason. Especialmente de suas tatuagens. Algumas delas receberam leves franzidas de suas sobrancelhas escuras, como a caveira em seu pescoço. Tive que suprimir a vontade de entrelaçar nossos dedos, especialmente quando  ela decidiu analisar a mim.

-Seu cabelo precisa ser domado, está terrível- foi tudo que ela disse.

Não que eu esperasse um abraço caloroso de uma tradicional mãe americana; que usava suéters de lã bregas que combinavam perfeitamente com seus sorrisos gentis. Não, mamãe não era assim.

Ela era totalmente italiana vestindo meia-calças pretas e um conjunto espesso da mesma cor. Ela nunca usava adornos, não que ela não quisesse. Ela era secretamente vaidosa. Me lembro das vezes que eu pegava restolhos de batom carmesim em sua gaveta, ou até mesmo esmaltes escuros.

Ela simplesmente não podia. Vaidade era um pecado mortal, era o que meu pai dizia. De qualquer forma, ela não precisava de nenhum adorno. Seu pescoço e pulsos eram elegantes e finos, assim como suas mãos. Seus olhos azuis eram realçados por suas sobrancelhas escuras e arqueadas, e seu nariz longo entoava perfeitamente com seus lábios-coração.

A visão da frieza graciosa.

-Acho que meu cabelo esta ótimo assim, obrigado- obriguei minha voz a sair confiante, embora tenha passado ligeiramente para trás de meu namorado.

Suas sobrancelhas arquearam outra vez. Não pela minha resposta, mas por Jason. Ele devolvia o olhar frio que ela nos direcionava. Ninguém nunca consegue olhar minha mãe nos olhos por mais de trinta segundos inteiros. Eu nunca consegui.

Cogitei a ideia de fugir outra vez.

-É melhor entrarem se não quiserem pegar um resfriado- disse por fim, nos dando espaço para passagem.

Eu não disse nada ao me esquivar por Tucker e me dirigir para o lado de dentro, onde o interior aquecido me esperava junto de uma iluminação amarelada. Eu pude ouvir os passos duros de Jason acompanhados aos cliques de salto de minha mãe logo atrás de mim.

A casa continuava a mesma também. Intocada.

Ainda tinha aquela atmosfera vazia. Parecia sempre estar frio aqui de algum jeito, mesmo com os aquecedores ou a lareira. Sempre escura demais. Falsa demais com as variadas fotos da família reunida com um sorriso estampado.

Eu me lembro bem de que não estava feliz em nenhuma das vezes.

-Seu pai está na sala- minha mãe anunciou do parapeito do cômodo, subitamente me tirando de meus pensamentos. Movi meus pés do saguão a frente.

Enfrentar minha mãe era mais simples. Eu sabia lidar com ela. Sabia como as coisas eram.

Com meu pai não. Eu nunca soube, e provavelmente nunca saberei lidar com ele. Ele sempre vai conseguir privar o ar de meus pulmões com um rolar de olhos, sempre vai conseguir me fazer tremer com algumas poucas palavras.

Ele parecia assustador sentado na poltrona de frente à lareira, com aquele olhar que fazia alguma parte de mim se perguntar se eu havia feito algo errado que eu talvez eu não me lembrasse, outra parte podia jurar que ele lia meus pecados. Assustador. Assustador era a palavra que eu descreveria seus grandes olhos escuros que brilharam levemente ao ver o homem ao meu lado.

Colega de quarto (para revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora