Capítulo 48

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Depois da bomba com Jason as semanas tem sido estranhas. Ele parou de dormir tanto fora, mas agora ele trazia desconhecidos para casa outra vez. A gente ainda não tem se falado e eu meio que me sinto culpado pelas coisas que disse para ele. Acho que ele não merecia tudo aquilo, mesmo sendo um pé no saco.

Eu estava tão cansado desses joguinhos com ele. É como se estivéssemos em um loop infinito. Nós nos divertimos, nos aproximamos e depois nos afastamos. Do jeito que eu disse parece que eu gosto dele.

Eu não gosto dele. Eu o odeio.

Mas talvez eu estivesse pensando nisso porque eu tenha saudades de.. brigar com ele. Ou de qualquer coisa dele.

Eu desci as escadas, relutante e com o rosto inchado do sono. Eu mordia meu lábio inferior, esperando que ninguém saísse do quarto dele. Minha cabeça latejava pela ressaca da noite anterior.

Quando eu disse para mim que nunca mais iria em uma fraternidade, eu estava blefando. Estar chapado era a única parte boa do meu dia. Eu esperava por isso a todo momento. A sensação de despreocupação. Como se nada importasse. Nada importava. Naqueles momentos eu não me preocupava com Jason, a faculdade, meus pais ou qualquer outra merda. Naqueles momentos, os demônios que me atormentavam pareciam não estar ali...

Talvez meu estômago estivesse embrulhado por isso, afinal.

Eu não sabia o que deveria fazer agora, então eu apenas me sentei na cadeira giratória e bebi o chá que fiz no dia anterior. Estava péssimo.

Escutei a porta de Jason abrir momentos depois, e eu me odiei por sentir o embrulho no estômago, e o desconforto ao respirar quando eu o vi atravessar para cozinha.

Droga, por que ele devia ser tão lindo com aquela cara de marrento sonolento enquanto procurava a aspirina?

Que ódio.

-Então..- eu comecei, sem nem perceber que estava falando até o ver me encarando com um ponto de interrogação estampado no meio da testa. Suspirei.

-Quando você pode me entregar sua metade do aluguel?- eu perguntei. O que era estúpido, já que o aluguel estava longe de vencer. Talvez toda a bebida que eu tenho tomado ultimamente tem afetado meu cérebro.

Apesar disso, ele não protestou. Apenas me avaliou com aqueles olhos pretos como o café que ele virava junto as pílula ( que aliás, eu não o vi preparar).

-Você não vai dizer nada?- eu pergunto, depois de um tempo ainda desconfortável com ele me encarando.

-E o que eu deveria falar?- ele diz para mim, a voz rouca por ter acordado recentemente.

Me reviro no lugar quando ele se põe a minha frente. Os cotovelos dele postos no balcão.

-Eu não sei. Talvez um "que se foda Calvin, eu não tenho que te dar nada"- eu disse, falhando miseravelmente ao tentar imitar sua tonalidade de voz.

Eu vi o canto de sua boca subir de relance, mas ele ainda me queimava com o olhar.

-Para começar, eu não falo desse jeito- ele diz, andando para o quarto enquanto falava. Ele me parou com a mão quando tentei entrar junto e tudo que eu quis fazer era cavar um buraco até o lençol freático e me afundar nele. -Aliás, aquela frase nem faz sentido- ele termina.

Considerei de novo se as bebidas estavam mesmo me afetando quando reavaliei a frase que tinha dito a momentos atrás, enquanto Jason estava no quarto.

-Aqui- ele disse, depositando o bolo amassado de dinheiro na minha mão.

-Obrigado- eu digo.

O ar a nossa volta parece ficar tenso. Ele continua a me encarar com sua cara de mal e eu tento desesperadamente puxar ar para os meus pulmões e desviar o olhar. Ele umedece os lábios.

Colega de quarto (para revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora