Ironia do Destino

Casa

Os dias que seguiram após a minha saída do hospital foram quietos e muito longos, eu precisava de repouso e Victor juntamente com Rafaella me fizeram ficar intocada dentro de um apartamento por dez dias, era uma tortura, eu sentia que aqueles dias se tornaram meses.

"O que os olhos não veem, o coração não sente".

Caroline estava longe de mim, não me procurou mais depois da sua ligação após minha alta do hospital, acreditava eu que ela estava envergonhado demais e não tinha forças para me procurar. Eu até cogitei ir atrás dela, mas eu estava sofrendo por um termino que a mesma havia causado e o meu ego não deixaria eu ir atrás. Mesmo quando sentia falta de suas risadas, da forma como ela conseguia alegrar qualquer ambiente, de como ela sempre conseguia fazê-lo cozinhar para ela apenas com alguns beijos. Ele sentia falta dela, por completo. Mas eu não voltaria atrás, não agora.

-- Você realmente não vir com a gente? -- Eu perguntei assim que Patrick entrou no quarto – Eu e Rafaella estávamos arrumando as malas para passar alguns dias na fazenda de Billy, antes que nossa vida se tornasse uma completa bagunça com os shows da nova turnê.

-- Eu já disse mil vezes, Day. Eu tenho muitos compromissos aqui, não posso simplesmente largar tudo o que eu tenho e ir com vocês, mesmo que seja uma ótima proposta. -- Ele respondeu com a voz calma, mas sua frustação era nítida em cada palavra.

Eu sacudi a cabeça tentando esquecer a cena e sorri ao ver Patrick com a feição de frustração. De fato eu também estaria frustrada ao ver meus amigos viajando e eu ficando por minha vida estar uma completa bagunça. Mas coloquei em sua cabeça que teríamos varias oportunidades de viajar juntos pela turnê, logo vi a feição do homem mudar para sorridente.

-- Eu estou animada para ir, tem algum tempo que não os vejo. -- Afirmei para Rafella. -- Vai ser uma surpresa chegar lá para o aniversario de Olivia, eu realmente estou feliz.

-- Faz muito tempo que você não os vê? -- A mulher perguntou colocando a mala fechada encima da cama. -- Me conte isso enquanto tomamos um café. -- Rafaella afirmou me puxando pela mão até a cozinha.

Naquele momento eu me permiti sorrir com felicidade, com alegria. Ela estava sendo o meu motivo a admiração que explodia dentro do meu peito e refletia tudo em forma de sorrisos.

– Faz nove meses que não os vejo. -- Respondi chateada. -- A ultima vez fui a fazenda de Billy por escape, eu precisava fugir do caos que era Caroline. -- Afirmei bebericando o meu café.

-- Nao se martirize por isso Lima!

— É difícil não fazer Rafa. — Afirmei desanimada.

— Se lembra quando eu disse que você fumava como quem sabe que vai morrer e não tem nenhum medo disso. -- A morena questionou e eu apenas afirmei com a cabeça. -- Eu sei que você está pensando que só está indo para lá para usar eles de escape novamente, mas não se engane porque a saudade da Olivia esta ai em algum lugar.

-- Mas...

-- Sabe, Dayane,  eu acho que você vai viver o suficiente pro mundo te conhecer, Obvio que sua alma tem que viver o suficiente pra escreverem em muros sobre o quão louca você é. Mas você não acredita no que falo? -- Rafa me interrompeu.-- Se lembra quando a gente só saiu quando você tinha dinheiro pra voltar pra casa e nossos amigos estavam doidos demais ou bêbados demais? A mulher afirmou e eu gargalhei me lembrando desse dia. --Eu sabia que você não curtia muito estar na plateia de lugares com muita luz e música alta e pessoas se beijando. Novamente eu peguei você pela mão e a gente foi à praça e passou duas horas observando o chafariz. -- ela sorriu me encarando. -- Você me usou de escape aquele dia porque estava esgotada, eu sabia disso e mesmo assim achei uma experiência inédita.

-- É diferente Rafa... -- Disse interrompendo a mesma.

-- Por que? Você me usa de escape todos os dias, mas sempre deixou claro que gosta daqui. — Ela afirmou apontando para o seu coração. -- Billy soube que você o odiava, mas lhe recebeu de braços abertos e foi sincero sobre sua vida. Olivia sempre deixou claro que queria vê-la sempre que possível, e todos de lá gostam e querem a sua presença perto. Tem certeza de que usa-los de escape é uma coisa tão ruim assim?

Às vezes a gente só precisa de uma boa amizade e um café, para suportar o peso de sentir.

Sim, eu sei que algumas pessoas que passam por nossas vidas valem o mundo. Com tudo, tudinho dentro, e, dentro do mundo tem um universo, e nós damos muitos nomes tais como sentimento, emoção, sensação. A mania de nomear vem da estranheza e curiosidade humana em catalogar coisas. Tudo precisa ter nome e significado. Não entendo, basta sentir. Sentir, sentir e sentir. E quando o sentir estiver indo embora, sinta de novo.

Depois do nosso café ficamos a espera de Victor para seguirmos o caminho para a fazenda de Billy, iriamos de carro e tínhamos previsão para chegar lá em algumas horas. Enquanto eu esperava passei o dia inteiro entrando e saindo da conversa com Caroline no celular, escrevendo e apagando, tentando criar coragem para enviar uma mensagem, mas sempre quando o assunto era ela, eu travava. Não conseguia seguir em frente, mas entendia que superar as dores e imaturidades seria melhor pra gente. Eu juro que tentei esquecer, e por mais que eu quisesse, tudo, tudinho, sempre me lembrava ela. Eu diria para todo o planeta terra o quanto sou grata por ter a conhecido, só que não sei falar todas as línguas. É tão triste, eu grito internamente que esperava o tempo nos dizer o que era melhor, só que os ventos não ajudam, sopram ao contrário da direção dela, e ela não ouve. Mas tudo bem, eu minto todos os dias que não a amo tanto.

-- Ainda falta muito? - Victor perguntou pelo que parecia ser a milionésima vez nas ultimas oito horas. Apesar de ter sido algo muito impulsivo e chato, eu gargalhava com a impaciência do garoto.

-- Você é tão impaciente... - Rafaella disse rindo um pouquinho enquanto observava a paisagem sobre sua janela. Ela tinha os cabelos presos em um rabo-de-cavalo no topo de sua cabeça, e vestia uma camisa muito maior que ela, e que com certeza apenas era usada enquanto estava muito à-vontade. Por um segundo eu estava quase me perdendo na imagem da garota atrás quando a voz dela soou outra vez pelo carro. -- A gente está quase chegando, li na placa a entrada da cidade.

-- Olha, você sabe ler, o que é uma surpresa, já que você se interrompe a cada dois segundos enquanto tenta ler esse livro. -- Disse encarando ela pelo retrovisor.

-- Vai ser ferrar. -- Ela fingiu um tom irritado, mas as pequenas ruguinhas em volta de seus olhos entregavam sua vontade de sorrir. -- Nós estávamos realmente viajando juntos pela primeira vez, durante aqueles dias que ficaríamos ali, seriam apenas nós três e isso me tranquilizava um pouco. Nós rimos e conversamos a madrugada inteira sobre tudo e mais um pouco, eles me proibiram de tocar no meu celular, ou coisa parecida que era sujeito a entrar em contato com a ruiva, eu acreditava que isso me faria bem.

Havíamos acabado de chegar de uma viagem de mais de sete horas de duração. Eu conseguia sentir cada um de meus músculos tensionados e meus olhos cada vez mais pesados, não dormia há várias horas e tinha sido uma das semanas mais estressantes de minha vida. Mas eu precisava me manter em pé porque chegamos bem na hora do aniversario de Olivia, e não tinha mais nada no mundo que desejasse além de estar ali comemorando junto dela.

-- DAY!!! -- A garotinha gritou da varanda da casa ao me ver chegando, você veio. -- A loirinha correu em direção ao meu abraço. -- Por que não avisou que viria? Eu teria preparado os docinhos que você gosta. -- Olivia afirmou me abraçando de novo.

-- Eu queria fazer uma surpresa, e trouxe alguns amigos para me ajudar com isso. - Conheça Victor e Rafaella, Olivia. -- Disse apresentando os dois e observando a garotinha abraçar os dois carinhosamente. -- Eles que vão te ajudar com a turnê? Você me disse que vai me levar em um show seu, eles podem ir também? -- A loira afirmava tudo sem parar, e eu apenas sorria com a animação da mesma.

-- Uma coisa de cada vez garotinha, vamos curtir essa sua festinha e amanhã nos combinamos todos esses planos preparando vários docinhos para a gente, o que acha?

-- Eu estou feliz que você está aqui Day, obrigada por tornar esse o melhor aniversario de todos.

-- Vem, vamos entrar pois tenho muito o que mostrar para vocês. -- Afirmei chamando meus amigos para curtimos o restante da noite.