Minha decisão

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"Mais o fato é que a vida humana é feita de escolhas, e algumas delas não podem ser evitadas."


Eu sempre acreditei que não existisse pessoa mais impulsiva que eu. É a mais pura verdade; eu sou assim, faço e falo tudo que me dá na telha, sem pensar duas vezes. Às vezes isso dá errado, o tiro sai pela culatra, mas o que posso fazer? Isso é algo em mim que não consigo mudar. E, por mais que isso me prejudique às vezes, sigo meu coração. Todas as decisões que tomo são sentimentais, são movidas por algo mais profundo.

Coloco verdade em tudo o que sinto. Só que, ao fazer isso, acabo criando expectativas demais. Vocês sabem que expectativas são traiçoeiras, não é? Elas têm o poder de desmoronar tudo.

Ainda assim, continuo. Sei que quem realmente quer ficar ao meu lado vai ficar, independente de qualquer circunstância. Isso é o que me fortalece. Sigo em frente, mesmo tropeçando de vez em quando, porque sei que a vida é uma construção contínua. Esse tem sido o meu lema ultimamente: estou em obras. E enquanto eu viver, continuarei assim, sempre evoluindo.

Estamos nas mãos do Destino, do universo, de uma força superior, sei lá. Às vezes me vejo cheia de falhas e me sinto como um quebra-cabeça incompleto. Mas então lembro que errar faz parte, que estamos sempre aprendendo. Isso me alivia um pouco, tira um pouco da pressão que coloco em mim mesma. A perfeição é um processo longo, e, sinceramente, não tenho pressa de chegar lá.

— Então, quer dizer que ela te beijou? — Victor perguntou, com os olhos arregalados de curiosidade.

Dei uma risada, incapaz de segurar a felicidade estampada no meu rosto.

— Sim, ela me beijou, e eu achei que fosse desmaiar. Foi tanta emoção que acho que meu coração pulou uma batida — respondi, sorrindo ao lembrar do momento.

Ele fez uma expressão de surpresa divertida, cruzando os braços.

— E foi bom? Porque, olha... Com essa sua cara ao entrar aqui, parecia que você tinha visto um fantasma! — ele brincou, rindo.

Ri junto, sentindo meu rosto aquecer.

— Foi maravilhoso, Victor. Inacreditável, na verdade. Eu jamais imaginei que ela tomaria a iniciativa.

— Ah, Dayane, como você não percebeu? Ela sempre foi curiosa sobre você, sempre dava um jeito de saber da sua vida. Talvez estivesse interessada mais do que você pensava.

Suspirei, hesitante.

— Talvez. Mas é que ela sempre foi firme ao dizer que não tinha atração por mulheres. Eu já tinha até desistido, sabe? Então, para mim, foi inesperado quando ela se aproximou e simplesmente... me beijou.

Victor me observou com um sorriso compreensivo e disse, com um tom mais sério:

— Às vezes, o sentimento é maior do que a lógica, Dayane. E talvez, o carinho que ela sente por você tenha virado algo mais forte. — Ele pausou, me analisando. — Ela gosta de você.

Baixei os olhos, admitindo para mim mesma o medo que sentia.

— Eu sei. Sinto que ela se importa. E isso é o que me assusta. — Respirei fundo, como se o peso das palavras me pressionasse. — Tenho medo de decepcioná-la com tudo o que ando fazendo.

Victor balançou a cabeça, compreensivo, mas direto.

— Amiga, não me leve a mal, mas... qualquer pessoa se decepcionaria com suas escolhas, principalmente com esse trabalho perigoso.

Fiz uma careta, pegando a cerveja dele.

— Que escolha eu tenho? Esse emprego é a única maneira que encontrei para conseguir dinheiro rápido.

Ele bufou, visivelmente frustrado.

— Dinheiro que quase custa sua vida, Dayane! Já pensou em procurar um emprego normal, longe de tanta confusão? Que tal trabalhar numa empresa de verdade?

Olhei para ele, soltando um suspiro cansado.

— E vou fazer o quê, Victor? A única coisa que sei fazer é cantar e tocar.

Ele me lançou um olhar sério, mas carinhoso.

— Já te falei que a banda tem espaço pra você. Lima, você tem talento, muito talento. — Ele me deu um empurrãozinho no ombro. — Tudo bem, o dinheiro não é muito, mas dá pra viver em paz, longe de toda essa bagunça.

Pensei por um momento, mordendo o lábio.

— Vou pensar, tá? Prometo que vou pensar. — Olhei para o horizonte, distraída. — Só preciso que a Lauren pare de me envolver nessas encrencas. Quem sabe aí eu consiga me afastar desse clube de lutas clandestinas de uma vez por todas.

Victor suspirou, cansado.

— Deixa essa Lauren de lado, Day. Ela só te afunda mais, você sabe disso?

Olhei para ele, sem responder. Sabia que ele estava certo. Lauren era um redemoinho que me puxava para lugares e situações ruins, sempre me prometendo dinheiro fácil. Ela dizia que eu era esperta e que juntas faríamos uma fortuna. E, de fato, a gente fazia dinheiro, mas eu sempre acabava endividada, presa a ela.

Meu celular vibrou, e ao ver o nome dela na tela, soltei um riso amargo.

— Falando no diabo... — murmurei, atendendo.

— Fala, Jauregui. Não me diga que o combinado deu errado.

Ela riu, cínica, do outro lado da linha.

— Dá pra relaxar, Dayane? Tudo está saindo conforme o plano. Daqui a dois dias, vamos estar nadando em dinheiro, e você estará livre das suas dívidas.

Cerrei os dentes, tentando manter a calma.

— Esse vai ser meu último esquema com você, Lauren. — Minha voz saiu firme. — Depois disso, você limpa minha barra com a polícia, entendeu? Esse foi o combinado.

Ela riu, como se estivesse se divertindo com meu tom sério.

— Pode deixar, Lima. Em dois dias, você vai estar livre de tudo. — Ela deu uma pausa dramática. — Mas sabe, a gente sempre acaba precisando de uma parceira de confiança. Nunca se sabe...

Fechei os olhos, respirando fundo.

— Não conte com isso, Lauren. — Sorri, mesmo que ela não pudesse ver. — Considero isso uma promessa.

Ela gargalhou, num tom sarcástico, e desligou sem mais palavras. Fiquei olhando para o celular, uma sensação de inquietação tomando conta de mim. Eu sabia que, enquanto Lauren estivesse por perto, o caos nunca terminaria.

Mas eu estava decidida: dessa vez, seria diferente. 

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