Viagem

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Se eu te disser todo minuto, todo segundo, toda hora e todo dia o quão bonita você é, me promete que um dia você vai acreditar?

— Espero que esteja feliz com sua decisão. — Escutei Billy indagar enquanto eu pegava as minhas mochilas.

— Se lembra quando eu cheguei aqui, sem nada e apenas com uma mochila nas costas? — Questionei o encarando. — Você me questionou a minha felicidade e a minha decisão. — Sorri. — Eu não consegui responder o seu questionamento. — Afirmei colocando minha mochila nas costas. — E hoje, pela primeira vez em toda a minha vida, eu me sinto feliz em voltar pro meu lar.

— Então você vai voltar a Nova York? — Billy perguntou sorridente.

— Nova York não é a meu lar Billy. — Sorri em afirmar. — Caroline é o meu lar, e eu estou decidida a voltar para ela.

— Volte sempre Day, saiba que isso aqui também pertence a você! — Billy disse me puxando pra um abraço. — Espero você para o Natal, e traga Caroline também.

— Cuide bem de Olívia Billy, ela é uma garota de ouro. — Afirmei sorridente. — Diga a ela que voltaremos para o Natal.

— Obrigada... — Ele afirmou — Por cuidar tão bem da minha filha.

Era hora de voltar pra casa, era hora de voltar para Caroline. E eu jurava que nunca mais sairia de perto dela.

Pela primeira vez em muito tempo, pensei em mim. Estava voltando pra casa, em um ônibus lotado, mas tinha conseguido um lugarzinho na janela. Encostei minha cabeça no vidro, abracei minha mochila e coloquei meu fone e selecionei minha playlist favorita. Nem sei quanto tempo se passou, mas em um farol qualquer eu olhei pro céu.

Sim, eu não entendia nada de astrologia, mas algo parecia diferente. A lua estava linda, as estrelas pareciam brilhar mais intensamente. Aquilo mexeu comigo. Então comecei a pensar em mim. Em tudo o que tinha acontecido para chegar naquele exato momento. Em quem eu queria ser há dez anos e quem sou hoje. Será que amanhã eu vou ter orgulho de quem fui hoje? Será que a lua tá mais bonita ou eu que parei de dar atenção para ela? Qual foi a última vez olhei pro céu querendo apreciar e não pra reclamar que tá muito sol ou chovendo demais? Quando percebi já estava fazendo planos para o dia seguinte, para os anos seguintes. O ônibus andou no meio de tantos questionamentos e por algumas horas, eu perdi a lua de vista, mas sabia que ela estava ali iluminando a noite de alguém. E isso bastava. Não precisava vê-la, tinha a sua lembrança comigo e é isso que irei carregar pelos próximos dias quando quiser pensar em algo belo. Então, cheguei a uma conclusão: todo final é um recomeço. E eu não tinha me permitido recomeçar. Estava tão presa e pensando tanto no final da minha família, que esqueci qual era a minha parte nisso tudo.

Eu sei, eles sempre vão ser as minhas estrelas nessa noite tão linda. Vão ser sempre a lembrança que irei carregar, sempre será a felicidade de ter acontecido. Mas hoje, quando comecei a pensar em mim percebi que isso é mais importante. A gente não vive de lembranças. A gente não fica só lembrando da lua. A gente acompanha seu ciclo e cada dia tem uma sensação ao vê-la. Eu precisava disso.
Eu estava recomeçando, e o meu início seria a partir dela!

Eu parei na fachada do nosso prédio, adentrei e dei boa noite para o porteiro.

— Você sumiu Dayane, achei que tinha se mudado. — Escutei o Sr. Pedro afirmar. — Fico Feliz que voltou.

— Eu nunca fui embora Pedro, apenas precisei resolver algumas pendências. — Sorri e logo adentrei a porta das escadas.

Subi as escadas cansada, mas sorrindo por saber que teria Caroline perto de mim novamente. Cheguei à porta de nosso apartamento e dei duas batidas na porta, esperei alguns segundos antes que eu pudesse ver o seu rosto iluminado novamente.

Ela estava ali, bem na minha frente. Ela estava tão linda!

O tempo podia passar, ela podia me odiar; mas eu sentia meu coração quase pular para fora do peito, sentia as borboletas voares por todo o meu estômago, um sorriso sorriso bobo involuntário ainda surgiu no meu rosto quando eu a vi parada ali.

— Oi... — Disse encarando os olhos brilhantes da ruiva em minha frente. — Eu voltei pra você.

POV Caroline

Já se passavam das dez da noite e eu me via  bebendo uma garrafa de vinho no meu sofá observando uma estrela qualquer que estava exposta no céu. São dez da noite e eu estou bebendo uma garrafa de vinho, Sozinha.

Eu suponho que é, exatamente, a essa hora, que os portões do inferno devem estar abertos e demônios e fantasmas caminham sobre a terra.

Em forma de lembranças, essa a hora que me vejo solitária, Ás dez da noite, bebendo vinho que me custou exatos dezoito reais. Me faltam cigarros, me faltam um bocado de coisas, e eu
sinto que todas essas sensações são necessárias.

Eu não quero me forçar a nada, nem a ficar triste, eu possuo muito desses momentos, sensações, ondas de baixa estima e insegurança, lembranças e medos, quebram-se sobre mim. Tomo um vinho sozinha porque não há nada mais o que fazer, pois, espero que seu passar acompanhe o passar das horas. Acompanhe meus sonhos que seguem me fazendo inveja, de suas realidades tão distorcidas e tão melhores que a minha. Eu espero a saudade passar, eu espero essa visão ruim de mim, passar. Eu espero a solidão soltar minhas mãos, como todas as outras soltaram. Não há nada charmoso em mim, a essa hora. Cada sentimentalidade me suga parte de minha energia. Cada sentimento clichê me toma um pouco da atenção, rouba parte do brilho. A solidão me chama pra dançar neste momento. Eu, tão embriagada, cedo.
Cansada de lutar inutilmente, eu passei a ceder.

Se ela estivesse aqui, poderia fazer de mim o que quiser, o sentimento por ela percorre meu corpo feito sangue nas veias. Feito o veneno seguindo com o sangue, apenas esperando o antídoto chegar. Esperando o tempo passar. Esperando qualquer despertar. Até que álcool seja expulso de meu organismo, e a solidão vai junto. Até, eventualmente, ela voltar.

Toc toc — Alguém bate na porta e eu me vejo revirando os olhos por tal incômodo.

Caminho até a porta com cara de poucos amigos.

Abro a porta e a vejo.

Eu estava sonhando. E ela estava sorrindo.

Era o universo resolvendo me dar uma chance, dar uma chance pra nós.

Eu não sabia o que fazer, além de encarar os seus lindos olhos.

— Oi... Eu voltei pra você.

Sim Dayane, você voltou pra mim. E eu estou pronta para dar início ao nosso romance.

Ironia do Destino Onde histórias criam vida. Descubra agora