Coragem, querido coração.

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Porque eu tenho a sensação de que todas as vezes em que eu te ver, será como a primeira vez.

POV Caroline

Ali estava eu, deitada sozinha na cama, sentindo o vazio ao meu lado. Passei a mão pelo lençol frio onde, até pouco tempo atrás, o corpo quente de Dayane estava, e um pensamento se repetiu na minha mente como um eco insistente: Estou ferrada. Eu suspirei, frustrada. E é claro que o pensamento dela, que parecia sempre estar me cercando, voltou com tudo. Porque, na verdade, não havia um segundo do dia em que Dayane não me ocupasse, de algum modo.

E então, enquanto fitava o teto do quarto, o filme da nossa história passou diante dos meus olhos, nítido, cheio de memórias vívidas. Não era uma daquelas histórias bonitinhas de conto de fadas, onde ela entrou na minha vida com flores e palavras doces. Ela chegou como um furacão. Uma mulher com aquele jeito canalha e irresistível, que fazia questão de me lembrar – mesmo sem palavras – que ela era única, que nenhuma outra poderia ser tão bonita, tão cativante como ela. Ela aparecia com aquele sorriso de quem sabia exatamente o efeito que causava, e toda minha resistência parecia desaparecer em segundos.

Eu me lembro de cada momento, de como, ao longo de tantos dias, ela foi se tornando minha companhia, minha distração favorita. Dayane se transformou na razão de eu querer passar as noites de sábado jogadas no sofá da sala, assistindo filmes e rindo das piadas da Marvel, ou conversando sobre tudo e sobre nada. E de todas as histórias que já criei para mim mesma, ela era a única pela qual eu sentia arrependimento, arrependimento de não ter deixado acontecer do jeito que deveria.

Suspirei, e me dei conta de uma verdade que insistia em me assombrar: eu contaria qualquer história para ela. De todos os encontros casuais e romances que não deram certo, Dayane era a única que eu não precisei procurar. Ela só... apareceu. E bastaram poucos minutos para eu entender que ela era diferente. Mas então eu aceitei aquele acordo tolo – de que seria algo passageiro, algo para esquecermos no dia seguinte. Mas a verdade é que, mesmo que ela quisesse esquecer, eu nunca fui capaz de fazer o mesmo. No fundo, eu queria que ela lembrasse, que aquela noite ficasse gravada em nós.

Estou ferrada mesmo, pensei, fechando os olhos com um pouco de raiva. Cada parte de mim pedia, desesperadamente, que eu fosse forte o bastante para ignorar os sinais, que eu conseguisse manter meu coração a salvo. Eu queria que todas as minhas células se unissem para barrá-la, mas não foi isso que aconteceu. Elas falharam. Eu falhei.

E é claro, no primeiro beijo, eu sabia que estava perdida. Eu só sabia que a queria, que queria cada detalhe dela na minha vida.

Um suspiro pesado me tirou dos meus pensamentos. Resolvi levantar e tomar um banho frio, como se isso pudesse lavar um pouco dessa bagunça de sentimentos que me consumia. Vesti uma camiseta confortável, dessas que eu usava para ficar em casa, e fui até a cozinha, buscando um pouco de paz.

Foi então que eu a vi, Dayane, de costas para mim, recostada na bancada com uma xícara de café nas mãos. Senti o coração dar um salto. Ali estava ela, com uma expressão indecifrável. Estranho... ela estava mais distante do que de costume, como se algo a estivesse segurando.

— Oi... — eu disse, tentando esconder minha surpresa.

Dayane se virou para mim, um tanto hesitante. Mas não era apenas isso. Havia uma tensão nos ombros dela, uma espécie de desconforto que ela não parecia conseguir esconder. Ela evitava meu olhar, como se procurasse uma desculpa para escapar. Deixei esse pensamento de lado, peguei meu celular em cima da bancada da sala e notei uma notificação de Tayler na tela, de fato eu odiava mensagens de ex namorados. Resolvi ignorar e coloquei o aparelho novamente na bancada. 

Antes que pudesse perguntar o que estava acontecendo, vi o celular ascender novamente. Peguei-o sem pensar muito, e foi aí que tudo fez sentido. Uma mensagem despretensiosa, mas que parecia carregar muito mais do que palavras. E ao lado, no canto dos olhos, vi que Dayane notou a notificação também.

Ela franziu o cenho, desviando o olhar, como se algo tivesse finalmente se encaixado para ela. Eu percebi ali, naquele segundo, o porquê do seu afastamento, da frieza repentina. Ela pensava que eu ainda estava envolvida com alguém do passado, que a história que tínhamos era apenas mais um capítulo passageiro.

Tentei respirar fundo e desfazer o mal-entendido, mas tudo o que saía era um nervosismo que só parecia aumentar a distância entre nós.

— Não é o que você está pensando... — comecei a dizer, mas as palavras pareciam tão frágeis diante daquele silêncio.

Dayane apenas assentiu, como se a ideia de mim e meu passado fossem o suficiente para afastá-la. E, de repente, todo o sentimento que guardei começou a pesar. Eu a queria na minha vida. Eu sabia, com uma certeza esmagadora, que queria ela comigo em cada momento, em cada detalhe. Mas, ao vê-la ali, tão distante, não consegui encontrar as palavras para dizer isso.

Então fiquei quieta, apenas observando ela tomar todo o conteúdo da sua xícara em um só gole, me encarou e simplesmente passou por mim sem falar absolutamente nada.

— Não vai falar comigo? — Questionei.

— Oi! — Ela disse e foi em direção à porta da saída.

— Você não me deixou nem explicar e já ficou com raiva! Isso é hipocrisia. —Tentei argumentar mas aparentemente o meu comentário só piorou tudo. 

— Hipócrita? Eu? — Ela sorri sarcástica. — Foi você que me disse que era hétero e na primeira oportunidade que tem, transa comigo. — Ela afirmou me encarando, não vou negar que mereci essa. 

— Me respeita, Dayane! — Afirmei chegando mais perto. — Você está na minha casa, acho bom me tratar com o respeito que eu mereço. — Afirmei impulsivamente, a morena me olhou e arqueou as sobrancelhas com o comentário. 

— Você quer respeito? — Ela sorriu, aquele sorrisinho sarcástico de sempre. — Ontem você me implorava tudo, menos respeito.

Dayane não estava para brincadeiras, ela estava brava, e eu a conhecia muito bem para distinguir isso.

— Para de falar assim! — Falei e encarei os seus olhos profundos.

— Não interessa! É muita falta de respeito da sua parte, após a nossa transa o seu ex mandar mensagem! -- Não seja hipócrita você, Caroline! Isso não se faz.  

-- Por acaso tenho algum compromisso com você? -- Perguntei deixando a raiva falar mais alto. 

— Você não me pediu respeito enquanto gemia para mim. — Dayane disse e logo o arrependimento se estampou em seus olhos! — Carol... Me desculpa... — Antes que ela pudesse falar mais uma palavra, eu acertei um tapa em seu rosto.

— Vai embora! — Afirmei. — Sai daqui agora e não volte até repensar no que você falou! — Disse empurrando ela para fora do meu apartamento. Bati a porta e pude sentir minhas lágrimas descendo com vontade.

O meu coração sempre foi a maior parte de mim, os conflitos entre a razão e o coração sempre são exaustivos, mas meu coração sempre ganha a guerra. Não existe bandeira branca ou uma decisão mútua, meu coração manda em mim, ele é a minha essência e também a minha maior fraqueza. As lágrimas não resolvem meus problemas e muito menos concertam meus erros, mas por enquanto é o melhor que eu consigo fazer. São elas que expulsam minha frustração, são elas que me ajudam a me manter firme todos os dias.

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