Seguindo meu rumo

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Sentada no sofá, eu podia sentir o peso da conversa tomando conta de mim. A tristeza no olhar de Caroline era um golpe silencioso, uma dor que parecia piorar a cada detalhe que eu soltava, como se cada palavra minha a machucasse mais. Escondi o rosto entre as mãos, consciente de que as escolhas que fiz no passado eram irreversíveis. Agora eu estava prestes a abrir um capítulo sombrio da minha vida, e a presença de Caroline ao meu lado, tão atenta, me fez perceber o quanto isso também estava afetando-a.

— Então quer dizer que você conheceu Lauren depois do acidente com sua família? E ela te ajudou a sobreviver? — Caroline perguntou, o tom de voz dela hesitante, mas cheio de curiosidade.

Respirei fundo e olhei para ela. — Basicamente, sim. Eu já sabia de algumas coisas antes, mas Lauren me ensinou o restante e me ajudou a ganhar um certo... nome no tráfico. — Hesitei, observando sua expressão. — A gente se envolveu amorosamente e, por isso, tive alguns privilégios. Ela meio que juntou o útil ao agradável.

— Pera aí, você teve um caso com Lauren Jauregui? — Caroline estava chocada, os olhos arregalados. — Você sabe que eu poderia te prender por isso, né? — Um sorriso leve despontou em seus lábios, mas era evidente que a surpresa não era só brincadeira.

Eu sorri de volta, mas com um peso no peito. — Eu não me arrependo. Por mais difícil que tenha sido, Lauren me ensinou muito. Sem ela, eu provavelmente não estaria viva. — Minhas palavras saíram em um tom quase de gratidão. — Ela me livrou de muitas coisas...

Caroline ficou em silêncio, pensativa. Ao longo da conversa, percebi que ela não era egoísta, e talvez estivesse tentando entender o quanto uma adolescente órfã, sem ninguém para apoiá-la, poderia ser levada por um caminho como aquele. Ela parecia saber que, embora eu tivesse feito escolhas terríveis, a sobrevivência tinha me empurrado para elas.

Eu me ergui de repente, sentindo uma onda de desconforto. Comecei a andar de um lado para o outro, as mãos inquietas, meu coração batendo rápido. As perguntas que eu sabia que Caroline não ousava fazer ainda estavam ali, suspensas no ar. Será que eu me arrependia de ter alimentado vícios alheios? Será que pensei nas pessoas que podiam ter sido destruídas pelo que eu vendia? Quantas vidas eu impactei, quantas famílias foram partidas por causa do vício? A culpa queimava por dentro, e me vi incapaz de encará-la de novo.

Caroline levantou-se, determinada, e sua voz saiu firme, com uma mistura de preocupação e carinho. — Dayane, você tem talento, tem tanto potencial... Eu vejo uma pessoa incrível em você, alguém com uma vida toda pela frente. E você tem pessoas que se importam. Você tem... — Ela respirou fundo, os olhos fixos nos meus. — Você me tem.

As palavras dela pesavam, mas de um jeito doce, como um puxão gentil que eu não sabia que precisava. A expressão dela era séria, e a sinceridade em sua voz fazia meu peito doer.

— Você tem ideia de como foi sortuda de ter saído disso com vida? Eu sei que a vida foi dura pra você, mas... por favor, Dayane, entende que a maioria das pessoas que passam pelo que você passou ainda acham outras maneiras de lidar. — Ela se aproximou e, de repente, me puxou para um abraço. Eu podia sentir seu coração acelerado, e o peso da preocupação dela era quase palpável.

— Não se preocupe. Eu parei com tudo depois daquele último golpe no clube de apostas. — As palavras escaparam antes que eu notasse. — Consegui juntar uma grana suficiente e agora só preciso de um lugar pra ficar.

Ela se afastou ligeiramente para me encarar. — Você não vai mais ficar com o Victor?

Balancei a cabeça. — Não, já não tem mais espaço, e eu também não quero ser um fardo.

— Então... — A voz dela saiu hesitante. — Por que você não fica aqui? Sabe que eu moro sozinha, e adoraria ter você por perto.

Senti um aperto no peito, uma mistura de gratidão e receio. — Eu agradeço, Carol, de verdade. Mas você me conhece há tão pouco tempo... 

— Eu te conheço o suficiente pra saber que quero você aqui, e, além disso, prefiro ter você por perto pra garantir que não vá fazer nenhuma loucura. — Ela piscou, tentando aliviar o clima tenso, e um sorriso escapou de mim.

— Eu tava pensando em ir pra fazenda do Billy... fazer uma visita. Quem sabe, recomeçar de lá. — Suspirei, a ideia de fugir para longe parecia mais fácil do que enfrentar tudo ali.

— Não! — Ela foi firme, me interrompendo. — Lá é longe demais, e eles provavelmente vão achar que você só quer uma parte da herança. Não acho que eles te receberiam como você espera.

Apertei as mãos, frustrada. — Talvez eu queira, sim, mas isso é algo para o futuro... Não agora. — Sentei-me no sofá de novo, ainda lutando com meus pensamentos.

Caroline respirou fundo, e então, com uma leveza e um brilho nos olhos, disse, — Você junta suas coisas e vem pra cá. Eu trabalho o dia todo; você não vai me ver muito por aqui. Além do mais, você pode seguir seu caminho com a música, e estarei aqui pra apoiar.

Olhei para ela, tentando segurar a emoção. A ideia de ter um lugar seguro e alguém ao meu lado depois de tudo era algo que eu não achava que merecia. Ela me puxou pela mão e me guiou até o quarto de hóspedes, um lugar familiar para mim. Parei à porta, hesitante.

Ela me encarou com um sorriso leve. — Eu sei que isso pode ser demais pra você agora, Day... Não tô te pedindo pra aceitar de cara, só pra pensar no que é melhor pra você. — O tom suave dela, a gentileza, era quase mais do que eu podia aguentar.

Suspirei, olhando para ela, me esforçando para conter a enxurrada de sentimentos que me preenchia. — Eu aceito. — Minhas palavras saíram baixas, mas firmes, e finalmente, a expressão dela se iluminou.

Eu sabia que morar ali, com Caroline, significaria enfrentar não só meus fantasmas, mas também o novo sentimento que estava crescendo dentro de mim, algo que eu não sabia se ela compartilhava... mas algo que eu não podia mais ignorar.



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